Mentira no currículo é comum, mas pode derrubar até CEO
Uma mentira no currículo do CEO do Yahoo, Scott Thompson, está causando mal-estar entre o site e seu principal investidor, o fundo Third Point, que já se envolveu em conflitos públicos com o conselho da empresa no passado e agora está fazendo pressão para que o presidente seja retirado do cargo.
O erro foi apontado pelo CEO do Third Point, Daniel Loeb, em uma carta ao conselho do Yahoo, enviada ontem (dia 03/05). Enquanto Thompson lista em seu currículo que é formado em ciências contábeis e ciências da computação na instituição americana Stonehill College, a universidade só começou a oferecer diplomas em ciências da computação em 1983, quatro anos após Thompson ter se graduado.
Pressionado, um porta-voz do Yahoo disse que o caso foi um “erro involuntário” que “não altera o fato de o CEO ser um executivo qualificado com um histórico de sucesso no comando de grandes companhias de tecnologia e consumo”. O Third Point insiste que a empresa não está respondendo de forma adequada e que o Yahoo deveria “demitir Thompson imediatamente”.
Apesar do caso se dar em meio a desavenças já existentes entre o Yahoo e o Third Point, “exageros” no currículo já foram causa de demissões de altos executivos de empresas americanas no passado. Em 2006, o CEO da rede de lojas de eletrônicos RadioShack, David Edmondson, renunciou após admitir que não possuía diplomas em teologia e psicologia como havia listado no currículo. Em 2002, o CFO da empresa de software Veritas, Kenneth Lonchar, se demitiu após assumir que mentiu sobre a existência de um mestrado em negócios em Stanford.
Uma pesquisa recente da Robert Half com mais de dois mil executivos que realizam recrutamento em diversos países apontou que boa parte considera que currículos não são confiáveis e que os candidatos costumam exagerar na hora de se apresentar. No Brasil, 42% dos entrevistados disseram que a prática é comum. “Erros” como o de Thompson, em relação a diplomas e nível educacional, foram escolhidos por 18% dos recrutadores como os mais recorrentes. Mas a parte do currículo em que os candidatos brasileiros mais costumam mentir é nas responsabilidades do emprego anterior, escolhida em 48% dos casos. Em seguida aparecem conhecimento de línguas, que também foi destacada por 46%, e razões de ter deixado o emprego anterior, com 42%.
Para a diretora de outplacement e planejamento de carreira da CareerCenter, Cláudia Monari, a gravidade de mentir na hora de apresentar a experiência no currículo é muito forte. “É como escrever um documento e assinar embaixo”, diz. Segundo ela, mais comum do que mentir costuma ser omitir informações, como é o caso de executivos mais velhos que preferem não falar a idade com medo de atrapalhar as chances de conseguir a vaga. “Mas se a pessoa for questionada na hora da entrevista, o melhor é sempre falar a verdade.” Outras situações, como o motivo da saída do emprego anterior, podem até ser explicadas com cuidado e de forma “dosada”, mas nunca devem se afastar muito da verdade. No caso do nível educacional, Cláudia conta que na maioria das vezes a informação é checada na hora da admissão, com o pedido de certificados que comprovem cursos e diplomas. “Aí, se for mentira, pega muito mal”, completa.
Fonte: Letícia Arcoverde | Valor Economico