Para bancos, incentivo à liquidez precisa de data final
Os bancos levaram ao Banco Central uma proposta para que os incentivos criados no fim do ano passado para dar liquidez às instituições de pequeno e médio portes tenha data para acabar.
No dia 22 de dezembro, o governo anunciou que deixará de remunerar até 36% do dinheiro dos depósitos a prazo dos grandes bancos que é recolhido pelo Banco Central, o chamado compulsório. Se quiserem remuneração, as instituições terão de aplicar os recursos em carteiras de crédito, Certificados de Depósitos Interfinanceiros e letras financeiras de pequenas e médias instituições.
Pelos cálculos do Banco Central, a medida deve afetar até R$ 30 bilhões, o que deveria se reverter em liquidez para pequenos bancos. O volume traz inquietação às tesourarias, que se preocupam com o risco que terão de correr se quiserem remunerar 100% do compulsório. Em vez de se arriscar, muitas têm manifestado que preferem deixar o dinheiro parado.
Segundo o Valor apurou, ao discutir com o Banco Central a imposição de uma data para o término desse incentivo, os bancos querem evitar que os menores criem uma dependência de um novo instrumento como fonte de captação de recursos para suas atividades.
Em 2009, para ajudar o “funding” dos bancos, o governo criou o Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE), que assegura via Fundo Garantidor de Créditos aplicações de até R$ 20 milhões. Muitos bancos utilizaram a ferramenta até o limite que podiam, tornando-se bastante dependentes. Por isso, no ano passado, o Banco Central anunciou que o DPGE será extinto em 2016.
A demanda por um prazo final para os novos incentivos foi levada ao Banco Central por meio da Febraban, que representa os grandes bancos, e também pela ABBC, das instituições menores. Isso mostra que as associações costuraram um acordo, por mais que cause estranheza o fato de a ABBC – que já defendeu a perpetuação do DPGE – apoiá-lo.
Outros pleitos foram a redução da parcela do compulsório que deixará de ter remuneração e um maior escalonamento para a medida entrar em vigor.
Com a medida do Banco Central, muitos bancos menores já estão sentindo o aumento da liquidez por meio da venda de carteiras de crédito e títulos. A partir de hoje, a cessão poderá receber mais um estímulo. A Central de Cessão de Crédito (C3), ferramenta criada para dar mais transparência na compra e venda de carteiras depois das fraudes no PanAmericano, passará hoje a fazer a liquidação financeira das transações. Desde agosto, a C3 vinha apenas registrando carteiras passíveis de negociação, o que somou 706 milhões de parcelas de operações de crédito, com valor de face de R$ 127 bilhões. O sistema também contabilizou R$ 16 bilhões em contratos efetivamente negociados.
A Febraban não faz previsões sobre o volume de negócios que deve ser fechado ao longo deste ano, mas avalia que a central fará o mercado de cessão – que ficou praticamente paralisado no ano passado – voltar. “A C3 tem contribuído para dar liquidez ao sistema”, diz Murilo Portugal, presidente da Febraban. Para o executivo, ao trazer mais segurança para os compradores, a central pode ser capaz de reduzir o custo de captação das instituições. Por enquanto, são incluídos na C3 os créditos consignados e de veículos. A expectativa é que o financiamento imobiliário e o crédito pessoal sejam incluídos, mas ainda não há data para isso.
Fonte: Carolina Mandl, Valor Economico