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Caça a corrupção: De olhos bem abertos dentro das empresas

Louise Brittain está um pouco nervosa com sua volta ao trabalho após as festas de fim de ano. Depois de várias visitas à praia próxima de sua casa de veraneio na Ilha de White, essa pequena especialista em insolvências se prepara para enfrentar um enorme volume de trabalho. E não é por esperar negociar com os que estão se declarando falidos na esteira do frenesi de gastos sazonais, mas porque sua especialidade são insolvências litigiosas que envolvem fraude.

Com a deterioração da economia, essa sócia de 45 anos da auditoria Deloitte, prevê ver cada vez mais processos como esses em sua lista de afazeres. “No fim do ano passado assistimos a uma grande tendência de alta de casos de pessoas que roubam dinheiro, por ser algo que está em falta”, diz. Eram pessoas de todos os níveis – desde gerentes de médio escalão até diretores, acrescenta. Falências de esquemas piramidais ilegais também surgirão em 2012, prevê. “Quando falta capital, não dá para manter esse truque. As pessoas não conseguem dinheiro novo para investir e acabam descobertas.

Sentada numa sala de reunião impecável, devido a desordem em sua sala, Brittain acha que existem dois tipos de fraudador. O “eventual” – que está desesperado para salvar a empresa e tenta conseguir dinheiro onde puder – e o “definitivo”, que resolve fazer isso e se convence de que está certo. O “definitivo” é “sociopata e narcisista”, diz. Eles não conseguem parar de falar de si mesmos e não demonstram remorso por enganar as pessoas (às vezes idosas ou de baixa renda), fazendo-as perder suas economias e suas casas.

A estratégia comum de um fraudador é exercer domínio intelectual. “Eles tentam fazer as pessoas pensarem que são burras e que não entendem de finanças. Fingem que eles são os inteligentes e que você deveria confiar neles. Usam de chantagem emocional e intelectual. Dizem que, se você tirar seu dinheiro agora, todos vão sair no prejuízo”.

Mesmo quando defrontado com quilos de provas, um fraudador intencional nunca reconhece o delito. “Eles pensam apenas ‘fui pego desta vez porque não fiz a coisa direito'”. Nove meses atrás um homem investigado por sua equipe foi julgado culpado pela Justiça. No decorrer do julgamento, ficou fazendo anotações sobre como melhorar seu esquema fraudulento para a próxima vez.

Um dos casos mais difíceis de Brittain é Nicholas Levene, apelidado de “Beano” devido à sua idolatria, quando menino, pelo gibi britânico de mesmo nome. Depois que o ex-corretor de ações foi declarado falido em 2009, ela foi encarregada de rastrear seus ativos – tarefa que envolveu viagens frequentes a Israel. Levene enfrenta acusações relacionadas a uma fraude na área de investimentos.

Normalmente, os casos de Brittain começam com um telefonema de um departamento do governo ou de um credor que detectou atividade fraudulenta. Em 24 a 48 horas, após conseguir provas, ela obtém um mandado de segurança que autoriza a seu departamento acesso a contas e e-mails para aprofundar a investigação. Ao contrário da polícia, o foco de Brittain é recuperar o dinheiro. Ao investigar os e-mails e contas das pessoas, ela se familiarizou com os padrões do comportamento fraudulento, como a transferência em valores redondos. “Eles nunca movimentam 2.974,63 libras. Sempre só 3 mil libras.”

No decorrer de seu trabalho ela também descobre todo tipo de desvio de comportamento, como bigamia e consumo de drogas. Existem, em sua opinião, poucas mulheres fraudadoras. Na verdade, Brittain cruzou com apenas uma. “Ela estava aplicando o golpe por amor. Não era nenhuma inteligência rara”, diz. As mulheres, no entanto, desempenham, efetivamente, um sólido papel de apoio. “O fraudador convence a esposa de que está certo e ela não quer perder seu padrão de vida”. Para ela, ser mulher, especialmente uma mulher de pouco mais de 1,52m, é uma enorme vantagem. “As pessoas se sentem menos ameaçadas quando você aparece na porta da casa delas e me deixam entrar.” De acordo com Brittain, as mulheres são boas em investigar fraudes porque “são xeretas, têm boa intuição, são multitarefas e têm mais prática em observar o comportamento das pessoas”.

A especialista teve de brigar com sua família de músicos para trabalhar num escritório. “Queria estar no meio corporativo, em um lugar organizado onde eu pudesse pensar, e não cercada por emoção e criatividade, esse tipo de coisa”. Depois de se formar em matemática, ela entrou na Deloitte Haskins and Sells (atualmente PwC), onde se especializou em insolvência pessoal. “Achei que essa área soava menos chata do que auditoria”. Em 1996, mudou para a Baker Tilly, onde cuidou de alguns casos de falência conhecidos, como o do cantor britânico de grande sucesso da década de 1960 Adam Faith, o goleiro Bruce Grobbelaar e o historiador revisionista David Irving.

Um de seus casos preferidos foi o do ex-parlamentar conservador Jonathan Aitken, que pediu recuperação judicial em 1999 depois que o fracasso de seu processo por difamação contra o jornal inglês “The Guardian” o deixou às voltas com uma conta de 2,4 milhões de libras em custas. Brittain, que entrou no caso para recuperar os ativos e o dinheiro de Aitken, considerou-o “muito encantador quando queria” e um “intelectual”. Rastrear seus ativos foi como montar um grande quebra-cabeça.

O trabalho dela requer sangue frio. “Os credores gritam porque você não conseguiu recuperar todo o dinheiro deles. O devedor grita porque você quer vender a casa dele”. Além disso, não faltaram ameaças de agressão física, principalmente quando cuidava de insolvências litigiosas. Uma vez, foi trancada num armário. Existem, contudo, pessoas prestativas, que tiram sacolas de dinheiro escondidas sob a pia. Outras são apenas burras. Um homem, quando perguntado, negou ter veículos de alto valor. Quando Brittain abriu a garagem, encontrou um Humvee, um Bentley e um helicóptero.

Recuperar dinheiro é o que a move. “Não levo isso para o lado pessoal, mas acho que as pessoas deveriam devolver o que roubaram”, afirma. (Tradução de Rachel Warszawski)

Fonte: Emma Jacobs | Do Financial Times, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.