PanAmericano recebe aporte de R$ 1,8 bi e compra da Brazilian Finance & Real Estate
O PanAmericano encerra o ano com uma operação que considera ser a última etapa para o banco se livrar de um passado marcado por um rombo de R$ 4,3 bilhões, descoberto pouco mais de um ano atrás. Ontem, o banco anunciou um aumento de capital de R$ 1,8 bilhão, em uma transação que resolverá os problemas de capital do PanAmericano, além de transformar o crédito imobiliário em uma de suas principais atividades.
“Vamos lançar uma nova agenda para o PanAmericano. Estamos reinventando o banco”, diz José Luiz Acar Pedro, diretor-presidente do PanAmericano. Até o nome PanAmericano deve ficar para trás em breve. Novas marcas começam a ser discutidas para o banco, que quer se livrar de um passado que inclui um rombo de R$ 4,3 bilhões por causa de fraudes enquanto estava sob o comando do empresário Silvio Santos.
Cerca de R$ 1,4 bilhão virá dos dois principais acionistas do banco, o BTG Pactual e a Caixa Econômica Federal, que colocarão o dinheiro em partes iguais. O restante virá dos sócios minoritários, que poderão aportar até R$ 400 milhões. O aumento de capital total supera o valor de mercado do PanAmericano, que encerrou o dia ontem valendo R$ 1,6 bilhão na bolsa de valores.
Desse volume de recursos, R$ 940,3 milhões serão usados para a compra da Brazilian Finance & Real Estate (BFRE), companhia de investimentos imobiliários que tem como sócios o grupo Ourinvest Real Estate, o megainvestidor americano Sam Zell (via Equity International) e o fundo TPG Axon.
É a partir dessa plataforma que o PanAmericano pretende se firmar como um dos principais agentes do crédito imobiliário no país sem o uso da caderneta de poupança, que é hoje a maior fonte de recursos para o financiamento imobiliário no Brasil.
A visão do BTG Pactual e da Caixa é que o dinheiro da caderneta de poupança se tornará cada vez mais escasso, sendo que se dará preferência ao uso desse recursos para a compra de imóveis pela baixa renda. Por isso a necessidade de criar alternativas de financiamento agora. “Esse será um diferencial do PanAmericano em relação ao outros bancos de médio porte”, afirma Acar.
Em 2011, bancos como a própria Caixa, Santander e Itaú, por exemplo, venderam parte da carteira de créditos imobiliários que tinham em balanço para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), gerando recursos para novas concessões. Outra alternativa é a oferta desses créditos imobiliários no mercado de capitais, para diversos investidores. Essa é uma atividade que já faz parte do rol de serviços da BFRE, primeira companhia hipotecária não ligada a bancos do país, criada em 1998.
Os recursos para a concessão de crédito imobiliário do PanAmericano também serão gerados a partir da venda de Letras de Crédito Imobiliário, papéis que podem ser emitidos por instituições que tenham em carteira financiamentos a imóveis.
Além disso, com a compra da BFRE, o PanAmericano absorverá uma rede de 88 lojas chamadas BM Sua Casa, que são especializadas na venda de financiamentos imobiliários. A partir de concretização da compra, as lojas do PanAmericano também passarão a oferecer o financiamento habitacional.
Toda essa nova área de crédito imobiliário ficará sob o comando de Fabio Nogueira, executivo que é um dos seis sócios da Ourinvest Real Estate e fundador da BFRE.
Apenas uma parte da BFRE não ficará com o PanAmericano. A área de gestão e investimento em fundos imobiliários, a Brazilian Capital, será vendida para o próprio BTG por R$ 275 milhões.
O restante do dinheiro será injetado diretamente no PanAmericano, que enfrenta problemas de restrição de capital. O índice de Basileia do banco – que mede o quanto uma instituição pode conceder em empréstimos – estava em 11,99%, sendo que o mínimo exigido pelos reguladores é 11%.
Segundo o Valor apurou, a Basileia do banco vai superar 20%, o que permitirá ao PanAmericano reter mais as carteiras de crédito em balanço. Em 2011, para contornar os problemas de falta de capital, o PanAmericano teve de recorrer à venda dos empréstimos que carregava. A Caixa foi uma das principais compradoras.
O objetivo do PanAmericano a partir da entrada de R$ 1,8 bilhão é se concentrar em quatro atividades: crédito imobiliário, seguros, financiamento de veículos e empréstimos para pequenas e médias empresas. São áreas que já vinham sendo reformuladas neste ano e que ganham novo fôlego.
Um dos motivos citados pelo PanAmericano para justificar a aquisição é a possibilidade de “otimizar o aproveitamento do estoque de créditos fiscais”. Em parte por causa dos prejuízos que quase o levaram à lona, o banco possui hoje cerca de R$ 2 bilhões em créditos fiscais já registrados no seu balanço. Para poder aproveitá-los, no entanto, é preciso que a instituição gere lucros tributáveis em um volume elevado, o que a administração considera que será mais fácil após a compra da BFRE.
O aporte será feito tendo como base o preço por ação de R$ 6,05, média dos últimos 180 pregões. As ações encerraram ontem cotadas a R$ 6,53, com queda de 2,53%.
O aumento de capital diluirá de forma significativa os acionistas que não acompanharem a operação. Emitir 297 milhões de novas ações significa aumentar em 121% a base de capital do Panamericano. Olhando a conta pelo outro lado, os 100% do capital do banco hoje passarão a representar apenas 45% após a operação.
Se for considerada a manutenção das participações acionárias atuais, o BTG Pactual entraria com R$ 677 milhões na transação e a Caixa com outros R$ 658 milhões, num total de R$ 1,335 bilhão. A diferença de R$ 464 milhões cabe aos minoritários. O preço de subscrição das ações foi fixado em R$ 6,05, ante a cotação de R$ 6,53 do fechamento de ontem. Resta saber como os papéis reagirão à diluição prevista no negócio. Como forma de compensar os acionistas, o banco propôs elevar o dividendo mínimo obrigatório de 25% para 30% em 2012, e depois a 35% em 2013.
Está previsto ainda que a TPG-Axon poderá usar até R$ 182 milhões do dinheiro que receber pela venda de sua fatia na BFRE para subscrever ações preferenciais no aumento de capital do PanAmericano.
A depender da demanda dos minoritário, o BTG poderá ceder seu direito de preferência de subscrição de papéis preferenciais para a TPG (que poderá escolher se entra ou não no negócio). Se o BTG ceder seu direito, sua fatia no capital do Panamericano cairia de 37,64% para 32,09%.
Fonte: Carolina Mandl, Silvia Rosa e Fernando Torres, Valor Economico