Na crônica empresarial não faltam exemplos de executivos brilhantes que, da noite para o dia, descem do céu ao inferno. Basta um deslize, uma declaração mais açodada ou a descoberta de um caso escabroso envolvendo seu nome para que isso aconteça. Na terça-feira 11, a trajetória do mineiro Adilson Antônio Primo, 58 anos, presidente da Siemens do Brasil desde 2001, foi interrompida de forma abrupta. Sua demissão sumária foi informada ao mercado por meio de um breve comunicado, emitido pela matriz da Siemens, em Munique, na Alemanha. Nele, a direção da companhia diz que “foi descoberta uma grave contravenção das diretivas da Siemens”, sem, no entanto, informar qual seria.
De acordo com fontes da corporação, Primo teve seu nome envolvido em um suposto desvio de dinheiro, ocorrido entre 2005 e 2006, que lhe teria rendido € 6,5 milhões. O montante, ainda de acordo com a fonte, estaria depositado em uma conta na Europa que pertenceria ao executivo. O valor, considerado modesto para quem tem um ganho anual estimado em € 1 milhão, entre salários e bônus, provocou perplexidade no mercado, acostumado a admirar o executivo brasileiro por sua carreira brilhante de 34 anos a serviço da multinacional alemã.
Em uma empresa na qual o sistema de tomada de decisões sempre foi considerado lento, pode-se dizer que Primo galgou com rapidez os degraus que o levaram ao topo. Formado em engenharia elétrica pela Universidade de Itajubá, em Minas Gerais, ele ingressou na Siemens em 1977. Logo em seguida, ele foi mandado para fazer um estágio na sede da companhia, em Munique. Ironicamente, foi lá que sua carreira no conglomerado chegou ao fim. A demissão, comunicada pessoalmente pelo presidente mundial, Peter Löscher, ocorreu quando Primo se preparava para participar da convenção anual da direção da Siemens com os CEOs de suas subsidiárias espalhadas pelo mundo.
Por meio de um comunicado lacônico, Primo disse à DINHEIRO que é inocente. “Nada tenho a acrescentar além do fato de reafirmar que sempre conduzi os negócios da Siemens dentro dos mais altos padrões éticos, sempre visando aos legítimos interesses da empresa durante os anos em que nela trabalhei.”
O executivo não revela, entretanto, se pretende ir à Justiça. No lugar de Primo, a Siemens nomeou Paulo Ricardo Stark, 42 anos, considerado um profissional talentoso, que já estava sendo preparado para sucedê-lo. Assim como Primo, Stark é engenheiro elétrico e tem uma trajetória ascendente na corporação alemã. Com passagens pela filial do México e pela matriz, Stark cuidava dos “negócios verdes” da Siemens, a divisão de Cidades e Infraestrutura. Apesar da surpresa causada tanto no mercado quanto internamente, funcionários da Siemens disseram que o episódio mostra que a empresa tem uma postura de “tolerância zero” com desvios. “A mensagem é clara: pisou na bola, está fora”, disse um executivo da Siemens, que pediu para não ser identificado.
A decisão de atuar de forma dura contra malfeitos é resultado direto do escândalo de pagamento de propina a autoridades de diversos países, que eclodiu em 2007 e causou a demissão de diversos executivos, inclusive o então presidente mundial, Klaus Kleinfeld.
Seu sucessor, Peter Löscher, determinou a elaboração de um severo código de conduta e contratou o escritório Debevoise & Plimpton para passar um pente-fino nas contas da empresa. Foi nessa investigação que teria sido descoberto o depósito de € 6,5 milhões em nome de Primo. A demissão de Primo interrompe uma carreira de dedicação quase exclusiva à corporação alemã. Como presidente, Primo esteve à frente de uma das maiores reviravoltas da companhia. Em 2005, a matriz alemã decidiu sair da área de infraestrutura de telecomunicações, celulares e tecnologia da informação, segmentos que representavam mais da metade dos negócios da empresa no País.
Sob o comando de Primo, a empresa teve de fechar quatro fábricas. Mas decidiu entrar em novas áreas e comprar empresas, como a Chemtec, de sistemas de software para petróleo, a divisão de equipamentos de alta tensão da Lorenzetti e a Graber, de segurança patrimonial. Dois anos depois, a subsidiária brasileira voltou a equilibrar a receita, focando seus esforços nas áreas de energia, meio ambiente, indústria, infraestrutura e saúde.
O número de fábricas passou de cinco, em 2007, para 13, no ano passado. Neste ano, Löscher, o CEO mundial, esteve no País para anunciar que pretende investir US$ 600 milhões no Brasil até 2016. Parecia um sinal de que Primo, aparentemente, estava prestigiado pela direção. Tanto que, de 2007 a 2011, as receitas saltaram de R$ 3,1 bilhões para R$ 4,3 bilhões, o maior salto entre os países do chamado Bric – Brasil, Rússia, Índia e China. Culpado ou não, o certo é que Primo terá dificuldades para, aos 58 anos, voltar ao mercado, segundo analistas de recursos humanos ouvidos por DINHEIRO.
Pelo menos em cargos que reúnam poder e prestígio em doses elevadas. “Fica difícil fazer a recolocação de um executivo com essa marca no currículo”, diz o headhunter Simon Franco, dono da Simon Franco Recursos Humanos, de São Paulo. Segundo ele, não restava outra alternativa à Siemens senão agir de forma enérgica diante do caso. “As empresas listadas em bolsa têm o compromisso da transparência com os acionistas”, afirma. Para José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching, porém, ainda é cedo para dizer se a trajetória do ex-presidente da Siemens chegou ao fim. “Ninguém chega ao comando de uma empresa do porte da Siemens se não tiver qualidades e habilidades”, diz Marques.
Fonte: Rosenildo Gomes FERREIRA, Istoé Dinheiro
O senador Pedro Simon acaba de fazer uma representação para o CGU questionando terem colocado a Siemens em um cadastro de “empresas éticas”:
http://www.senado.gov.br/noticias/simon-quer-explicacoes-sobre-inclusao-da-siemens-em-cadastro-de-empresas-eticas.aspx
Parabéns ao Senador Pedro Simon. O grupo Siemens é, simplesmente, a corporação mais corrupta do mundo. Useira e vezeira de acusar empresas nacionais de concorrência desleal, a Siemens teve que pagar bilhões de dólares em multa nos Estados Unidos e na Europa exatamente por esse tipo de conduta. Já foi proibida de trabalhar com o governo italiano e o de Cingapura, está na lista negra do Banco Mundial e do Governo da Noruega, e se envolveu em escândalos de corrupção e suborno na Grécia, Argentina, México, Vietnam, China, Nigéria, Rússia, entre outros países. Aqui mesmo, no Brasil, está sendo acusada pelo Ministério Público de São Paulo por corrupção em obras do metrô no Governo Tucano. O Ministério Público de São Paulo deveria fazer um ofício sobre essa questão ao CGU. E agora, no Brasil, o governo quer dar atestado de bons antecedentes para essa gente ?