Para reduzir perdas, exportador deixa mais receitas no exterior
Somente em agosto, o câmbio contratado para exportação foi US$ 4,2 bilhões inferior às exportações efetivamente realizadas. O curioso foi o que aconteceu com os importadores, que compraram no mercado interno de câmbio US$ 71 milhões a mais em agosto do que necessitavam para pagar as importações.
Em setembro, essa diferença foi ainda maior: nas três primeiras semanas, segundo os números parciais divulgados pelo Banco Central e pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic), o câmbio contratado para importação superou em US$ 3,9 bilhões as importações efetivamente realizadas. O câmbio contratado para esse fim foi de US$ 13,7 bilhões, enquanto as importações foram de US$ 9,8 bilhões até o dia 24. Os importadores estão aproveitando a queda no dólar americano e comprando com tudo, inclusive para pagar importações já feitas, e, com isso, ajudam o Banco Central e o Tesouro na tarefa de manter o real um pouco menos forte. O saldo do câmbio comercial contratado me setembro até o dia 24 foi negativo em US$ 2,6 bilhões, acumulando um déficit total de US$ 4 bilhões no ano.
No Bradesco, segundo conta Marlene Milan, o câmbio à vista contratado para importação cresceu 40% neste ano, em sintonia com o crescimento real das importações. Já o financiamento para as importações cresceu menos, cerca de 15% no mesmo período, de acordo com a executiva.
Enquanto as importações e o câmbio contratado para este fim tendem a crescer com a proximidade do final de ano, também se observa uma tendência sazonal de os exportadores trazerem mais dólares para o país neste período, de forma a fazer frente a pagamentos de tributos e do décimo terceiro salário em reais. Em setembro, até o dia 24, o total de dólares de exportações que ingressou no país até o dia 24 chegou a US$ 11,12 bilhões, segundo o Banco Central, um número US$ 472 milhões superior aos US$ 10,648 bilhões que foram exportados no período, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento.
Segundo os bancos que detém contas dos exportadores no exterior, a maior parte deles mantém o dinheiro no mercado internacional investido em transações de curto prazo, para quitar dívidas que estão vencendo. Muitas empresas usam o caixa no exterior para comprar eurobônus de empresas brasileiras e algumas, mais ousadas, fazem aplicações em reais no mercado externo. Há bancos que oferecem até fundos em reais no exterior para as companhias.
O exportador acaba trazendo para o país o caixa que vai ser usado mais no longo prazo para investir em reais, devido aos juros atraentes. Ele tende, porém, a esperar que o dólar se fortaleça para ganhar mais reais na entrada. Transações com derivativos para proteger as receitas em dólares dos exportadores têm acontecido, mas de forma bem mais rara e sem alavancagem do que em 2007 e 2008.