Postura profissional – Conduta e ética
O relato do contador do Panamericano publicado no jornal O Estado de S.Paulo no dia 09/04, demonstra a rotina do banco nos períodos que antecederam o rombo bilionário e revela como ruiu a instituição financeira de Silvio Santos o Contador Marco Antonio Pereira da Silva, que trabalhou 31 anos no grupo (meu Deus quanto tempo), segundo a Policia Federal ele colaborou revelando como ocorreram as fraudes e atribui culpa ao ex-diretor financeiro, Wilson de Aro, a responsabilidade pelos procedimentos de burla ao Bacen.
O contador apresentou revelações, que foram transcritas e preenchem 87 páginas, afinal quem melhor o contador para apresentar o que ele realmente registrou, sendo mai um capítulo dos desvios no Panamericano, isso muito me preocupa, pois mais uma vez fica evidente a ausência de conduta e postura ética, e não me venham com argumentos de perder emprego, pois agora este contador faz parte de uma gestão fraudulenta, de crimes financeiros, de ocultação de recursos e de evasão de divisas sendo alvos dos policiais federais, além de processo encaminhado pelo Bacen para o CRC/CFC para cassação de seu registro.
Veja este trecho apresentado por Marco Antonio: “Tudo que eu passava para o Banco Central tinha de mostrar para ele (Aro). Tinha coisa que ele falava: ‘Não Marco, não mostra isso’. Aí eu falava: ‘Mas vou mudar?’ Ele falava: ‘Não, não muda. Só não passa, é diferente’.”
E ele não imputa práticas ilícitas a Rafael Palladino, mas cita o ex-presidente do banco: “Parece que eles (diretores) tiveram comissões, bônus altíssimos. O Wilson parece que recebeu R$ 7,5 milhões em 2009. O presidente? Aí tinha lá R$ 10 milhões que eu não sei se era do Sandoval ou se era do Rafael, eu não vi, porque era uma relação que uma pessoa tava falando comigo. Fora o salário deles. Só bonificação.”
Ainda na mesma reportagem segundo ele, narra como foi a reunião na casa de Silvio Santos: “O Silvio me chamou. Me recebeu muito educadamente e falou: ‘Marco, eu não quero saber quem foi e como foi, eu quero saber qual a proposta de solução, eu preciso saber qual caminho tomar’. Segundo ele, deu algumas idéias. Sendo a primeira, vender o banco. Aí a idéia era o Bradesco comprar, porque o Bradesco sempre quis comprar o Panamericano e o Silvio nunca quis vender.”
Mais um trecho revoltante de ausência de postura, tanto do gestor como do contador, segundo disse que Aro que não sabia fazer esse tipo de operação. “Ele (Wilson) falou: ‘Recompra o contrato, pega na condição de cedido, faz uma recompra e aí você vai ter ativo’. Aí já virou uma prática. A intenção dele era antecipar receita de cessão e recomprar contratos. Só que em 2009 a situação piorou, o banco não produziu. A entrada de caixa continuou dificultosa, começou a criar uma dependência de ficar recomprando contrato e gerando receita, antecipando receita. 2009 foi o pior ano, essa conta do passivo tinha sido usada para outra finalidade. Quando começou a cair o fluxo de pagamento de cessão a outros bancos, eu não tinha mais passivo.”
Marco Antonio P. Silva reclama de “pressão muito forte”. Disse que esta isolado e teme retaliações: “Tenho preocupação de jogarem isso em cima de mim. Sou fraco perante eles, nem recursos financeiros eu tenho. Nunca trabalhei em outra instituição. De repente, não sei o que aconteceu.”
E neste momento me pergunto, será que ele não sabia que estava fazendo algo errado? Quantos de nós já não passamos por pressões e será que nos sujeitamos a fazer algo ilícito? Se sim, devemos repensar o que nossa profissão exige de cada um, conduta é ética, pois se trabalhamos na busca de apresentarmos as informações contábeis e financeiras de nossas empresas para as partes interessadas, acionistas, investidores, governo, colaboradores, clientes, fornecedores, entre outros, e fugimos de tudo isso, e além do mais, fraudamos as informações, em quem vamos confiar?
Portanto, postura profissional com conduta e ética, devem fazer parte de tudo em nossas vidas, e ainda me incomoda foi a negativa dos auditores externos sobre a não identificação destes inúmeros exemplos de fraude contábil, até que ponto ninguém sabia?
veja a entrevista na integra: http://marcosassi.com.br/contador-revela-esquema-do-rombo-no-panamericano
* Marcos Assi é professor e coordenador do MBA Gestão de Riscos e Compliance da Trevisan Escola de Negócios, e autor do livro “Controles Internos e Cultura Organizacional – como consolidar a confiança na gestão dos negócios” (Saint Paul Editora). Consultor de Riscos Financeiros e Compliance da Daryus Consultoria.