Falta de transparência sobre bonificação em bancos ainda preocupa
Quando as agências regulamentadoras do setor bancário em cada lado do Atlântico propõem novas restrições a bonificações em dinheiro para limitar riscos excessivos, os investidores comemoraram.
Altos executivos em Wall Street, que têm ficado cada vez mais ousados em criticar os esforços dos governos visando reformar as práticas em seu setor, deram de ombros. De fato, muitos desconfiaram já ter ido além das recomendações no sentido de postergar pelo menos metade da remuneração de fim de ano a ser paga a seus principais executivos.
“É muito simples”, disse James Gorman, executivo-chefe do Morgan Stanley, a uma sala repleta de funcionários do banco, em janeiro, ao defender sua decisão de ampliar de 40% para 60% a parcela de gratificação anual com pagamento postergado. “Precisamos nos certificar de que nossos acionistas ganhem dinheiro ao mesmo tempo”.
Bônus postergados podem parecer ótimo no papel, mas é preciso desejar boa sorte aos que buscarem encontrá-los no último lote de balanços patrimoniais divulgados neste mês ou nos números de fim de ano divulgados em janeiro.
A maioria dos bancos não divulga o total de gratificações que os funcionários recebem por seu desempenho, apenas as despesas acumuladas em determinado ano e poucos desagregam quanto de seus custos anuais de remuneração são resultado de acúmulo de de diferimento de pagamento de bônus conquistados em anos anteriores. Sem essa informação, os investidores ficam com uma visão incompleta do que continua sendo um componente crítico e polêmico da renda anual de qualquer banco de investimento. E eles provavelmente não têm ideia de quanto dessas futuros encargos foram merecidos em anos anteriores, o que limita a flexibilidade dos bancos para apertar despesas caso as receitas estejam estagnadas ou diminuam.
Quando as empresas de Wall Street pagam funcionários com dinheiro diferido ou ações restritas, frequentemente registram as despesas associadas às gratificações de forma gradual. Assim, à medida que cresce a prática da remuneração diferida, um parcela menor desses custos é reportada no ano em que é concedida.
As ações do Morgan Stanley subiram fortes 4,6% no dia em que o banco divulgou crescimento de seu lucro. Será que os resultados para 2010 teriam parecido tão bons se uma parcela maior das gratificações tivesse sido paga em dinheiro e reportada como custos de remuneração?
Digamos que um banco de investimentos tenha concedido, em 2010, a um de seus diretores, uma gratificação de US$ 500 mil, incluindo US$ 300 mil em ações restritas passíveis de serem vendidas nos três anos seguintes. A parte em dinheiro do bônus, US$ 200 mil, aparece nas despesas do ano passado no item remuneração. O restante – de novo, as ações restritas – poderiam ser amortizadas como despesas em várias parcelas em 2011, 2012 e 2013.
Parece simplesmente justo, portanto, que os bancos, apresentem uma visão completa do que essas gratificações anuais lhes custarão e a seus acionistas, agora e no futuro. “Prometo indagar sobre isso em todas as teleconferências”, diz Glenn Schorr, analista da Nomura. “No fim das contas é o seguinte: se você for um banco de investimentos e mais de 70% de suas despesas forem relacionadas com remuneração, como analista, quero saber isso”. Para a maioria dos funcionários não executivos de bancos, tudo, ou a maior parte, do que ganham vem na forma de salário e gratificação em dinheiro. Mas os que recebem ações diferidas e dinheiro estão entre os que mais ganham. Divulgar o custo total das gratificações anuais pode explicitar que a proporção do pagamento aos funcionários de um banco em relação à receita – a razão de remuneração – supera o patamar de 50% revelado como padrão no setor antes da crise.
Fonte: Justin Baer, Financial Times, Valor Economico