Misturar as dívidas pessoais com as obrigações da empresa da família pode trazer prejuízos na organização financeira
Misturar as dívidas pessoais com as obrigações da empresa da família pode trazer prejuízos na organização financeira. “Muitas vezes, as pessoas pensam que empresa e pessoa física são a mesma coisa”, diz Leonardo Gomes, planejador financeiro certificado com o selo CFP. Conhecer detalhadamente a receita da pessoa jurídica, separando a retirada mensal fixa do negócio pelo dono é o primeiro passo para evitar a bagunça nas finanças.
Natan Finger, sócio-fundador da Private Pay, empresa que presta serviços a pessoas físicas e jurídicas, ajudando a organizar o orçamento, destaca que é muito comum o pequeno empresário confundir a pessoa física com a pessoa jurídica. “Chega o fim de semana e a pessoa vai jantar com o cartão da empresa”, exemplifica. Essa cena reflete a importância de separar os gastos. Segundo ele, no caso da empresa fica mais fácil porque existe a figura do contador para ajudar nos cálculos. Mesmo assim, é fundamental ter disciplina.
“As contas precisam ficar separadas”, enfatiza Finger. No método da Private Pay, todos os documentos de despesas são guardados e um relatório digital é feito para mostrar a situação financeira dos clientes. Cada um tem diferentes “centros de custo”, ou seja, gastos com manutenção do carro, de imóveis e outros bens. “Há algumas pessoas com mais de 25 ‘centros de custo’, como automóveis, barcos, uma ou mais empresas”, conta.
Por falta de tempo, essas informações ficam dispersas em meio a comprovantes que se costuma guardar na carteira ou na bolsa. Parece pequeno, mas esses gastos pontuais chegam a representar 15% das despesas mensais, analisa Finger. “No momento em que se enxerga a estrutura de custos da família, fica mais fácil. Quando você tem um relatório, dá pra saber quanto cortar de despesas na empresa e dos gastos pessoais”, destaca o especialista.
Há gastos, no entanto, que podem, eventualmente, entrar na conta da empresa, desde que exista um controle pelo indivíduo. Planos de celular, internet e saúde, por exemplo, geralmente saem mais baratos quando contratados pela pessoa jurídica. Outra recomendação é separar o gasto com combustível, se o automóvel particular também for usado pela companhia, situação recorrente em empresas de pequeno porte.
Segundo os especialistas, a confusão entre as contas fica mais complexa em estruturas societárias. “À medida que você tem um sócio que mistura pessoa física com pessoa jurídica, pode ocorrer ruído”, diz Finger. De acordo com o planejador financeiro Leonardo Gomes, as famílias têm um tempo diferente da empresa. Por exemplo, há famílias que precisam de um apartamento maior e recorrem a um financiamento. Enquanto isso, as pessoas jurídicas precisam ter um planejamento para atacar objetivos de curto prazo. “O capital de giro é importante para fazer, entre outras, reformas em um tempo menor”, afirma.
O empresário curitibano Cleverson Modesto de Melo, 53 anos, trocou recentemente o financiamento de um imóvel por mais capital de giro para tocar um novo projeto na sua empresa do ramo atacadista. Na prática, ele deu o bem como garantia, refinanciando o imóvel, a uma instituição financeira que ofereceu R$ 250 mil divididos em 15 anos, com taxa de juros de pouco mais de 1% ao mês e parcelas mensais de R$ 3.400. Cleverson migrou de uma dívida que terminaria em oito anos para outra maior, com valor também superior.
Para Gomes, o empresário acabou confundindo as finanças pessoais com as da empresa. “É preciso tomar cuidado para não misturar as coisas. O melhor era ter feito a separação. O grande risco que ele corre é de o negócio não dar certo e as contas pessoais serem impactadas”, analisa o planejador financeiro. O ideal seria ter feito a operação em nome da empresa, diz. Cleverson, porém, justifica a operação com o argumento de que a dívida não compromete sua renda.
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