Fibra contou ganho de hedge duas vezes
O banco Fibra acaba de receber uma injeção de capital de R$ 92,1 milhões de seu controlador, o grupo Vicunha, da família Steinbruch, para cobrir uma diferença que se abriu em seu balanço ao se descobrir que por mais de dois anos certas receitas de operações de hedge (proteção) foram registradas duas vezes.
Segundo a direção do banco, houve um erro operacional de contabilização de receita que se estendeu de 2008 até meados deste ano. Antônio Francisco Lima Neto, que preside o Fibra desde agosto do ano passado, explica que o equívoco foi detectado recentemente, em meio a um processo de revisão dos sistemas de controle de risco do banco. Antes de Lima Neto, o cargo de presidente era ocupado por Ricardo Steinbruch, acionista controlador.
Os resultados líquidos relativos a essas receitas em duplicidade, num total de R$ 113,8 milhões, foram revertidos no balanço do primeiro semestre de 2010 de uma só vez. Do total, R$ 26,1 milhões foram subtraídos do resultado líquido do banco nesse exercício e R$ 87,7 milhões foram deduzidos do lucro e do patrimônio de 2008 e 2009. O International Finance Corporation (IFC), sócio minoritário do Fibra, com 7,9% de participação, tem 60 dias para aprovar o aumento de capital da parte que lhe cabe, um valor de cerca de R$ 8 milhões, para não ser diluído.
O banco possui uma agência nas Ilhas Cayman e para proteger o patrimônio no exterior da variação das moedas realiza o hedge cambial e também uma modalidade conhecida por hedge fiscal.
Pela regra tributária brasileira, ganhos com variação cambial sobre ativos no exterior não são tributados, assim como prejuízos originados por flutuações de moedas não são dedutíveis. Esse tratamento tributário leva a uma exposição cambial na linha de impostos do balanço (além daquela do patrimônio no exterior em si). Portanto, é prática comum no mercado fazer um hedge complementar, chamado fiscal, para zerar de vez o risco cambial.
Pois foi a operação de hedge fiscal que gerou receitas que foram contabilizadas duas vezes.
Os principais instrumentos financeiros derivativos por meio dos quais pode ser obtidos o tal hedge fiscal são os contratos a termo e contratos futuros de uma determinada moeda estrangeira. No caso do Fibra, o banco assumiu posição vendida em dólar para se proteger do risco de uma eventual desvalorização da divisa americana, movimento que, de fato, ocorreu.
Lima Neto explica que o banco começou a fazer hedge fiscal em 2008 usando contratos a termo. Mas, logo depois, mudou de instrumento e passou a negociar dólar futuro. O problema foi que as operações a termo, mesmo tendo sido encerradas, permaneceram sendo contabilizadas até pouco tempo atrás, provocando uma duplicidade de receitas.
A agência de classificação de risco Fitch Ratings informou, em relatório, que o ajuste patrimonial e de resultado feito pelo Fibra não afetou sua nota, tendo em vista o suporte financeiro do controlador. O rating nacional de longo prazo do banco é “A (bra)” e tem perspectiva estável. “A Fitch considera que os acionistas reagiram rapidamente para restaurar a base de capital do Fibra, evitando impactos na imagem do banco, no índice de capital regulatório e no seu potencial de crescimento”, afirmaram, em nota, os analistas Luiz Claudio Vieira e Edgard Dias.
Após o aumento do patrimônio para R$ 812,6 milhões, o índice de Basileia do Fibra ficou em 15,2%, percentual considerado por Lima Neto confortável para os planos de expansão do banco neste ano. Alternativas de reforço do capital, no entanto, estão sendo estudadas, e entre elas, uma potencial oferta de ações em bolsa. “Imaginávamos fazer este ano, mas não queremos vender a qualquer preço”, explica Lima Neto.
Fonte: Aline Lima | Valor Economico