Entrevista: Cetip agiliza a entrega de carro financiado
Para tentar compensar a redução no volume de financiamento para a compra de automóveis neste início de ano e garantir maior equilíbrio no fluxo de receitas do segmento automotivo, a Cetip lançou ontem o InfoAuto Pagamentos — plataforma tecnológica que faz cruzamento de dados e informações entre bancos, financeiras e empresas de leasing. O sistema permite que esses agentes depositem a comissão de venda na conta das revendedoras de veículos, repasse indispensável para a liberação do carro após a aprovação do crédito.
Até hoje o processo era feito de forma manual e leva mais de dois dias. Por isso mesmo, há maiores chances de fraude: o cliente pode pedir financiamento de R$ 40 mil, só que na hora de conferir, a financeira pode descobrir que, na verdade, o veículo custa R$ 30 mil. Ou seja, a diferença de R$ 10 mil é usada para outros fins.
Com a solução desenvolvida pela Cetip, a revendedora solicita a avaliação do pagamento da operação e, em seguida, faz a validação veicular com a inclusão do veículo no Sistema Nacional de Gravames (SNG) de forma automatizada, assim que o crédito é aprovado. Esse sistema mostra se o automóvel está ou não alienado. Em seguida, a comissão é depositada para a revendedora ou concessionária e o comprador já pode sair motorizado.
Outro benefício é a garantia de que o carro não tem débito ou multa. “Quando se compra um carro financiado, o consumidor fica refém. Não consegue saber, por exemplo, se há inadimplência, porque isso não entra no Gravame”, diz Marcos Assi, professor e coordenador de MBA de Gestão de Riscos e Compliance da Trevisan Escola de Negócios.
O InfoAuto Pagamentos atua, portanto, no momento anterior à liquidação do financiamento pelo banco ou financeira. Já a Central de Cessão de Crédito, conhecida pelo termo C3, tem efeito na etapa posterior ao financiamento, com a comercialização das carteiras de crédito. O C3 está em operação desde agosto de 2011 e até 30 de janeiro realizava apenas o registro de operações de cessão de crédito entre bancos. A partir de então, o sistema também passou a fazer a transferência definitiva do crédito negociado, simultaneamente à liquidação financeira.
Do início de seu funcionamento até janeiro deste ano, o sistema já havia registrado a cessão de 89 milhões de parcelas de crédito, em 168 operações, com valor de R$ 16 bilhões.Na ocasião, estavam registradas no sistema 706 milhões de parcelas de operações de crédito passíveis de serem comercializadas, com valor de R$ 127 bilhões. Segundo o Banco Central, o sistema contribui para reduzir o risco nessas operações, além de aumentar a liquidez para esse tipo de negócio.
“Pode-se traçar paralelo entre as duas com relação às garantias que são validadas sem qualquer falha”, diz Iroilton Medeiros, diretor comercial da unidade de financiamento da Cetip. Assi lembra que, no caso do segmento automotivo, a exigência do Gravame já era uma forma de garantia. “O problema era na concessão de crédito pessoal que foi o que levou ao problema do Panamericano. Antes do C3, bancos tinham que contratar consultoria para atestar a qualidade das carteiras de crédito antes de comprá-las.”
Por estar em período de silêncio, a Cetip não divulgou quanto investiu no desenvolvimento da solução. Parceiro na criação, o Santander Financiamentos tem utilizado, desde o mês passado, a ferramenta. “Com a parceria com o Santander, já começamos com grande volume de operações. Agora, vamos atrás dos outros bancos”, diz Francisco Carlos Gomes, diretor vicepresidente executivo financeiro, corporativo e de RI da Cetip.
Segundo Gomes, o produto é mais uma fonte alternativa de faturamento da Cetip. “Nossa receita aumenta com a cessão de crédito e diminui com alta da inadimplência. Por isso, vamos vender informação, aproveitando o nosso banco de dados”, acrescenta o executivo. “Já prevíamos que o primeiro trimestre seria mais fraco do que o resto do ano, por isso estamos lançando o InfoAuto Pagamentos para, a partir do segundo trimestre, voltar a crescer.”
Gomes diz ainda que a ideia é investir em nichos que vão dar frutos no longo prazo. É o caso do mercado imobiliário e suas fontes de financiamento. “Sabemos que os recursos da poupança e do FGTS vão se esgotar para financiamento imobiliário. Por isso, fizemos parceria com a ICE para criar uma plataforma eletrônica e dar liquidez para o mercado secundário que vai surgir”, prevê.
Fonte: Brasil Econômico/ Natália Flach