Fraude bancária chega no mobile payment
Uma pesquisa divulgada recentemente pela Serasa Experian apontou que a fraude é um dos principais motivos de prejuízo de lojas virtuais no Brasil e pode levar até o fechamento do e-commerce. Esse cenário é ainda mais desafiador quando são inseridos os recursos de pagamentos móveis causando danos não só para o consumidor, mas também para lojistas e instituições financeiras.
Na visão de Mike Braatz, vice-presidente sênior da ACI Worldwide, o mercado brasileiro de pagamentos móveis vem crescendo a uma taxa de dois dígitos. Em contrapartida, as fraudes nesse ambiente também avançam e a expectativa é que essas investidas superem as taxas de fraudes em canais tradicionais de pagamento.
O executivo está na linha de frente das soluções de prevenção a fraudes bancárias da empresa e falou à Risk Report sobre o mercado de mobile payment, ações dos fraudadores e conscientização do usuário.
Risk Report: Com o avanço da mobilidade é natural que os usuários queiram fazer tudo pelo celular, inclusive utilizá-lo como meio de pagamento. Como você enxerga esse mercado no Brasil?
Mike Braatz: O mercado brasileiro de pagamentos móveis tem apresentado crescimento semelhante a outros grandes mercados globais, impulsionado pela demanda dos consumidores por conveniência, segurança e até mesmo como retorno pela fidelidade, se eles estão em uma loja ou em qualquer lugar.
Nesse sentido, o principal desafio para varejistas, bancos e provedores de tecnologia é fornecer uma experiência de compra integrada em todos os canais de pagamentos. Além disso, há também o desafio do mercado de definir quem será o “proprietário” desta experiência do consumidor – as instituições financeiras, as redes de Varejo ou os novos concorrentes como Apple, Google e Facebook.
Resolver esses desafios requer uma profunda compreensão das necessidades dos consumidores e investimentos para atualizar e integrar tecnologias legadas e a infraestrutura que suporta a parte central dos negócios.
RR: Os pagamentos móveis já despertam o interesse de fraudadores? Essas ações maliciosas crescem na mesma proporção que os serviços?
MB: Sim. Normalmente, a fraude começa lentamente até que os criminosos aprendam o novo sistema mobile e trabalhem para explorar as vulnerabilidades. Porém, assim que eles “pegarem o jeito”, a expectativa é que as fraudes móveis até possam superar as taxas de fraudes em canais mais tradicionais de pagamentos. Podemos dizer que ainda estamos numa fase inicial de ações maliciosas nos canais de pagamentos móveis e é esperado um crescimento nos próximos 2, 3 anos.
RR: Quais são as principais ameaças nesse ambiente?
MB: Uma parte dos riscos de fraudes nos canais de pagamentos móveis são os mesmos encontrados nos ambientes de online banking e comércio eletrônico: malwares (específicos para dispositivos móveis), roubo de identidade e aquisição de contas. Mas alguns são específicos para pagamentos móveis com o Apple Pay, nos Estados Unidos, por exemplo, já vimos ocorrendo fraudes no cartão do dispositivo.
Os fraudadores carregam informações de cartões de créditos roubados em aparelhos móveis legítimos, o que lhes permite efetuar compras fraudulentas até o banco ou os varejistas/comerciantes detectarem o incidente. Este esquema tem se espalhado e a Apple Pay, os bancos e os comerciantes estão trabalhando para barrar essas ações.
RR: Como as instituições financeiras estão se protegendo contra as fraudes no mobile payment?
MB: As companhias utilizam diversos recursos de segurança em camadas, nos quais métodos múltiplos de proteção são colocadas em prática para proteger os consumidores. Isso inclui técnicas de monitoramento de segurança ou contra fraudes no dispositivo móvel, durante os processos de pagamentos e em sistemas de processamento de pagamentos dos bancos.
Além disso, os varejistas também estão utilizando tecnologias de monitoramento contra fraudes para identificar transações suspeitas. As instituições financeiras estão mais conscientes do que nunca da necessidade de proteger seus clientes contra fraudes e eles também sabem que fazendo isso estão protegendo a reputação da sua marca.
RR: Nesse mercado, educação digital do usuário também entra como mais um pilar na proteção dos dados dentro do universo móvel?
MB: As instituições financeiras estão trabalhando duro para educar os consumidores sobre os caminhos que eles mesmos podem adotar para proteger informações sensíveis em todos os canais de pagamento, incluindo os canais móveis. Eles têm divulgado essas informações em seus sites, incluído nas contas enviadas aos clientes e alguns até trataram o tema (fraude e segurança), com o objetivo de educar os consumidores, em campanhas publicitárias.
Este é, definitivamente, um outro pilar importante – ou camada – em um ambiente de proteção contra fraudes. O estudo da ACI concluiu que, apesar dessa educação, os consumidores ainda são culpados por atividades que os deixam vulneráveis aos riscos de fraudes – por exemplo, usando a mesma senha para várias contas e equipamentos, clicando em links de fontes não confiáveis etc. Com certeza, ainda há um trabalho grande que deve ser feito neste sentido.
No caso do Brasil, o estudo comprovou que 30% dos brasileiros entrevistados jogam documentos com números de contas bancárias no lixo; 22% usam serviços bancários ou lojas online em computadores sem softwares de segurança ou em PCs públicos; e 21% deixam seus smartphones desbloqueados quando não estão utilizando-os.
As informações são do Risk Report, por Leia Machado