Por que o filme de Wall Street queimou
O filme Em busca da felicidade, de 2006, conta a história de Chris Gardner, um jovem pai de família sem emprego e sem dinheiro, abandonado pela mulher, que para tornar ainda mais miserável sua existência deixa o único filho sob sua guarda. Depois de muitas peripécias, sempre com o garoto a tiracolo, Gardner, protagonizado pelo ator Will Smith, consegue um emprego numa corretora de Wall Street. Baseado em fatos reais, o drama é uma elegia à determinação e força de vontade do cidadão comum, do tipo que é negro, pobre e mora longe, e apresenta a conquista de um lugar na indústria financeira como uma bênção dos céus. Campeão de bilheteria, Em busca da felicidade, que valeu a Smith uma indicação ao Oscar, dificilmente seria filmado com seu enredo original nos dias de hoje. Apenas cinco anos nos separam do seu lançamento, mas quanta coisa mudou desde então. Não é que nos Estados Unidos e pelo mundo afora não sobrem exemplos de gente desesperada em busca de uma vida melhor ou de um simples prato de comida.
A diferença é que os tempos de bonança econômica e de euforia do início da segunda metade da década passada não existem mais. Muito possivelmente, a corretora que oferecia uma vaga de estágio para 20 candidatos que não hesitariam em matar a própria mãe para conquistá-la tenha fechado suas portas, arrastada pelo tsunami financeiro que se seguiu à quebra do Lehman Brothers, em 2008. Em outras palavras, a Wall Street que aparecia como uma espécie de Himalaia para Chris Gardner no filme ficou para trás. Calcula-se que nada menos do que 110 mil funcionários tenham sido demitidos nos últimos três anos pelos bancos de investimentos e firmas de corretagem instaladas ali. Evidentemente, demissões em massa, períodos de declínio e frustrações ocorreram no passado.