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Caoa diz que não comprará BVA a qualquer preço

A concretização do sonho do empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade de tornar-se banqueiro independe do sucesso das negociações para a compra do BVA. “Tenho recebido várias outras boas propostas e tenho analisado todas”, disse o presidente do grupo Caoa, ao Valor, por telefone, de Miami, onde passa férias. Seu objetivo é ter um canal próprio para financiamento de carros da sua rede de concessionárias, que atinge 170 lojas e, segundo ele, é possível que este ano chegue a 200 pontos.

A compra do BVA não é uma meta que Oliveira Andrade pretende atingir a qualquer custo para salvar os R$ 500 milhões que tem aplicados em depósitos a prazo na instituição sob intervenção do Banco Central. “Prefiro perder um dedo a perder a mão”, disse. “Eu só vou fechar o negócio se for sério e bom.”

Ontem, Oliveira Andrade ganhou um pouco mais de clareza para fazer sua análise. A consultoria PwC, contratada pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), terminou a auditoria sobre os números do banco e indicou que o rombo do BVA pode chegar a R$ 1,8 bilhão. As avaliações mais pessimistas apontavam que as perdas poderiam ir a até R$ 2,5 bilhões. O banco está sob intervenção do Banco Central (BC) desde outubro.

Do montante calculado pela consultoria, R$ 1,5 bilhão corresponde ao passivo a descoberto da instituição. O restante refere-se à estimativa de perdas adicionais que o banco poderá amargar na recuperação de créditos.

A estreia de Oliveira Andrade como banqueiro também poderá acontecer em parceria. O empresário confirma a possibilidade de unir-se ao Brasil Plural para fazer uma oferta pelo BVA. “Sou amigo do Rodolfo Riechert [presidente e sócio-fundador do Brasil Plural] e não há nada que nos impeça de fazer negócios juntos. Existem muitas coisas acontecendo, diversas propostas. Mas todas estão ainda sob análise e destacar uma ou outra é mera especulação”, disse.

O Brasil Plural, que surgiu como gestora de recursos e se tornou banco de investimentos em 2012, também estuda fazer uma proposta pelo BVA, segundo fontes a par das negociações. O interesse seria o de aumentar a escala de suas operações bancárias. Mas adquirir uma instituição com tantos problemas seria um passo grande e, talvez, muito arriscado. A seu favor, há a experiência no setor financeiro, algo que falta a Oliveira Andrade.

Nos últimos dias, circularam rumores de que Caoa e Brasil Plural poderiam fazer uma proposta conjunta pelo banco. Procurado, o banco não comentou o assunto.

A principal preocupação do grupo Caoa, agora, é não se comprometer com a compra antes de estudar o resultado das auditorias sobre o rombo do BVA. Além da análise da PwC, os números da instituição estão sendo levantados pelo interventor nomeado pelo BC, que deve apresentar seu relatório em fevereiro.

Com a finalidade de entender a real dimensão do rombo, o grupo Caoa contratou a consultoria Booz & Company e uma empresa especializada na recuperação de créditos, apurou o Valor.

Para ganhar tempo, o empresário solicitou a prorrogação, em pelo menos uma semana, do prazo para a entrega das propostas firmes. Inicialmente, o limite era quarta-feira da semana que vem. Em princípio, o novo prazo será no dia 28, quando Oliveira Andrade também já terá voltado de férias.

Os primeiros cálculos indicaram que o grupo Caoa teria que colocar mais R$ 700 milhões no BVA para evitar que o banco seja liquidado. “É mais ou menos isso”, disse o empresário. Somente a soma de garantias do FGC a quem comprou papéis emitidos pelo BVA já estaria próxima de R$ 1,2 bilhão.

Além da quantia que os candidatos se dispõem a colocar no banco, as eventuais propostas pelo BVA terão de contemplar o tamanho do desconto previsto para o FGC e os demais credores. Uma possível oferta só terá êxito se houver acordo entre o valor que o interessado se dispõe a injetar e o quanto os credores aceitam ceder.

Está em discussão com Caoa e Brasil Plural um modelo segundo o qual seria proposto aos detentores de pelo menos R$ 5 milhões em CDB a conversão de metade de seus créditos em ações do banco. O restante seria pago em CDB com prazo de três a cinco anos. Outra simulação prevê uma menor taxa de conversão em ações e o restante em CDB com prazo de dez anos.

Ao mesmo tempo em que analisa os números do BVA, Oliveira Andrade também negocia a contratação de Antonio Maciel Neto para presidir o grupo Caoa. As conversas não estão concluídas. “Mas estamos chegando a um bom termo”, afirma Oliveira Andrade, que não esconde sua admiração pelo executivo. Se chegarem a um acordo, o empresário se afastará da gestão operacional do grupo e passará a integrar o conselho.

Antes do comando da Suzano, que deixou no fim do ano passado, Maciel Neto foi presidente da Ford no Brasil e na América do Sul. À época, conheceu Oliveira Andrade, considerado um dos mais habilidosos revendedores de veículos do país. Além de ajudá-lo na expansão da rede de concessionárias, Maciel Neto poderia assumir funções importantes na operação da fábrica de veículos da marca Hyundai que o empresário tem em Anápolis (GO).

As decisões que aguardam Oliveira Andrade na volta das férias são complexas. Embora a expectativa para o desfecho das negociações sobre o BVA seja positiva, ele faz questão de ressaltar a cautela para os próximos passos: “O negócio não é fácil; é sério. E para que seja perfeito depende do trabalho da auditoria”. Mas e se o banco for liquidado? Será a primeira vez que Oliveira Andrade perderá quantia de dinheiro tão grande, admite. (Colaborou Carolina Mandl)

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.