De volta ao pré-crise
Por Graziella Valenti e Fernando Torres, de São Paulo – Valor Economico – 13/08/2010
As companhias abertas brasileiras não apenas voltaram ao ritmo operacional pré-crise, como também estão revendo para cima as perspectivas de resultado para 2010 e reforçando os projetos de investimento. Entre as empresas que melhoraram as projeções após a divulgação do balanço do segundo trimestre estão Randon, Marcopolo, Romi, Santos Brasil e Hering. Esta última, ao lado da Gerdau, também elevou de forma significativa os investimentos planejados. Sozinha, a siderúrgica vai investir R$ 11 bilhões entre este ano e 2014. O plano anterior era aplicar R$ 9,5 bilhões.
Um sinal da disposição para crescer pôde ser observado já no segundo trimestre, quando as empresas aumentaram o endividamento. A dívida bruta consolidada de 113 empresas abertas que divulgaram seus balanços até o começo da tarde de ontem aumentou 5,5% entre março e junho, para R$ 272 bilhões, e o caixa foi reduzido de R$ 117,7 bilhões para R$ 112,9 bilhões. Embora pequena, a variação indica que parte dos recursos vem sendo consumida pelas empresas.
“Tem muita empresa que está tendo que investir para acompanhar a demanda”, ressaltou Oswaldo Telles, analista chefe da Banif Corretora. Na opinião de Carlos Sequeira, do BTG Pactual, o fato de o nível de desemprego atual estar abaixo dos últimos anos é um indicador importante de que o consumo interno deve continuar a ser o principal motor do crescimento.
Apesar de o endividamento ter aumentado, os analistas não veem razão para se preocupar. A relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido, em 38,2%, está até mesmo ligeiramente menor do que em 2008, quando era de 40,2%, e bem distante do pico verificado durante a crise, de 47,8% em março do ano passado.
Segundo Cida Souza, estrategista da Itaú Corretora, os resultados favoráveis do segundo trimestre, assim como projeções mais otimistas divulgadas pelas empresas, devem levar a uma revisão para cima dos preços-alvo das ações das companhias, já tendo como horizonte o ano que vem.
Ainda de acordo com ela, os dados macroeconômicos, que serão atualizados nos modelos, também devem favorecer uma revisão para cima dos preços, o que deve criar um potencial adicional de alta. Isso pode ser positivo, segundo Cida, uma vez que muitas ações do setor de consumo já estão muito próximas dos preços-alvo atuais.
Telles, da Banif Corretora, alertou apenas para as expectativas. As companhias estão construindo bases mais fortes de comparação com os resultados deste ano. Por isso, embora a tendência continue sendo de crescimento, a velocidade da expansão será menor.
Segundo a estrategista do Itaú Corretora, apesar de estar cada vez mais difícil de encontrar ações baratas em setores ligados ao mercado doméstico, essa continua sendo a melhor aposta. “O setor de consumo está caro, mas não dá para ficar fora. Ainda não é a hora de virar a mão para as commodities”, diz, fazendo uma ressalva em relação à Vale, empresa que ela acredita que terá um bom segundo semestre.
Em relação ao setor de construção, Cida admite que surgiu um ou outro ponto negativo nos balanços trimestrais, como a redução de margem da Cyrela, mas prefere destacar que a maior parte das empresas tem cumprido as metas de lançamentos e de vendas, que a velocidade de vendas está boa e que os múltiplos das ações ainda estão convidativos.
O resultado da empresa de vestuário Hering foi destacado por analistas por representar o bom momento do setor de consumo. Depois de divulgar um lucro líquido de R$ 42,5 milhões no segundo trimestre, quase quatro vezes acima do resultado anterior, a empresa elevou a previsão de investimento de R$ 58,7 milhões para R$ 86,7 milhões.