Gerenciamento de riscos: respondendo as perguntas certas
Qual é o potencial de perda que um fundo de investimento tem em um dia? Essa deveria ser uma das questões a ser respondida pelos gestores aos investidores quando da alocação de seus recursos em um determinado fundo de investimento.
É comum no mercado o gestor que responde a seus investidores com fatos e argumentos que sugiram suas expectativas de retorno para o período deparar com perguntas como: “Qual a expectativa de rendimento, de ganho, para este ano?”
A consistência da resposta não está somente na concretização dos cenários projetados e na realização das promessas em termos de resultados dos ativos que compõem a carteira de investimento de um determinado fundo, mas está também no controle e monitoramento de sua volatilidade e no conhecimento do potencial de perda desses ativos.
De forma complementar aos potenciais de ganho de que o mercado tanto fala e emite relatórios, os conhecidos “upsides”, a história de retornos dos ativos aliados a metodologias matemáticas e estatísticas nos permite conhecer de forma bem consistente qual o potencial de perda para determinada carteira.
O VaR, metodologia de cálculo de risco de mercado voltada para mensuração da máxima perda esperada para um portfólio dado um nível de confiança determinado, nos apresenta a informação do quanto se poderá perder em um dia o portfólio analisado. Essa informação e a gestão desses níveis de perda associados aos potenciais projetados de ganho podem assegurar a consistência dos retornos dos fundos de investimento bem como dar mais conforto a alocação por parte do investidor na medida em que os riscos são mensurados e conhecidos.
Nos dias atuais, em que movimentos locais têm influências diretas e imediatas globalmente, nada mais responsável do que se conhecer o potencial de perda de seus investimentos. Saber a que nível de risco financeiro um portfólio está exposto é conhecer a que custo a rentabilidade pretendida ou projetada poderá ser conquistada.
O gestor de recursos deve ter que como prática diária a mensuração dos níveis de risco a que os portfólios que ele realiza a gestão estão submetidos. O responsável pela alocação dos recursos de terceiros e o gestor de riscos devem ter uma separação em termos de atribuições, sendo que o papel de um deve ser complementar ao do outro e ser necessariamente realizado por pessoas diferentes, garantindo assim a transparência do processo, o cumprimento das políticas de alocação e de exposição em termos de risco bem como a devida consistência na tomada de decisão.
Deve fazer parte do dia a dia da gestora, a realização de comitês de risco com a participação das demais áreas envolvidas no processo de tomada de decisão de investimento, uma vez que esses comitês demonstram e debatem os níveis de risco por ativo e por portfólio. Além disso, auxiliam os alocadores a operarem seus papéis diários na medida em que os mesmos passam a conhecer quais ativos contribuem mais para o aumento de volatilidade do fundo, qual o risco marginal e incremental de determinado ativo e todas as outras informações necessárias para o dia a dia de um investimento responsável.
Essa postura deve partir não somente dos próprios gestores, mas de investidores atentos e dos agentes reguladores e autorreguladores, pois guarda relações com o aprimoramento do próprio mercado. É fator decisivo de sucesso em gestão de recursos.
Para se ter ideia do quão vantajoso é conhecer o VaR (valor no risco) de uma carteira, portfólios com políticas de risco conhecidas, limites de perdas determinados a que podem se sujeitar bem como um comitê de risco atuante, em 2008, na crise do subprime, tiveram como conhecer a depressão das rentabilidades com antecedência dado o aumento de volatilidade. Por isso, puderam, frente a preciosa informação, distribuir e alocar seus recursos de maneira mais eficiente, mantendo os níveis de perda, quando ocorreram em patamares baixos – isso quando não ocorreram ganhos.
Portanto, a pergunta não mais deve ser isoladamente voltada para o conhecimento das expectativas de ganhos dos gestores e dos fundos de investimento, mas também dos riscos a que estão expostos em termos de perdas financeiras possíveis. Sendo assim, ao procurar uma alocação, deve-se perguntar: “Qual o potencial não somente de ganho, mas também de perda para determinado portfólio para o período?”
Fazer (e exigir respostas) as perguntas certas é cada dia mais importante e deve ser comportamento de investidores bem-sucedidos. Eles devem verificar não somente resultados passados e potenciais, mas a qualidade técnica com que seus recursos são geridos por completo.
Rafael Salgado Matos é sócio e gestor de riscos da DLM Invista Asset Management, Valor Economico
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do Blog do Marcos Assi. O Blog não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.
Sob o ponto de vista do Gerenciamento de Riscos o raciocínio é muito interessante e a abordagem, é perfeita sem dúvida, mas, haverá interesse do ADMINSTRADOR do fundo em informar ao INVESTIDOR – que naquele momento sinaliza com o aporte de capital – que aquele negócio específico tem risco de perda mensurado?
Se a prática EMPLACAR, mostrará que o ADMINSTRADOR é realmente sério e confiável, merecendo assim os nossos tostões.
Como definir “risco marginal”
Segue uma definição Modelos de Risco de Crédito do Fábio Wendling Muniz de Andrade é Engenheiro pela UFRJ, onde diz que o principal objetivo de um modelo de risco de crédito de portfólio é obter a distribuição de perda por default ou de valor em uma carteira de crédito em um determinado horizonte de tempo. A distribuição de perda de uma carteira é um elemento-chave na gestão de risco na carteira e pode ser utilizada dentro da instituição com diversas finalidades como a determinação do VAR e cálculo do capital econômico.
O modelo de risco de portfólio também permite o cálculo do risco marginal de uma operação de crédito da carteira, bem como de uma nova operação. O risco marginal de uma operação de crédito difere do risco absoluto por considerar os efeitos de diversificação dentro da carteira originados da correlação existente entre os créditos que fazem parte do portfólio. O risco marginal tem aplicações relacionadas à identificação de concentrações na carteira, estabelecimento de limites de crédito, precificação e avaliação de performance.