Queda de ação de banco sugere vazamento
A bolsa hoje vai passar o dia digerindo o socorro de R$ 2,5 bilhões ao Banco Panamericano anunciado ontem, depois do fechamento do mercado. Tudo indica que a história vazou, uma vez que as ações do Panamericano vêm apanhando nos últimos dias. E assim elas devem continuar, podendo, inclusive, contaminar os demais bancos.
Rumores sobre problemas com o Panamericano e o risco de intervenção ganharam força na tarde de ontem, levando à queda de 6,75% das ações preferenciais (PN, sem voto) do banco. Em dois dias da semana, o prejuízo chega a 10,80%. Os papéis também perdem cerca de 35% no ano.
Problemas do Panamericano devem contaminar setor
À noite, o Panamericano confirmou, em fato relevante, o socorro ao banco, por meio de aporte a ser feito pelo Grupo Silvio Santos, acionista controlador. Os recursos, obtidos mediante empréstimo junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC), servirão para cobrir perdas provocadas por “inconsistências contábeis”, aponta o comunicado. “E que inconsistência!”, espanta-se um gestor de fundos.
O aporte de R$ 2,5 bilhões, lembra ele, representa 22% da carteira de crédito do banco, de cerca de R$ 11 bilhões, e supera o valor de mercado da instituição, de R$ 1,6 bilhão. E mesmo que esses recursos evitem perdas patrimoniais, conforme indica o fato relevante, a percepção do investidor mudou, pontua o gestor. “O banco vive de credibilidade.” Para ele, os papéis, que fecharam a R$ 6,77, podem amargar perdas de até 50%. Pelo menos, as ações devem buscar o valor contábil, de R$ 5,60, diz.
Assim como na época da quebra do Banco Santos, o setor financeiro todo deve sofrer com a aversão a risco do investidor. Isso já aconteceu ontem na bolsa. As ações de bancos, de grande e médio porte, estiveram entre as principais perdas da bolsa.
No setor, depois do Panamericano, a maior queda foi das ações PN do BicBanco, com menos 6,21%. Ainda no segmento de bancos médios, as preferenciais do Pine recuaram 2,94% e as do ABC Brasil, 2,55%. No universo dos maiores, as units do Santander caíram 5,59%, Bradesco PN caiu 2,96%, Itaú Unibanco PN teve queda de 2,69% e as ordinárias (ON, com voto) do Banco do Brasil marcaram menos 2,39%.
Na contramão do Panamericano, os demais bancos acumulam retornos significativos no ano. ABC Brasil PN sobe 44,88%, Pine PN tem alta de 39,26% e BicBanco PN, mais 36,88%. Os bancos médios, segundo o gestor, podem ainda sofrer pela dificuldade em captar recursos. Isso deve persistir até que se tenha conhecimento do tamanho do problema e se ele é localizado.
O Ibovespa caiu 1,35%, a 71.679 pontos. Além dos bancos, construção civil recuou, na onda de outro rumor, sobre aumento de compulsório para conter crédito.
Fonte: Alessandra Bellotto, Valor Economico