Papel de minoritário é um mix de ficção e realidade
Ainda que os acionistas minoritários da Metalúrgica Gouveia não pareçam muito esclarecidos e espertos – sendo facilmente enganados pelo vilão Fred Lobato a todo momento -, suas cenas na novela das oito da TV Globo invocam temas que estão na ordem do dia do mercado de capitais, como voto por procuração, ativismo societário e problemas de sucessão em empresas familiares.
No início da trama, Fred conseguiu conquistar o apoio de Totó Gouveia, um dos herdeiros do antigo controlador, e também dos pequenos acionistas, que lhe deram procuração para defender seus interesses na empresa. Com o discurso contra a administração familiar da metalúrgica, que passava por problemas de gestão e sucessão, ele conseguiu mudar o comando da companhia.
Na vida real, acionistas ativistas também buscam apoio de outros minoritários para interferir na gestão de companhias abertas e até mesmo conseguem trocar a administração.
Já num dos vários momentos em que a ficção difere da realidade, os minoritários parecem não ter nenhum acesso formal aos números da Gouveia – como balanços e relatórios -, baseando suas decisões apenas em dados e argumentos apresentados por Fred. Suas decisões também se mostram pouco técnicas. Em um capítulo, eles decidem pela venda das ações a Fred na mesma reunião em que a oferta de compra é feita, sem tempo para avaliar a proposta.
Além disso, se a empresa está na bolsa, suas ações não podem ser negociadas de forma privada livremente, o que ocorre apenas em situações excepcionais, com aval da Comissão de Valores Mobiliários e com preços de mercado.
Num ponto, pelo menos, a novela está mais avançada que a realidade: a presença frequente dos minoritários em discussões de temas relacionados à empresa. Esse tipo de participação está longe de ser o ideal no Brasil.
Fonte: Fernando Torres, Valor Economico