BC aprovou venda do Panamericano mesmo sob suspeita
O Banco Central (BC) já tinha indícios de irregularidades no Panamericano quando aprovou a venda de parte do banco para a Caixa Econômica Federal, em julho de 2010. Com a autorização, a Caixa pôde depositar a segunda e última parcela do pagamento do negócio, de R$ 232 milhões, segundo depoimento do vice-presidente de Finanças do banco, Márcio Percival, à Polícia Federal.
O BC diz que a autorização só foi dada em novembro daquele ano, quando as investigações já tinham confirmado as fraudes contábeis e o então controlador do banco, Silvio Santos, aceitara tomar um empréstimo para cobrir o rombo e, assim, manter o Panamericano funcionando.
Documentos internos do BC anexados aos processos que apuram as fraudes de R$ 4,3 bilhões no banco mostram que os técnicos da instituição começaram a desconfiar do Panamericano em maio. Em julho, os inspetores investigavam uma diferença de R$ 4 bilhões na contabilização de carteiras de crédito cedidas para outras instituições financeiras. Foi justamente nesse tipo de operação que se concentraram as fraudes que quebraram o banco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Rombo foi uma surpresa, afirma Caixa
À imprensa, a Caixa Econômica Federal tem evitado comentários sobre a compra de metade do Panamericano 10 meses antes de o Banco Central (BC) descobrir um buraco de R$ 4,3 bilhões na instituição que pertencia a Silvio Santos. Mas, à Polícia Federal, a Caixa falou. O vice-presidente de Finanças do banco, Márcio Percival, disse à PF que o rombo foi uma “grande surpresa” e garantiu que não houve pressão política do governo federal para a compra do Panamericano.
As informações estão em depoimento concedido pelo executivo na sede da PF em São Paulo no dia 16 de setembro, ao qual o Estado teve acesso. Em resposta a um pedido de entrevista da reportagem, a Caixa informou, por meio de nota, que “reitera sua convicção na capacidade de o Banco Panamericano obter retornos financeiros e competitivos por meio da geração de sinergia entre as duas instituições”.
Além de ocupar a vice-presidência de Finanças da Caixa, Percival é presidente da CaixaPar, braço do banco público que comandou o processo que resultou na compra de 49% do capital social do Panamericano por R$ 739,3 milhões.
No depoimento aos policiais, Percival também negou ser amigo de Rafael Palladino, que dirigia o Panamericano antes de as fraudes serem descobertas pelo BC. No mercado financeiro, a impressão era diferente. Chamava a atenção de muitos especialistas a proximidade do relacionamento entre os dois.
Segundo Percival, a Caixa e as empresas contratadas para avaliar o Panamericano não detectaram que o banco tinha o rombo contábil superior a R$ 4 bilhões. O executivo disse ainda que a Caixa contratou o Banco Fator para fazer essa análise. Segundo Percival, o Fator recontratou outras duas empresas (não especificadas) para ajudar na tarefa.
Percival afirmou aos policiais que a revelação das fraudes contábeis “foi uma grande surpresa, pois o banco tinha todos os balanços semestrais aprovados pelo Banco Central”. Ele disse também que a decisão de compra do Panamericano foi “estritamente empresarial, baseada em avaliação técnica e que deveria sustentar o crescimento da Caixa para os próximos anos”.
O executivo garantiu que não houve nenhuma pressão política do governo federal para a compra do Panamericano e disse desconhecer se algum agente público recebeu vantagem indevida para influir na decisão.
‘Não’ do Banco do Brasil.
A aquisição da Caixa foi anunciada ao mercado no dia 1º de dezembro de 2009. Pouco mais de um ano antes, o Panamericano teve a maioria de suas carteiras de crédito rechaçadas pelo Banco do Brasil, que também é controlado pelo governo federal.
Na ocasião, o Panamericano sofria com os efeitos da crise internacional e tentava obter dinheiro no mercado por meio da venda dessas carteiras de empréstimos. O Estado apurou que executivos do BB consideraram sofrível a qualidade das carteiras oferecidas.
Documentos do processo obtidos pela reportagem revelam ainda que ex-executivos do Panamericano cogitavam, em trocas de e-mails, oferecer a instituição ao BB caso a negociação com a Caixa fracassasse.
No depoimento à Polícia Federal, Percival contou que foi procurado por Rafael Palladino e Luiz Sebastião Sandoval (que presidia o Grupo Silvio Santos) em setembro de 2008. Na época, segundo Percival, os dois disseram que tinham interesse em vender parte do Panamericano.
Em 15 de setembro de 2008, a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers fez explodir a crise internacional, cujos efeitos são sentidos até hoje.
Fonte: Fausto Macedo e Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo