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BM&F unifica sistema de garantias

GestãoUma aguardada revolução no sistema de garantias da BM&FBovespa deve liberar ao menos R$ 30 bilhões hoje depositados por corretoras, bancos e empresas. A bolsa vai unificar suas quatro câmaras de liquidação e compensação em um único e novo sistema de risco que permitirá a redução de garantias depositadas nos seus mercados, hoje de R$ 150 bilhões, em no mínimo 20%, diz o diretor de administração de risco, Luis Antônio Barron Guerra Vicente. “Pode ser muito mais”, afirma.

Hoje quem opera nos diversos mercados da bolsa tem que depositar garantias para a transação feita em cada uma das quatro câmaras, mesmo que uma anule total ou parcialmente o risco da outra. A unificação significaria redução expressiva no custo de operação dos participantes, reivindicação cada vez mais presente no mercado. Hoje até o Banco Central deposita garantias na BM&FBovespa.

O projeto, já aprovado pelo conselho da bolsa, foi apresentado informalmente ao BC e à Comissão de Valores Mobiliários, além dos maiores especialistas em risco do país e do mundo, diz Amarílis Sardenberg, diretora executiva das clearings da BM&FBovespa. Até mesmo analistas do Fed, banco central americano, e matemáticos do mundo acadêmico foram consultados. A ideia é que o sistema seja implantado ainda no início de 2012.

Hoje, a BM&FBovespa tem quatro clearings que fazem o papel do que se costuma chamar no mercado de contraparte central garantidora. Isso significa que, se um dos bancos ou corretoras participantes do mercado quebrar, a bolsa tem de honrar os pagamentos desses participantes nos seus mercados. Para fazer isso sem quebrar, cada uma das clearings pede garantias dos participantes, que são calculadas de acordo com um complexo sistema de análise de risco.

Projeto inovador se propõe a medir risco de desmonte de posição e de liquidez de ativos heterogêneos

A Bovespa tem uma antiga câmara de compensação e liquidação, a CBLC, que atua como contraparte central no mercado de ações à vista e de opções de ações. A outra câmara é da BM&F, para os derivativos de câmbio, juros, Ibovespa Futuro e outros. Há ainda a clearing de câmbio e a clearing de ativos para títulos públicos.

“Queremos unificar essas clearings de forma a ter um saldo líquido único”, afirma Amarílis. Ou seja, no final do dia todas as transações serão liquidadas em um mesmo sistema e as garantias necessários serão calculadas de forma única. Haverá tecnologia de suporte única, acesso centralizado a todos os mercados e padrão unificado.

Para tanto, a bolsa está desenvolvendo o que Vicente qualificou como “sistema de risco de terceira geração”, que permite a integração de ativos “altamente heterogêneos”, tão heterogêneos quanto uma ação e um swap reverso de câmbio.

O novo sistema vai permitir que o risco de um fundo com uma carteira de ações que replique exatamente o índice Bovespa (um ETF Bova 11, por exemplo) possa ser compensado com a venda do Ibovespa futuro, por exemplo. Hoje, o fundo deposita garantias para as ações na clearing do sistema Bovespa e faz o hedge em outra clearing, da BM&F. Tem de depositar garantias duas vezes, portanto, e um risco não compensa o outro.

Os dois executivos fizeram questão de frisar que o novo sistema vai permitir a compensação de risco somente de ativos que representem uma proteção explícita, como um fundo do Ibovespa com o Ibovespa futuro, uma ação da Petrobras e uma opção dessa mesma ação. Não terão seu risco anulado ativos diversificados e sem correlação, como se fazia usando-se o método chamado de VAR (Value at Risk).

“É sabido que a primeira coisa que acontece em uma crise é o desmonte de correlações históricas”, lembra Vicente. Já em 1998, na crise da Rússia, o VAR passou a ser questionado. Agora, na crise de 2008, foi ainda mais criticado.

O que os “nerds” da matemática da BM&FBovespa prometem é um sistema de risco capaz de calcular até o risco de desmonte de uma posição, que inclui o chamado risco de liquidez. Para isso, eles vão contar com a ajuda do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) do Rio. “Vamos registrar patente no Brasil e nos EUA”, diz Amarílis. O sistema já tem nome: Closeout Risk Evaluation (Core).

Um exemplo para entender como o Core funcionará: um banco pode fazer com uma empresa um contrato de swap (troca) de dólar pelo real no mercado de balcão e ficar assim comprado em real em uma data no futuro. Esse banco registra a transação na bolsa e pede para que a instituição atue como contraparte central. Para se proteger, o mesmo banco vende dólar no mercado futuro na BM&F. Do ponto de vista de seu balanço, o banco está com o risco zero – o swap com a empresa tem o mesmo tamanho do contrato futuro na BM&F. Hoje esse banco paga, no entanto, garantias nas duas pontas na BM&FBovespa. Deposita, assim, mais garantias do que um banco que não fez o hedge e ficou somente com o swap de câmbio feito com a empresa, correndo risco maior.

Pelo novo sistema, no entanto, os riscos do swap e do contrato futuro serão compensados. Isso não significa, no entanto, que um risco anule 100% o outro, explica Vicente. A razão: o swap, por ser um contrato feito sob medida para uma empresa e não ser padronizado para negociação, demora mais tempo para ser vendido do que o contrato futuro. O risco de desmonte da posição, de liquidação da posição propriamente dita, é diferente em um momento de estresse. No swap, pode ser de, por exemplo, cinco dias, enquanto o contrato de câmbio no mercado futuro seria desmontado no mesmo dia desejado.

Ou seja, se o banco quebrar, a BM&FBovespa vai demorar mais tempo para desmontar o swap do que o contrato futuro de dólar. Para não ficar descasada, com o risco de câmbio do swap aberto, a bolsa terá de esperar os cinco dias para desmontar o futuro. Aí entra um novo complicador: o swap é liquidado só no fim do contrato, enquanto os contratos futuros de câmbio na BM&FBovespa têm ajuste diário. Na hipótese de o dólar subir 20% ao dia o banco ganha no swap com a empresa, mas perde no contrato futuro e poderá ter problemas de caixa para pagar o ajuste. É o chamado risco de liquidez. É esse risco que o novo sistema da BM&F se propõe a medir usando cenários de estresse máximo.

Fonte: Cristiane Perini Lucchesi, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.