Regulador alerta para balanços de empresas chinesas
Alguns auditores vêm aprovando balanços financeiros de empresas chinesas com ações em bolsas dos Estados Unidos sem verificar a exatidão dos livros contábeis, segundo pesquisa feita por autoridades reguladoras do setor de contabilidade.
O Conselho de Supervisão da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto (PCAOB, regulador do setor nos EUA) informou em relatório, divulgado ontem, ter detectado “problemas potenciais de auditoria” – incluindo barreiras de idioma e dependência excessiva de consultores externos – para os auditores que assinam os balanços de companhias com sede na China.
O relatório é focado em empresas negociadas em bolsas dos EUA por meio das chamadas fusões reversas, que não exigem a fiscalização inerente a uma oferta pública inicial de ações.
Nas fusões reversas, uma empresa de capital fechado compra uma “empresa casca” (que serve de veículo financeiro, mas não tem ativos ou operações significativas) de capital aberto e fica com o registro nos EUA como se fosse seu.
As autoridades reguladoras americanas passaram a prestar mais atenção às fusões reversas, desconfiadas de possíveis falhas nos balanços das empresas.
As empresas chinesas foram responsáveis por 42 das 141 fusões reversas em 2009, de acordo com o relatório, superando o número de suas ofertas públicas iniciais de ações.
Desde o início de 2007 até 31 de março, o PCAOB identificou 159 empresas chinesas – com valor de mercado de US$ 12,8 bilhões – envolvidas em fusões.
A Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA), que supervisiona o PCAOB, montou uma força-tarefa para buscar fraudes nessas empresas e lançou uma investigação em 2010, na qual solicitou a auditores nos EUA informações sobre seus métodos de auditoria e as estruturas dos honorários que recebem.
A agência multou a firma de auditoria Moore Stephens Wurth Frazer & Torbet em dezembro por deixar de exercer “ceticismo profissional e o devido cuidado profissional” nos trabalhos de auditoria da China Energy Savings Technology, que teve de pagar cerca de US$ 35 milhões em 2009 por superestimar a receita. A Frazer & Torbet não admitiu nem negou as acusações da SEC.
Wayne Carnall, contador-chefe da SEC, disse em fevereiro que a investigação da agência sobre possíveis fraudes contábeis em empresas com sede na China e ações negociadas em bolsas dos EUA levou algumas dessas firmas a cancelar o registro.
A participação da China em fusões reversas nos EUA cresceu de 2% no fim dos anos 90 para 8% entre 2000 e 2004, de acordo com o livro “Going-Public Reverse Merges”, de Robert Comment, que foi economista-chefe adjunto da SEC. Essa participação subiu para 26% nos dados avaliados pelo PCAOB, que é uma instituição sem fins lucrativos, financiada pelas empresas de capital aberto.
As empresas se interessam em fusões reversas para obter registro nos EUA e assim conseguir maior legitimidade com os investidores, disse Comment, em entrevista. “As ações de uma empresa de capital aberto nos EUA constituem uma moeda confiável.”
O PCAOB fez o relatório porque está “aproximando-se ativamente dos investidores” que querem saber mais sobre o ambiente de auditoria dessas empresas, disse James Doty, presidente do PCAOB, em comunicado.
Depois de adquirir registro nos EUA, as empresas chinesas às vezes “desaparecem”, cancelando o registro quando se veem incapazes de produzir balanços financeiros auditados no fim de seu primeiro ano, segundo Comment. A não ser por isso, as empresas não representam um problema sistêmico, afirmou. Comment disse que a maioria é de empresas domésticas operando na China – “não necessariamente negócios de exportação”.
A MaloneBailey, de Houston, foi a firma de auditoria americana mais ativa nesse campo pelos números até 31 de março, de acordo com o PCAOB.
“Acho que as preocupações dos reguladores são justificadas”, disse George Qin, diretor de atividades relacionadas à China da MaloneBailey, relatando que os auditores de sua firma precisam obter documentos tributários e bancários direto das fontes, em vez de recorrer aos papéis da própria empresa.
Em janeiro, a DK Sinopharma, com sede em Xi’na, na província de Shaanxi, na China, contratou a firma após fusão com a Virtual Closet. É mais um trabalho chinês para a empresa, um segmento que não para de crescer e que atualmente representa 40% das operações da MaloneBailey, segundo Qin.
A firma, disse Qin, às vezes trabalha em conjunto com empresas de auditoria chinesas e teve de preparar novos procedimentos “para tentar lidar com questões que são particulares da China” – entre as quais documentações fraudulentas.
Fonte: Jesse Hamilton e Joshua Gallu, Bloomberg, Valor Economico