Reguladores alertam bancos dos EUA sobre riscos em empréstimos
Reguladores americanos estão cobrando os bancos sobre padrões mais rígidos nos empréstimos e alertando as instituições sobre riscos crescentes nessa área.
Emprestar para companhias tem sido uma alternativa atraente para bancos em busca de mais receitas num cenário de baixo crescimento e juros historicamente baixos. Mas os reguladores temem que as instituições financeiras tenham aliviado demais os termos dos financiamentos, algo que poderia colocá-las em perigo no caso de inadimplência.
Os responsáveis por analisar bancos estão selecionando mais operações de crédito para inspeção e questionando mais os padrões do que nos últimos anos, segundo banqueiros, consultores e reguladores. Em reuniões privadas com banqueiros nos meses recentes, reguladores do “Office of the Comptroller of the Currency (OCC)”, agência responsável por garantir o bom funcionamento do setor, o órgão garantidor de depósitos e o Federal Reserve, têm se concentrado pesadamente nos empréstimos comerciais, de acordo com as fontes.
Alguns parlamentares e o governo de Obama vêm afirmando que os bancos precisam emprestar mais para ajudar a economia a ganhar impulso, mas que tais financiamentos precisam ser feitos com responsabilidade. Reguladores dizem que relaxar os padrões pode colocar a economia em risco.
Durante a crise financeira, os bancos desaceleraram significativamente o crédito comercial e industrial. Mas o total desses empréstimos alcançou US$ 1,53 trilhão até o fim do primeiro trimestre, de volta aos níveis de 2008.
“Embora algum alívio nos padrões seja, em geral, apropriado diante do forte aperto que ocorreu na sequência da crise financeira, não queremos ver o ressurgimento das práticas frouxas que levaram à crise”, afirmou Stephanie Collins, porta-voz do OCC.
Aliviar os padrões torna mais fácil para as empresas negociar os termos dos financiamentos. Bill Shea, vice-presidente financeiro da empresa de flores e presentes 1-800-Flowers.com, conseguiu uma linha de US$ 200 milhões com seis bancos, incluindo o J.P. Morgan Chase, que liderou a operação em abril. Os bancos brigaram pela liderança, segundo Shea, o que deu a ele poder para negociar taxas, tarifas e a estrutura do empréstimo. “Isso nos colocou numa posição muito boa para negociar uma operação muito atrativa”, disse. Uma porta-voz do J.P. Morgan não quis comentar.
Em março, reguladores alertaram os bancos sobre os perigos de um mercado em alta para empréstimos alavancados. O Fed e o OCC afirmaram que os controles dos concessores de empréstimos se deterioraram e se questionam se alguns bancos estão fazendo o suficiente para medir o risco que correm. Grandes bancos disseram ao Fed em abril que tinham relaxado uma série de padrões de empréstimos no primeiro trimestre. Metade dos grandes bancos do país pesquisados pelo banco central informou ter aliviado as cláusulas contratuais (“covenants”) para grandes e médias companhias, acima da fatia de 30% que reportou o mesmo em janeiro.
Algumas instituições estão estendendo o prazo dos financiamentos feitos perto ou nas menores taxas de juros da história para os clientes de melhor perfil. O número de novos empréstimos prefixados com mais de 10 anos de prazo saltou 7% em abril, para a máxima em dois anos, segundo a companhia de software bancário Automated Financial Systems.
Outra preocupação é que alguns bancos estejam emprestando para companhias sem as devidas proteções, segundo os reguladores. Por exemplo, os bancos geralmente estipulam que os clientes precisam ter fluxo de caixa estável ou outros atributos financeiros antes de aprovar a operação. Se essas condições não forem seguidas, os bancos correm risco de emprestar para empresas que não serão capazes de honrar o compromisso.
“Há um tema consistente de ‘não reduza seus padrões para atrair volume’”, afirmou Scott Polakoff, ex-diretor de uma das agências de supervisão dos EUA e que agora assessora bancos em sua relação com os reguladores na empresa de consultoria FinPro Inc. Ele acrescentou que a ênfase dos reguladores nos padrões de crédito tem sido um grande tema de seus clientes nos últimos seis meses.
Frank Sorrentino III, presidente-executivo do ConnectOne Bank, relatou que teve uma conversa com representantes do fundo garantidor de depósitos há cerca de dois meses e que os padrões de crédito foram um tema importante. Segundo o banqueiro, os reguladores perguntaram o que estava sendo feito para evitar que o banco faça empréstimos arriscados e ele respondeu que o banco está tentando amenizar a receita menor com corte de despesas.
(Dow Jones Newswires)
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