Royal Bank of Canada, maior banco canadense, está abandonando negócios na América Latina
O Royal Bank of Canada, maior banco canadense em valor de mercado, está abandonando negócios outrora promissores na América Latina e Caribe depois de ser envolvido numa série de investigações mundiais sobre lavagem de dinheiro, inclusive no Brasil.
Nos últimos 18 meses, o RBC fechou suas unidades de gestão de fortunas na América Latina devido a investigações sobre potenciais atividades de lavagem de dinheiro em suas contas em pelo menos três países, dizem pessoas a par do assunto. O banco também está fechando unidades de gestão de fortunas no Caribe.
A decisão do RBC de extinguir sua área de gestão de fortunas em alguns mercados ressalta como a crescente pressão dos reguladores para combater a lavagem de dinheiro está afetando o modo como os bancos fazem negócio ao redor do mundo. Reguladores de muitos países, incluindo Estados Unidos e Canadá, disseram que estão apertando a vigilância sobre a lavagem de dinheiro, em parte para reprimir o financiamento ao terrorismo e outras atividades ilegais.
O recuo do banco no Brasil, Argentina e Uruguai, que não foi explicado em nenhum comunicado, ocorreu um ano após o regulador dos Estados Unidos ter considerado que os controles do RBC contra lavagem de dinheiro são insatisfatórios, dizem as fontes.
Em novembro, o banco informou que estava fechando suas unidades no Caribe para se concentrar na América do Norte, Reino Unido e Ásia. Em janeiro, o RBC anunciou planos de comprar o City National Corp. , sediado em Los Angeles, num negócio de US$ 5,4 bilhões com o qual o banco pretende ganhar impulso nos EUA ao servir clientes ricos.
Em um comunicado enviado via e-mail, o RBC afirmou que trabalha dentro do sistema legal e regulatório de cada país em que opera. “O RBC tem um histórico sólido de cumprimento das normas”, inclusive contra lavagem de dinheiro, diz o comunicado. Representantes do banco não quiseram responder perguntas mais detalhadas para este artigo.
O RBC está em processo de fechar seus escritórios da área de gestão de fortunas em Santiago, São Paulo e Montevidéu. O banco também está fechando os escritórios do Caribe.
Embora o RBC não desmembre o faturamento do braço de gestão de fortunas por região, as operações da divisão fora do Canadá registraram receita de US$ 2,22 bilhões em 2014, comparado com US$ 2,17 bilhões em 2013. Os ativos administrados pela divisão totalizaram 41,1 bilhões de dólares canadenses (US$ 32,3 bilhões) no ano fiscal de 2014.
Em 2013, a Controladoria Geral da Moeda dos EUA (OCC, na sigla em inglês), que supervisiona os bancos americanos e as subsidiárias locais dos bancos estrangeiros, considerou insatisfatórios os controles do RBC para evitar lavagem de dinheiro e solicitou que o banco os corrigissem, dizem pessoas a par do assunto.
Não está claro por que a OCC considerou os controles inadequados. O RBC afirmou no seu comunicado que todos os bancos estão sujeitos a “avaliações normais” dos reguladores e que, em muitas jurisdições, é proibido por lei de divulgar as conclusões das autoridades.
A fiscalização que os reguladores dos EUA vêm fazendo dos processos contra lavagem de dinheiro já levou vários grandes bancos de outros países, inclusive os britânicos HSBC Holdings, e Standard Chartered , a recuar em alguns mercados em desenvolvimento. O HSBC — que concordou em pagar US$ 1,9 bilhão em 2012 para resolver alegações que incluíam a de não ter evitado que contas nos EUA fossem usadas para lavar dinheiro proveniente do tráfico de drogas — afirmou que saiu de vários países em desenvolvimento para, entre outras razões, reduzir o risco de futuros problemas ligados à lavagem de dinheiro.
A saída da América Latina ocorre apenas dois anos após o RBC ter identificado a região como um mercado com grande potencial de crescimento. O banco afirmou, no seu comunicado por e-mail, que a sua área internacional de gestão de fortunas “é um pequeno componente do segmento global RBC Wealth Management e não vem atingindo nossos critérios de desempenho por vários anos”.
Os lucros que o banco vinha obtendo na América Latina e Caribe não compensam o risco associado à lavagem de dinheiro, diz uma pessoa a par do assunto.
Muitos bancos internacionais vêm ampliando sua presença em gestão de fortunas porque a área oferece um fluxo contínuo de receita com tarifas que é mais previsível que o lucro obtido pelo segmento de banco de investimento. Mas os riscos ligados à lavagem de dinheiro estão expondo as desvantagens da gestão de fortunas.
O RBC foi envolvido recentemente no escândalo da Petrobras SA, em que autoridades alegam que empreiteiras superfaturavam os valores cobrados nos contratos com a petrolífera estatal e pagavam propina a alguns de seus executivos.
Segundo documentos judiciais a que o The Wall Street Journal teve acesso, subornos no valor de US$ 2,4 milhões foram supostamente lavados em nome de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, por meio de uma conta do RBC nas Ilhas Cayman.
A Petrobras afirma que é vítima do suposto esquema de corrupção e que está cooperando totalmente com a investigação. Costa, que está atualmente em prisão domiciliar, admitiu as irregularidades e fez um acordo de delação premiada.
Os procuradores brasileiros não decidiram se vão ou não abrir uma investigação sobre os bancos que forneceram serviços financeiros para os acusados de corrupção, diz uma pessoa a par do assunto.
Várias outras instituições financeiras estrangeiras foram vinculadas aos réus em documentos judiciais.
Autoridades argentinas também vêm investigando o cumprimento pelo RBC da regulação contra lavagem de dinheiro, diz uma pessoa a par do assunto. De fato, a pressão regulatória na Argentina teve um grande peso na decisão do banco de encerrar suas operações de gestão de fortunas na região, diz essa fonte.
Em 2008, o Banco Central do Uruguai multou o RBC em US$ 50.140 por “omissões” nos controles contra lavagem de dinheiro, segundo o site do banco central. A multa foi aplicada após um traficante de drogas colombiano ter transferido cerca de US$ 2 milhões por meio de uma conta no RBC, diz Ricardo Gil Iribarne, que na época era o responsável pela unidade de combate à lavagem de dinheiro do Uruguai e a deixou em 2010. Embora o RBC não tenha sido responsabilizado criminalmente, ele foi multado por não possuir os devidos controles sobre transferências de dinheiro, diz Iribarne.
“Na verdade, não havia controle nenhum”, diz ele. O RBC fechou seu escritório em Montevidéu em 2014, segundo carta enviada ao banco central. A carta não explicou o motivo.
As preocupações do RBC com os riscos da lavagem de dinheiro se estendem à África e o Leste Europeu, dizem pessoas a par do assunto. Durante uma reunião realizada em outubro na sede do banco, em Toronto, Stuart Rutledge, diretor internacional de gestão de fortunas, disse a membros da equipe de private banking que, além da América Latina, eles deveriam evitar atrair clientes de partes do Leste Europeu, como a Rússia, diz uma pessoa que estava presente.
Rutledge não respondeu a mensagens com solicitações de comentários.
Fonte: Reuters, (Colaboraram Taos Turner, Ben Dummett, Luciana Magalhães e Ryan Tracy.)