BMG restabelece captação via cessão de crédito
O BMG conseguiu restabelecer plenamente a sua principal fonte de captação, a cessão de carteiras de crédito. Segundo o diretor financeiro, Ricardo Gelbaum, dentre o grupo de bancos que tradicionalmente compra os ativos da instituição – Itaú BBA, Santander, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNP Paribas/Cetelem- dois deles deixaram de adquirir portfólios após o episódio do PanAmericano, na segunda quinzena de novembro, para medir a temperatura do mercado. Mas, depois de contratar emergencialmente os serviços da PWCpara comprovar a eficiência do seu processo de venda de carteira, de troca de créditos no exercício da co-obrigação e de aferição de resultados, os recursos por essa via voltaram a fluir.
Do saldo de R$ 24 bilhões em ativos de crédito originados pelo banco neste ano, R$ 16 bilhões estão cedidos, sendo R$ 1 bilhão para fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC). Mais do que na cessão, o banco sentiu mais restrição na captação pela via do mercado de capitais. Bem na semana em que o PanAmericano recebeu um aporte de R$ 2,5 bilhões do controlador, por meio de um empréstimo com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o BMG tinha colocado na rua um fundo de recebíveis para captar R$ 200 milhões. De lá para cá conseguiu levantar cerca da metade disso.
“Os investidores qualificados, fundos de pensão, seguradoras e assets, ficaram assustados. Primeiro pelo caso do PanAmericano e depois pelas medidas macroprudenciais”, diz Gelbaum, referindo-se à maior exigência de capital para as instituições concederem crédito consignado acima de 36 meses, negócio “core” para o banco. Com prazo de cinco anos e carência de dois, o FIDC está garantindo remuneração de 115% do CDI aos investidores das cotas seniores. “Olhando para o portfólio do BMG, com 92% da carteira de consignado para funcionários públicos, federais, estaduais e municipais, além de aposentados e pensionistas do INSS, é praticamente um risco governo.”
A carteira recebeu classificação “AAA” pela Standard & Poor’s, nota que destoa da recente ação da Moody’s, que rebaixou a perspectiva de rating do BMG, junto com os bancos Cruzeiro do Sul, Bonsucessoe Schahin, justamente pela maior exigência de capital para operações de longo prazo de consignado e veículos. Com a mediana das operações com desconto em folha de pagamento em 60 meses, as medidas, de fato, impactam a base de capital do BMG, diz Gelbaum, mas não fizeram a cessão de crédito sumir do mapa e nem o custo de captação subir a ponto de inviabilizar essa forma de “funding”.
O peso do custo, segundo o executivo, foi principalmente sentido nas emissões de CDB, que passaram de 105% a 107% do CDI para um intervalo entre 108% e 110% do indexador. Neste preço estão embutidos não só o caso PanAmericano, como também o aumento do compulsório e a precificação pela alta esperada para a Selic a partir de janeiro. “O custo de captação para os grandes bancos, públicos e privados, também subiu e isso, por consequência, impacta os médios e pequenos, o custo subiu quatro pontos percentuais.”
Com o dinheiro mais caro e a maior exigência de capital para operar, os prognósticos para a expansão do crédito em 2011 são mais contidos. Gelbaum diz que o BMG trabalha com um previsão de 10% a 15% para o crescimento da carteira, em comparação às estimativas entre 20% e 25% para este ano. “É um bom freio”, diz. O primeiro trimestre tende a ser particularmente mais difícil.
Apesar do quiproquó que chacoalhou o segmento de pequenos e médios bancos nesta reta do fim do ano, Gelbaum afirma que o BMG deve apresentar, em 2010, o seu melhor resultado em 80 anos de história. A concessão vai se mostrar, porém, reduzida no último trimestre, na comparação com os três meses anteriores e também com o mesmo período em 2009. “Achamos prudente reduzir o passo, mesmo que os indicadores se mostrem um pouco piores”, diz. “Estamos preparados para um curto prazo pior, mas para um médio e longo prazo muito melhores.”
O executivo ainda explica que pelas simulações que fez após as medidas do BC, o BMG tem folga de capital para incrementar a carteira em 2011 ao ritmo do último trimestre de 2010. “Mas estamos atentos às oportunidades que surgirem para incrementar a base de capital em operações de três a cinco anos.” A cessão representa 65% da captação do banco, com outros 35% divididos entre depósitos a prazo, FIDC e bonds internacionais. (AC)
Fonte: Valor Economico