Artigos

Uma chance para Tombini e a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE)

Por Angela Bittencourt, Casa das caldeiras, Valor Economico

O momento não poderia ser mais oportuno para o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, vir a público fazer um balanço das operações da instituição, apontar as prioridades eleitas por sua diretoria neste momento e o cenário em que estão sendo processadas as políticas monetária e cambial. Às 10 horas, Tombini cumpre a obrigação legal de prestar contas a parlamentares reunidos na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), palco dessas audiências públicas periódicas que raramente se limitam ao relato das rotinas da instituição. Hoje, o presidente do BC comparece pela nona vez à CAE desde a sua posse no início de 2011. Deve fazer uma apresentação e um pronunciamento, o que é raro. Até hoje, só ocorreram três em suas audiências no Senado. E essa escassez é prova da relevância da palavra do presidente do BC que se faz necessária neste momento de mercado sutilmente dividido. Perigosamente dividido.

De um lado, estão aglutinadas instituições que veem o BC com a faca no pescoço e impedido pela presidente Dilma Rousseff de fazer o que consideram inquestionável para controlar a inflação – aumentar o juro para forçar a queda ao centro da meta; de outro, estão as instituições já convencidas de que o BC incorporou políticas defendidas pela equipe econômica em geral e pelo Planalto em particular. E, como um BC confiante  no declínio da inflação no segundo semestre, será econômico na elevação da taxa Selic, podendo até evitar qualquer ajuste neste ano.

As últimas declarações dadas pelo presidente do BC estão publicadas no site do Planalto com o objetivo de esclarecer interpretações [que o governo considerou equivocadas] de afirmações feitas pela presidente em entrevista concedida durante a V Cúpula dos Brics, em Durban, na semana passada.  Tombini  insistiu que “se e quando for preciso usar o instrumento de política monetária para o controle da inflação, isso ocorrerá”.

Em dezembro passado, última vez que Tombini esteve na CAE para falar sobre política monetária, o seu discurso teve claramente dois momentos. Tratou inicialmente do assunto do momento. Isto é, das transferências de controle acionário, intervenções e liquidações ocorridas no sistema bancário. O tema mostrou-se urgente ante a quebra do Cruzeiro do Sul em setembro e da intervenção do BC no BVA em outubro. Naquele momento, os problemas apresentados por essa dupla sacudiu o segmento de pequenos e médios bancos. E, na CAE, o presidente do BC informou objetivamente todas as ações tomadas ao longo de dois anos e que resultaram no saneamento do sistema.

O segundo momento da audiência pública de Tombini na CAE em dezembro foi dedicado exatamente ao que move o mercado financeiro – à atualização do cenário macroeconômico. Ele indicou que a Europa persistia como fonte de preocupação por fragilidades econômicas e financeiras; que dos Estados Unidos a insegurança vinha do campo fiscal via ameaça de contração acenada pelo “fiscal cliff”; e, da China, indicadores sinalizavam estabilização do crescimento.

No Brasil, em dezembro apontou Tombini, o cenário era de recuperação gradual no segundo semestre com perspectiva de intensificação ao longo de 2013, sendo que o crescimento ocorreria num ambiente de inflação sob controle. Há quatro meses, na apresentação feita aos senadores, o presidente do BC ainda mencionava a inflação em trajetória para a meta ao longo de 2013, afirmando que um conjunto de fatores favorecia esse movimento: reajuste do salário mínimo menor do que em 2012 com repercussão sobre custos de produção; perspectivas de moderação na dinâmica de certos preços de ativos reais e financeiros para os próximos semestres; possibilidade de expansão do crédito para pessoas físicas, mas em ritmo mais alinhado ao crescimento da renda disponível das famílias; perspectiva de cenário internacional atuando como fator de contenção da demanda agregada, apesar dos sinais recentes de certa estabilização.

Em um trimestre, ao concluir seu pronunciamento aos senadores, o presidente do BC assegurou que a instituição se mantém vigilante com o comportamento da inflação. E, claro, isso continua valendo. Mas a indicação de que “a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2013” não vale mais.

© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A.

Leia mais em:

http://www.valor.com.br/valor-investe/casa-das-caldeiras/3069400/uma-chance-para-tombini#ixzz2POZWS0YS

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.