Rodizio de firmas de auditoria: Até breve, auditor
Embora o rodízio obrigatório seja duramente criticado pelos auditores independentes, parece haver uma esperança, para eles, de que o fim do relacionamento com o cliente, apontado como bastante problemático, esteja mais para um “até breve” do para um “adeus”.
Em outras palavras, não é exagero supor que em 2017 eles terão boas chances de recuperar os clientes de capital aberto que perderão a partir do ano que vem, por conta da troca compulsória determinada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para o órgão regulador, um período prolongado de relacionamento pode afetar a independência do auditor, uma vez que ele é remunerado pela empresa que audita.
O que se vê, no entanto, é que o rodízio pode ficar restrito a duas auditorias.
Uma análise preliminar dos movimentos observados até agora indica que, neste segundo grande rodízio, que valerá a partir de 2012, a maioria das empresas tem optado por voltar ao auditor com o qual mantinha relacionamento antes da primeira rodada de troca, em 2004.
Levantamento feito pelo Valor com 24 grandes empresas (ou grupos) que já anunciaram o novo auditor mostra que 12 delas retornaram ao antigo prestador de serviço de auditoria. Entre elas estão Gerdau, BRF-Brasil Foods, Ultrapar, CPFL Energia e CCR.
Esse número de 12 equivale a metade da amostra. Mas se for considerado que 6 das 24 empresas não eram companhias abertas em 2004 (e não participaram do primeiro rodízio), se chega à conclusão de que 12 empresas, de um total de 18, voltaram para o antigo auditor, o que representa dois terços da amostra.
Entre aquelas que escolheram novas firmas, ainda há dois casos específicos. Um deles é o da Telefônica Brasil, resultante da fusão entre Vivo e Telesp. A Directa, de menor porte, foi escolhida para auditar a holding, mas a Ernst & Young Terco, uma das quatro grandes do setor, seguirá como auditora das subsidiárias e também fará a checagem do balanço enviado à Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado americano. Assim, é possível dizer que, no grupo como um todo, houve um rodízio apenas parcial.
O segundo caso é o do Pão de Açúcar. A Ernst & Young foi substituída pela Deloitte na checagem do balanço da Companhia Brasileira de Distribuição (nome oficial da controladora do grupo), e não pela PwC, antiga firma de auditoria da companhia. Mas a Deloitte não é uma estranha para o grupo. Ela já tinha o contrato da Globex, empresa controlada que reúne as operações da rede Ponto Frio e Casas Bahia. Ainda não foi anunciado quem sucederá a Deloitte na auditoria do balanço da Globex.
Pessoas do setor ouvidas pelo Valor também acreditam que a volta para o antigo auditor possa ser uma tendência do rodízio, por conta do relacionamento construído no passado.
Um caso que ilustra a importância da relação pessoal é o da Gerdau na época da quebra da Arthur Andersen. O sócio responsável pelo balanço da siderúrgica foi para a PwC e levou a conta consigo.
Outro ponto relevante é a questão da especialização. A Deloitte era líder no setor de energia elétrica antes do primeiro rodízio obrigatório, e pretende reconquistar os clientes perdidos. Entre as trocas já anunciadas, ela recuperou CPFL Energia e Energisa.
No caso do grupo AES, seu antigo cliente, a Deloitte ficou de fora da disputa para evitar conflito de interesse, por ter um contrato grande de consultoria.
Considerando as 24 empresas que aparecem no quadro nesta página, o destino de R$ 77,6 milhões em honorários anuais de auditoria já foi definido, tendo como base os pagamentos feitos pelas empresas em 2010. Outros R$ 100 milhões ainda vão trocar de mão por conta do rodízio obrigatório em 2012, considerando apenas as empresas não financeiras de capital aberto que já passaram o limite de cinco anos com o mesmo auditor e estão entre as 200 maiores companhias do país por valor de mercado.
As maiores contas para as quais ainda não foi anunciado publicamente um vencedor são as de Embraer, TAM, CSN, Embratel e Hypermarcas.
Há dúvida ainda sobre se os clientes herdados de Terco e BDO pela Ernst & Young e pela KPMG terão que trocar de auditor. A área técnica da CVM já se manifestou a favor da troca, mas o colegiado ainda não se pronunciou.
Fonte: Fernando Torres, Valor Economico