Cetip vai dividir com a CIP projeto da Central de Crédito
A Central de Cessão de Crédito (C3) não é mais de responsabilidade única da Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP), ligada à Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Depois de a CIP, que pertence aos bancos, ter vencido concorrência feita pela própria entidade para operacionalizar a central, a Cetip bateu o pé. Nos bastidores, desde que perdeu a disputa, a Cetip vinha alegando conflito de governança e agora vai dividir com a CIP a bola no projeto que pode destravar uma das principais fontes de financiamento das instituições de pequeno e médio portes.
Na origem, a CIP integra o Sistema de Pagamentos Brasileiros (SPB) e é um ambiente de liquidação, enquanto a Cetip sempre foi reconhecida no mercado como uma grande câmara de registro de títulos. O que se comenta é que um dos argumentos que a Cetip vinha apresentando aos bancos, e até ao regulador, era que a mesma central que faz pagamentos não poderia, em tese, fazer registros, o que ensejaria conflitos. No fim, a CIP adaptou seus estatutos a esse novo objetivo, mas teve que dar as mãos à Cetip na C3.
Segundo o Valor apurou, no processo de licitação, foi a CIP que apresentou o menor valor pelo serviço, mas agora é ela que vai ser subcontratada pela Cetip. Procurada, a Cetip não dispôs de um porta-voz para prestar esclarecimentos. Mas num evento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), no início de abril, o diretor-geral da Cetip, Luiz Fernando Fleury, falou publicamente que sua expectativa era de que a GRV – empresa adquirida pela Cetip em dezembro, que opera o sistema nacional de gravames (de baixa e inclusão de restrição financeira em veículos com alienação fiduciária) – seria integrada à C3, em 60 dias.
Ademiro Vian, diretor-adjunto da Febraban, não entra nas minúcias contratuais entre CIP e Cetip, nega que a inclusão do SNG na C3 esteja próxima, mas confirma que os trabalhos serão partilhados entre a CIP e a Cetip.
Nessa primeira fase, os sistemas da C3 vão contemplar 30 milhões de registros (do lado do cedente e do comprador) de contratos de crédito consignado e veículos e mais de 1 milhão de parcelas de cessionários. A previsão agora é que a base de dados estará plenamente alimentada até 30 de junho e a partir daí a central estaria pronta para receber registros de novas cessões. Trata-se de um atraso de três meses em relação ao cronograma original, até porque os 116 bancos participantes do sistema tiveram que fazer adaptações tecnológicas para enviar os dados e incluir mais esse controle nos seus processos. “Era melhor atrasar para ter 100% do mercado dentro da C3”, diz Nelson Pizzutti, coordenador do projeto.
O diretor técnico da Febraban, Wilson Gutierrez, frisa que, nesse primeiro momento, a inclusão do sistema de gravames na C3 está fora do radar e que a central não é nem da CIP nem da Cetip, mas das instituições financeiras que participaram do processo.
No comitê gestor, integram três bancos que representam a Febraban e três que representam a Associação Brasileira de Bancos (ABBC, das instituições menores).
Depois do rombo de mais de R$ 4 bilhões no PanAmericano, em novembro, envolvendo, entre outras inconsistências, as cessões de crédito, essa forma de captação praticamente secou para as instituições de menor porte. A compra do Schahin pelo BMG e a intervenção do BC no Banco Morada, no mês passado, também não ajudaram a normalizar esse fluxo. Nas últimas semanas, porém, as operações voltaram a fluir em alguma medida, diz o presidente da ABBC, Renato Oliva. “Os bancos também estão gerando menos créditos, estão conseguindo fazer captações externas e em CDB e daí a necessidade da cessão diminuiu.”
Trata-se de um mercado relevante, que Oliva estima ser da ordem de R$ 60 bilhões. Levantamento feito pelo Valor, com seis instituições que costumavam se valer dessa estrutura – BMG, Bonsucesso, Cruzeiro do Sul, BMB, Morada e Matone -, no fim de 2010, mostrava um estoque de quase R$ 27 bilhões cedidos. (colaborou Aline Lima)
Fonte: Adriana Cotias, Valor Economico