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Bancos privados de controle estrangeiro reduz provisão para calotes

Detentores de aproximadamente 17% dos ativos de crédito do sistema financeiro, os bancos privados de controle estrangeiro nunca operaram com diferença tão estreita entre inadimplência e volume de provisões para risco de calote. No fim de maio, a folga estava em apenas 10%. Para cada R$ 100 de dívida da clientela inadimplente, eles tinham provisionados apenas R$ 110, segundo dados do Banco Central.

Nos bancos privados de controle nacional, a margem era bem maior. Na mesma data, as provisões superavam em 41% o volume das operações com pagamentos em atraso há mais de 90 dias. A melhor situação era a dos bancos públicos, com folga em torno de 107%. Para cada R$ 100 em empréstimos e financiamentos em situação de inadimplência, eles tinham reservados R$ 207 para risco de calote.

O conceito de inadimplência usado pelo BC não leva em conta apenas as parcelas em atraso. Considera a dívida total daqueles clientes que estão há mais de 90 dias com algum pagamento atrasado, mesmo que o resto da dívida ainda não tenha vencido.

Os bancos de controle estrangeiro já trabalharam com folga bem maior. Em dezembro de 2008, por exemplo, a diferença estava em torno de 51%. Depois de cair a 24,6% em 2009, recuperou-se parcialmente e fechou 2010 em 29,5%. A partir daí, no entanto, entrou em trajetória de queda, fechou 2011 em 13,6% e seguiu caindo em 2012.

O consultor Alvir Hoffmann, ex-diretor de fiscalização do Banco Central, acha que a explicação mais plausível seja a crise mundial. Tanto na primeira (2007 a 2009) quanto na atual fase da crise, diversos bancos com atuação internacional tiveram que enfrentar perdas nas chamadas economias maduras (Europa e Estados Unidos). Em função disso, supõe Hoffmann, os bancos de controle estrangeiros no Brasil passaram a fazer menos provisões não obrigatórias para poder enviar mais lucros a suas matrizes no exterior.

O volume obrigatório de provisões para risco de crédito varia de banco para banco, pois depende do perfil de risco da clientela. Mesmo operações em situação normal de pagamento exigem provisões, embora menos que as inadimplentes.

Independentemente disso, a pequena diferença entre inadimplência e provisões sugere que as instituições de controle estrangeiro estão praticando nível de reserva cada vez mais próximo do mínimo exigido pelo Banco Central, acredita o ex-diretor da autarquia. Já os bancos nacionais, tanto privados quanto públicos, têm se mantido mais conservadores e, pelo tamanho da diferença, certamente têm reservas para risco de calote bem acima do mínimo, acrescenta ele.

Tanto nos privados nacionais quanto nos públicos a folga já foi maior. Mas, na opinião de Hoffman, ainda é expressiva, principalmente no caso dos bancos estatais.

Em relação ao total da carteira de crédito, o nível de provisões das instituições financeiras públicas era de apenas 4,2% em maio, o menor dos três segmentos. Nos bancos privados de controle nacional, o percentual chegava a 7,3% e nos de controle estrangeiro, a 6,1%.

Isso não significa que os públicos sejam menos prudentes, mas sim que têm uma inadimplência muito menor que a dos privados, nacionais e estrangeiros. Em maio, a dívida de clientes com pagamentos em atraso há mais de 90 dias correspondia a apenas 2% da carteira de crédito total das instituições estatais. Nos bancos privados de controle nacional, essa relação era de 5,2%, mais que o dobro portanto. E nos de controle estrangeiro, a inadimplência chegava a 5,5% em maio passado. O BC ainda não divulgou números de junho.

Juntando os de controle nacional e estrangeiro, os dados mostram que a inadimplência total da carteira de crédito dos bancos privados atingiu, em maio, um nível quase tão alto quanto o verificado em meados de 2009, ano em que a crise internacional provocou recessão econômica no Brasil. O índice chegou a 5,3% do estoque de empréstimos e financiamentos, ante 5,7% registrados em setembro e outubro de 2009, quando começou a cair paulatinamente até dezembro de 2010, quando fechou o mês em 4%. A trajetória de alta foi retomada no início do ano passado.

A melhor qualidade da carteira dos bancos públicos não é novidade. Tem sido assim desde 2006. Mas do início de 2011 para cá, enquanto a do setor privado subiu paulatina e continuamente, a do setor público ficou praticamente estável, oscilando entre 2,1% e 2,0%. Após a subida registrada em 2009, ano em que chegou a 2,7%, a inadimplência dos bancos públicos só caiu, diferentemente da dos privados, que aumentou.

A inadimplência mais baixa não é o único indicador da melhor qualidade da carteira das instituições estatais. Eles também têm uma concentração maior de operações nos quatro melhores níveis de classificação de risco, que exigem provisões, mas em menor volume. Enquanto nos públicos os níveis AA, A, B e C representavam 94,3% do total da carteira, nos privados nacionais essa relação era de 90,2% e nos privados estrangeiros, de 90,9%.

A inadimplência dos bancos estatais é influenciada pelas operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, cuja taxa é baixíssima. Mas isoladamente Caixa e Banco do Brasil, que são as dois bancos comerciais mais representativos do setor público, também têm inadimplência baixa, ao redor de 2%.

O fato de darem mais crédito direcionado pode ser uma explicação. Com ou sem subsídio, o crédito direcionado, ou seja, oriundo de fontes de aplicação obrigatória, em geral é mais barato que o crédito livre, aquele com recursos de livre alocação pelos bancos. Os bancos privados também dão crédito direcionado como os financiamentos imobiliários com recursos da poupança, mas em menor volume que os públicos.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.