FMI recomenda ao Brasil melhora em avaliação na concessão de crédito
O FMI (Fundo Monetário Internacional) recomenda ao Brasil aperfeiçoar os mecanismos de avaliação de crédito no mercado financeiro, tornando mais acessíveis as informações sobre tomadores de empréstimos para conter a crescente inadimplência.
As pressões no setor de crédito são a principal vulnerabilidade no sistema financeiro brasileiro hoje, afirma o FMI em seu Programa de Avaliação do Setor Financeiro (Fsap), realizado no país em março e divulgado nesta terça-feira.
O último Fsap pelo qual o Brasil tinha passado havia sido em 2002, mas desde a crise global iniciada em 2008 o instrumento se tornou compulsório para 25 países considerados sistemicamente importantes na economia global. A publicação ocorre com aval do governo brasileiro.
“Os dados mais recentes indicam que a pressão financeira ao menos sobre algumas residências pode estar aumentando”, afirma o FMI no relatório de avaliação.
Como exemplo, o fundo cita o uso mais frequente de cartões de crédito e cheques especiais –ferramentas para empréstimo mais caras, e normalmente não planejadas. O índice de inadimplência em empréstimos ao consumidor, ressalta o FMI, saltou de 5,6% em dezembro de 2010 para 7,6% em março.
“A expansão acelerada do crédito nos últimos anos sustentou o crescimento da economia interna e o aumento da inclusão financeira, mas essa expansão também poderia gerar vulnerabilidades”, afirma o diretor da missão ao Brasil e diretor-assistente do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, Dimitri Demekas.
O foco de preocupação, como o fundo já havia assinalado em seu relatório de avaliação da economia do país em geral, está no setor imobiliário, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, e no endividamento doméstico, dado o histórico de baixo índice de poupança, e a combinação de endividamento de curto prazo e altos juros.
REFORMAS
De forma geral, porém, o fundo avalia que os riscos de uma crise generalizada no sistema financeiro Brasil são baixos e que o país está bem blindado, caso as condições domésticas e globais não se agravem significativamente.
O país foi considerado medianamente vulnerável à piora do cenário global –seja uma deterioração da crise fiscal e de confiança na Europa, ou uma “aterrissagem brusca” (desaceleração abrupta) da economia chinesa.
Se tal cenário se sustentasse, ele poderia levar a uma restrição abrupta do mercado de crédito, alimentando o desemprego e, por conseguinte, a inadimplência.
O fundo recomenda ao Banco Central fortalecer o mecanismo para concessão de financiamento emergencial aos bancos no caso de crise no sistema financeiro.
Sugere ainda dar continuidade à reforma da governança do Fundo Garantidor de Créditos, enrijecendo os critérios de ajuda aos bancos e retirando de seu comando membros dessas instituições.
O país, após receber uma enxurrada de dólares no ano passado, também está exposto a uma reversão repentina dos fluxos de capital e a uma eventual estancada do comércio global, mas seria necessário um cenário de contágio agudo para abalar significativamente o sistema.
Por outro lado, o FMI constatou resiliência do sistema financeiro do país a uma queda repentina no preço dos produtos básicos por até dois anos –o que pode ocorrer no caso de desaceleração significativa na China, principal comprador das commodities brasileiras.
AUTONOMIA DO BC
Outra proposta chave é aumentar a autonomia do Banco Central, estabelecendo um mandato e critérios mais claros para uma eventual demissão do presidente da entidade, ainda que o FMI não tenha constatado interferência significativa do governo.
O fundo também recomenda, nos próximos dois anos, a criação de um organismo independente de monitoramento da saúde dos mercados para riscos sistêmicos (de contágio) e de gestão de crises, na expectativa de que os mercados financeiros no Brasil, hoje quase totalmente centrados nos bancos, se sofistique e se expanda.
Para Demekas, “existe o risco de que o sistema financeiro se torne vítima de seu próprio sucesso no país”.
Por fim, o FMI voltou a sugerir a revisão do papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com menos empréstimos a grandes empresas e maior financiamento à infraestrutura em parceria com bancos do setor privado.
Fonte: Luciana Coelho, Folha de S.Paulo