“Tokenização” é recurso contra fraudes
Segurança máxima contra fraudes e maior facilidade nas transações virtuais são metas perseguidas de forma quase obsessiva pelas emissoras de cartões no Brasil. As cyber securities buscam blindar os cyber attacks, invasões cada vez mais frequentes para fraudar o sistema. É a chamada “inteligência de risco”. Investimentos feitos em tecnologias colocaram o país entre os três maiores do mundo em tecnologia de “chipagem”. De novo na frente, a indústria de cartões está adotando a “tokenização”, recurso que fornece um novo número a cada compra efetuada, tornando a operação protegida de fraudes.
A migração do cartão com tecnologia magnética para o outro com chip deu início a uma nova onda de transações de pagamentos móveis com cartões sem contato, explica Ernesto Haikewitsch, diretor de marketing & comunicação da Gemalto da América Latina. Essa evolução levou à chamada tokenização, que consiste em substituir as credenciais do cartão por outro código. Isto significa que os dados do token serão armazenados no dispositivo móvel, protegendo o verdadeiro número do cartão de um eventual uso indevido. “É como se a cada compra na internet houvesse um número de cartão de crédito exclusivo para aquela compra”, diz Haikewitsch.
Segundo ele, o Banco do Brasil há um mês já está oferecendo o serviço. “Trata se de uma tendência de mercado e todos os bancos vão para o mesmo caminho”, completa.
A companhia francesa é tida como a maior fabricante global de chips para operadoras de telefonia celular e tem como foco desenvolver soluções para garantir segurança. Para isso, não falta mercado. De acordo com Haikewitsch, em 2014 foi registrado 1 bilhão de fraudes em toda a indústria, 200 milhões deles na indústria financeira, em todo o mundo.
A Gemalto faturou no ano passado € 2,5 bilhões, 34% deles nas Américas (informação corrigida em 16/06/2015). Segundo o executivo, “o Brasil foi um dos primeiros países no mundo a migrar toda a base de cartões bancários para cartões com chip na mesma velocidade que Europa e Ásia”.
A rede de cartões no Brasil é uma das maiores do mundo e mais capacitada em relação à tecnologia. “Praticamente, toda indústria já está preparada para transações seguras com chip, com ou sem contato. Aqui, estamos saindo na frente dos Estados Unidos e vários emissores na Europa e Ásia na adoção de tokenização”, completa.
Segurança máxima também é o objetivo da bandeira Visa. “Os cyber attacks vêm aumentando e precisamos ter preparado toda uma série de ferramentas, uma plataforma extremamente robusta para poder trabalhar com esses desafios”, diz Percival Jatobá, vice presidente de produtos da Visa. “Hoje, nossa plataforma tem o que chamamos de inteligência de risco, que são ferramentas que avaliam o risco e o peso de cada uma das transações”, explica. “Quando falamos em inovação, não se deve esquecer o tema fundamental, que é segurança”, afirma.
A primeira medida que a Visa tomou, segundo o executivo, foi reforçar seu compromisso com a migração dos cartões não chipados para chipados, “componente importante porque regula quem é o responsável por uma potencial fraude ou uma potencial transação em disputa”. Hoje, 99,99% dos cartões de crédito e débito no Brasil são chipados.
“O Brasil está entre os três países mais avançados do mundo em termos de chipagem de cartões, a exemplo da França e Inglaterra. Nem os EUA, que é um dos maiores mercados do mundo, evoluíram tanto nesse sentido”, afirma Raul Moreira, vice presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).
O Brasil, observa Moreira, anda a passos largos na área de inovação. Um exemplo de tecnologia implantada por toda a indústria foi o processo de liberação e uso de cartões no exterior, principalmente nos EUA, um dos destinos preferidos dos brasileiros. “Praticamente todos os grandes emissores de cartões, no Brasil, possuem uma tecnologia que permite ao cliente habilitar ou desabilitar o uso de cartão lá fora, através do celular. Isso traz uma segurança considerável nos mercados que ainda não adotaram a tecnologia do chip”, reforça. Quando se fala em e commerce os emissores atuam em duas frentes para evitar a fraude: autenticação eletrônica e uso de cartão de crédito, exclusivamente, para o ambiente web, explica vicepresidente da Abecs.
O objetivo de toda a indústria é dar o máximo de proteção aos dados. “Investimos muito para garantir que, independentemente do canal onde a transação é realizada seja em um terminal físico, em um canal e-commerce ou em um canal móvel os dados da transação estejam completamente assegurados”, afirma Jatobá. O tema da moda segundo o executivo “é o cyber security, porque os cyber attacks vêm aumentando”.
A companhia também conta com ferramentas que preveem a chegada de vírus, entrando no circuito e tomando todas as atitudes necessárias. “Temos uma área completamente voltada para toda vulnerabilidade, focada em identificação e acesso”, diz.
Para Marcelo Tangioni, vice presidente de produtos da MasterCard Brasil e Cone Sul, “o grande desafio é trazer soluções confiáveis, seguras, mas ao mesmo tempo de fácil utilização, convenientes e rápidas”. Facilitar o uso é estratégia para alcançar aqueles que estão fora do sistema bancário. “Precisamos também ir atrás de parceiros que conseguem alcançar esse público, que hoje é de cerca de 40% da população, que não têm acesso a banco”, diz Tangioni.
Uma joint venture com a Vivo, no Brasil “teve como principal objetivo promover essa inclusão financeira”. A TIM, a Caixa Econômica e a MasterCard também fizeram uma parceria para lançar um serviço que usa o celular como meio de pagamento e operações de débito e saque conhecido como mobile money, explica o executivo. No seu entender, o que impulsiona essa transformação é a mudança de comportamento das pessoas, que cada vez mais adotam o smartphone. “A previsão é que até 2017, 1% da base de celulares no Brasil será de smartphone”, afirma.
A carteira digital, ou MasterPass, é considerada pelo executivo como a primeira e mais avançada solução à disposição do cliente. “Ela oferece a possibilidade de fazer transações online, e-commerce, de forma mais segura”, diz Tangioni. Segundo ele, com a chegada do MasterPass em diversas lojas online do Brasil, a bandeira vem marcando presença em mais de 50% do mercado de e-commerce. “A solução funciona como uma carteira digital, facilitando pagamentos na web quando o consumidor realiza compras em sites parceiros”, explica. Desta forma, é possível pular a fase de preenchimento de formulários longos, com números de cartões e dados pessoais, e realizar o pagamento do pedido com poucos cliques, mesmo que se use cartões de bandeiras concorrentes.
Outra vantagem é que o MasterPass também “poderá ser usado em smartphones, realizando pagamentos através de códigos QR e aproximação NFC”, completa. Segundo o executivo, não é preciso passar pelo processo de conclusão de compra tradicional de loja de e-commerce, além de ser uma transação mais segura e mais simples.
Pesquisa citada por Tangioni mostra que a principal razão de abandono de uma compra no e-commerce é nessa hora em que tem que se colocar os dados cadastrais. “Estamos trazendo a conveniência tanto para o consumidor como para o estabelecimento comercial.” O produto começou a ser comercializado com os bancos no ano passado e já foram implantados cinco carteiras com cinco clientes que estão em piloto. “Em julho, será feito o lançamento para o mercado.”
Fonte: Valor Economico