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Quando os controles internos, a supervisão e a índole falham quem paga a conta?

No dia que anunciaram a fraude do Banco Cruzeiro do Sul, o blog do Guilherme Barros anunciava a intervenção branca, onde a gestão passava a ser administrada pelo Banco Central, que já havia nomeado um interventor e com a decretação do Regime de Administração Especial Temporária (Raet), eu publiquei um artigo intitulado “Cruzeiro do Sul, mais uma crise operacional para o FGC”.

Mas muito se falou sobre o assunto que a fraude não era de R$ 1,3 bi, mas R$ 3,1 bi, será? Acredito que tenha mais coisa a ser levantada, pois os processos de fraudes são sempre os mesmos, alteraram valores da contabilidade, criam despesas para retirada de dinheiro, aumentam seus bônus com lucros inexistentes, entre outros crimes de colarinho branco.

Falar de compliance, controles internos, gestão de riscos, governança, controladoria neste momento para um banco liquidado, é jogar conversa fora, mas deve ser o momento de refletir, como controlar os outros que ficam, pois atualmente segundo os dados do Banco Central do Brasil temos em torno de 126 bancos de pequeno e médio porte no Brasil.

Estes bancos sofrem com dificuldades de captação a cada crise como esta acontece, ou como podemos evidenciar aqui, o Banco Santos, Banco PanAmericano, Banco Schahin, Banco Matone, Banco Morada, Oboé Financeira, Banco Prosper e Banco Cruzeiro do Sul.

Entretanto os correntistas e investidores destes bancos, mesmo com a regra do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) que garante a devolução de até R$ 70 mil por CPF e por banco. Se a conta for conjunta, cada CPF tem direito a R$ 70 mil. Se o depositante tiver conta no Cruzeiro do Sul e também no Prosper, tem direito a receber R$ 70 mil de cada um porque a fusão dos bancos não foi aprovada pelo BC, mas e o restante quando poderá resgatar? Como será feito o resgate? E se os investidores estavam com dinheiro aplicado de sua aposentadoria até quando esperar?

Agora pergunto sobre os empregados destes bancos, os prestadores de serviços, e o mercado que recebem um sinal ruim, mas fica por isso mesmo?

Como já venho falando há muito tempo é chagada a hora de mudar, profissionalizar realmente a governança corporativa, os controles internos e contábeis, a gestão de riscos e compliance, que mesmo sendo implementada por melhores praticas deve ser exigida a cada dia pelos órgãos reguladores, pois a cada ano aparecem escândalos como estes e sempre acontecem do mesmo jeito, e quem sai lesada é a população que confia nas Instituições Financeiras para guardar seu rico e suado dinheiro.

Afinal para que servem os bancos?

O dinheiro captado (depositado) dos clientes (pessoas físicas, empresas, indústrias e/ou governo) é utilizado pelos bancos para conceder empréstimos a outros clientes, desta forma os bancos cobram juros e assim ajudam para a circulação do dinheiro. Os bancos são instituições essenciais à manutenção do comércio (atividades comerciais), porque além de oferecer serviços financeiros, facilitam transações de pagamento e oferecem crédito pessoal, ajudando no desenvolvimento do comércio nacional e internacional.

Fica aqui a pergunta, quando eles quebram quem paga a conta?

* Marcos Assi é professor da Saint Paul Escola de Negócios, da FIA (Labfin) e do MBA Gestão de Riscos e Compliance da Trevisan Escola de Negócios, autor dos livros “Controles Internos e Cultura Organizacional – como consolidar a confiança na gestão dos negócios” e “Gestão de Riscos com Controles Internos – Ferramentas, certificações e métodos para garantir a eficiência dos negócios” pela (Saint Paul Editora) e consultor de finanças do programa A Grande Idéia do SBT.  Diretor e Consultor da Daryus Consultoria e Treinamentos.

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

4 thoughts on “Quando os controles internos, a supervisão e a índole falham quem paga a conta?

  • InternalControlsW

    Controles Internos e todo o hall de atividades correlatas em muitas empresas não possuem a independência necessária para atuar como se deve. Código de ética é excelente no papel, mas o corpo diretivo quer resultado. Há vários anos trabalhei com um gerente que adorava pressionar os funcionários com a seguinte frase: “não me interessa se o pato é macho, eu quero é ovo!!”, e ainda que pareça vulgar, isso bem se aplica a muitos outros gestores em bancos e em tantas outras empresas que tentam mostrar o que não têm. O relatado nesse artigo não é caso apenas de Banco Central, é caso de valor humano. O mercado busca profissionais com foco em resultado, e sabemos que há “profissionais” e “profissionais”. Resultado a que preço? De que forma? De quais recursos se dispõem esses profissionais para alcançar o tão exigido “resultado”? O comportamento das empresas reflete o comportamento humano. Banco Central pode atuar sob a ética nas empresas, mas quem o fará quanto a ética e valores humanos?

  • Ronaldo

    O grande mal que pessoas, como os controladores do BCSUL, é contra uma sociedade inteira, pois, suas praticas e neste caso, é comparada a uma quadrilha, os demais agentes do sistema financeiro acabam sofrendo com atuações de pessoas sem o menor escrúpulo, que devem ser banidas do sistema.Com este tipo de “profissionais”, fica a minha pergunta, para que serve tantas regras do Bacen, compliance, controladoria e todos os outros “controles” ??

  • waldemar

    Marcos,

    Se não existe escrúpulo na gestão não há controles internos que suportem
    mesmo porque os controles internos estão sob o jugo dos controladores da instituição , então onde está a ética desse controles. E os controles externos vimos observando que nada acrescentaram ao mercado, anão ser a grande quantidade de relatórios que devem ser fornecidos, pois desde a época do Nacional observamos que as maiores fraudes vêm ocorrendo no crédito e Adam Smith há dois séculos atrás já se preocupava com isso, me parece que as autoridades não o leram.
    Onde está o compliance do BC , da CVM , da Anbima , que permitem emissões de debêntures falsas,que permitem composições e carteiras com percentual de títulos próprios acima do permitido , se esse dados são fornecidos diariamente.
    De que serve o compliance se empresas de Auditoria e Rating que são pagas pelas próprias “instiutições” não fazem análises sérias e não são responsabilizadas pelos seus pareceres, a não para justificar aplicações excusas por parte de agentes financeiros.
    Então eu chego a conclusão simples de quem paga a conta: Os contribuintes como sempre.

  • Emerson Siécola

    Caro Assi,
    Singelamente, penso que “quem paga a conta” de modo geral, como você mesmo observou, é a sociedade, que observa de longe, sem muitas vezes conhecer a raiz do problema e, mais concretamente, os clientes, alguns deles com a sensação de que seu dinheiro “vôou para bem longe”; são os acionistas que confiaram seus ativos em instituições que se suspeitava-se serem sérias; são os colaboradores que, agora disponíveis no mercado, tentam se recolocar a duras penas; são os fornecedores, que agora devem procurar outros clientes para preencher o vazio deixado… ou seja, todos nós pagamos esse conta de alguma forma. Quando uma empresa ou instituição deixa de observar regras básicas da estrutura de governança, mais cedo ou mais tarde as falhas aparecerão e as consequências, como sabemos, são traumáticas. Que esses casos sirvam para ilustrar a realidade e a necessidade de se investir em controles internos, gestão de riscos, compliance e governança corporativa. Um abraço!

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