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Escândalos ferem reputação da City de Londres

Será que há algo de podre na City de Londres?

Nas últimas seis semanas, os três grandes bancos britânicos que sobreviveram relativamente ilesos à crise financeira estiveram mergulhados em escândalos — manchando ainda mais a reputação já abalada do setor bancário britânico e prejudicando os esforços dos banqueiros para evitar regulamentações mais severas.

Primeiro, em junho, o Barclays PLC foi flagrado tentando fraudar uma taxa de juro de referência, o que acabou custando os cargos do presidente do conselho e do diretor-presidente. Em seguida, um comitê do Senado americano atacou o HSBC Holdings PLC por supostamente movimentar dinheiro para quadrilhas de traficantes de drogas e grupos terroristas.

O último golpe veio segunda-feira, quando o órgão regulador bancário de Nova York ameaçou revogar a licença do Standard Chartered PLC U.S. por suposta lavagem de dinheiro envolvendo o Irã.

As coisas estão tão ruins que, antes de ser divulgada a notícia sobre o Standard Chartered, o governo britânico lançou um inquérito público sobre a cultura bancária — chegando a trazer um bispo para oferecer uma perspectiva moral.

Londres é um dos principais centros financeiros do mundo, ao lado de Nova York e Hong Kong.

Mas até bem recentemente sua regulamentação era conhecida por ficar só no papel. A “regulamentação de toque leve”, como a chamavam as autoridades britânicas, fazia parte de uma estratégia deliberada de atrair mais instituições financeiras para fazer negócios em Londres.

Margaret Cole, que chegou em meados de 2005 à Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido como chefe de fiscalização, argumentou em 2006 que “a filosofia de Londres de ‘regulamentação de toque leve’ ajudou a cidade a tornar-se o maior centro mundial para as transações mobiliárias”.

Depois que a crise financeira eclodiu, os reguladores do Reino Unido começaram a reprimir os crimes de colarinho branco, abrindo vários processos legais contra o uso de informações privilegiadas, ou “insider trading”, e multas para vendas enganosas de produtos financeiros.

Mas o legado do “toque leve” continua se fazendo sentir. A maioria das alegadas irregularidades que as autoridades americanas e outras estão investigando ocorreu entre 2005 e 2009, quando predominava essa abordagem de menos intrusão.

Um porta-voz da Autoridade de Serviços Financeiros, o órgão de fiscalização financeira do Reino Unido, não quis comentar.

Sem dúvida, já houve bancos americanos, suíços e de outros países apanhados em investigações similares. Mas os recentes escândalos envolvendo os bancos do Reino Unido estouraram em rápida sucessão, deixando os banqueiros britânicos lutando para estancar a sangria na sua reputação.

Os executivos do setor reconhecem que a recente onda de escândalos vem prejudicando seus esforços para evitar leis mais rígidas, tais como uma proposta para isolar as operações de banco de investimento, mais arriscadas, das operações de banco de varejo, ou obrigar os bancos britânicos a conservar mais capital do que bancos similares de outras jurisdições.

“Isso acontece com tal regularidade que não se pode dizer que se trata apenas de uma ‘maçã podre'”, disse um banqueiro de investimentos de Londres, que tem feito campanha contra as normas mais severas.

Os problemas do Standard Chartered são especialmente graves. Até segunda-feira, o banco era o garoto-propaganda de um sistema bancário britânico responsável, e seu diretor-presidente era um dos poucos defensores da regulação moderada que ainda estava ileso. O banco evitou problemas durante a crise financeira, e ainda na semana passada seu diretor-presidente, Peter Sands, cuja firme reputação o colocou na disputa para ser o próximo presidente do Banco da Inglaterra, o banco central, vangloriou-se de que “nossa cultura e nossos valores são a nossa primeira e última linha de defesa”.

Pouco depois, o órgão regulador bancário de Nova York acusou a divisão do Standard Chartered nos Estados Unidos de operar “como uma instituição desonesta”, manipulando pelo menos US$ 250 bilhões em transações com entidades iranianas entre 2001 e 2010.

O Standard Chartered negou veementemente as acusações, dizendo em um comunicado enviado por e-mail que “rejeita firmemente a posição ou o retrato dos fatos tal como apresentados na acusação”.

A sequencia de escândalos está começando a modificar, pelo menos um pouco, a dinâmica secular da City, como é conhecido o centro financeiro de Londres.

Tradicionalmente, os banqueiros eram cavalheiros que resolviam seus problemas a portas fechadas. No mês passado, o presidente demissionário do Barclays, Marcus Agius, convidou diretores-presidentes de bancos britânicos rivais para participar de uma discussão particular sobre o que o setor poderia fazer em relação aos seus problemas de reputação, segundo pessoas a par do assunto.

Mas, em um sinal da mudança no clima, alguns banqueiros declinaram o convite de Agius, dizendo que a reunião seria uma perda de tempo, segundo uma pessoa a par do assunto.

Em paralelo, alguns diretores-presidentes de bancos estão vindo a público para pedir mudanças na cultura bancária de Londres.

A reputação do setor bancário atingiu “um novo ponto baixo”, disse o diretor-presidente do Royal Bank of Scotland Group PLC, Stephen Hester, quando o banco divulgou seus resultados na semana passada.

O RBS provavelmente vai enfrentar mais problemas em breve. O banco está negociando para resolver acusações de que tentou manipular as taxas de juros, segundo pessoas a par do assunto.

E o RBS também revelou que está em negociações com autoridades americanas sobre a sua conformidade com as normas dos EUA relativas a sanções econômicas.

“Dizia-se que o dinheiro lavado via City de Londres era mais limpo do que o dinheiro limpo”, disse David Greene, sócio da firma de advocacia Edwin Coe. “Isso não acontece mais.”

Fonte: DAVID ENRICH, MAX COLCHESTER e SARA SCHAEFER MUÑOZ, WSJ, Valor

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.