Silvio Santos depõe sobre PanAmericano e diz ‘não lembrar de nada’
Ao chegar à Justiça Federal em São Paulo para depor na condição de testemunha de um dos réus no processo criminal do PanAmericano, o empresário Silvio Santos disse não fazer ideia de quem seja o responsável pelo rombo bilionário na instituição financeira, que já pertenceu a ele: “Eu sei lá, você pergunte pra Polícia. Eu sei lá. Eu não sou policial”, respondeu, sorrindo.
Ao ser perguntado se fazia ideia de quem seria o responsável pelo desfalque, rebateu, de bate-pronto: “Eu não, nem quero ter. Isso aí é pra quem tem competência. Eu não. Vou julgar o que?”, esquivou-se, entrando em seguida no elevador do fórum Jarbas Nobre, nos Jardins.
O dono do SBT foi questionado pelo juiz titular da 6ª vara criminal, Marcelo Costenaro Cavali e pelo procurador da República Rodrigo De Grandis, responsável pela acusação no caso.
Silvio não respondeu a nenhuma das questões dirigidas a ele. Saiu-se com evasivas como “eu não sei” e “eu não me lembro”. Ficou pouco mais de 30 minutos diante do juiz e do procurador.
Segundo o procurador De Grandis, o depoimento de Silvio Santos como testemunha de defesa não muda a situação dos acusados, no entendimento do Ministério Público Federal (MPF). “O depoimento só confirmou a posição dos acusados dentro da estrutura societária do banco e não enfraquece, de modo algum, a acusação”, afirmou. “Do ponto de vista processual, não foi relevante”, considerou.
Silvio Santos não respondeu a nenhuma das perguntas feitas. Em dado momento disse ao magistrado: ”Doutor, eu tenho a memória fraca. Não me lembro de nada [sobre a PanAmericano]”.
Silvio compareceu à Justiça sem advogado.
Ele foi arrolado como testemunha de defesa de Cláudio Barat Sauda, um dos 17 réus acusados de crimes contra o sistema financeiro nacional no processo do Banco PanAmericano.
O depoimento de Silvio Santos faz parte da segunda fase da instrução processual do caso PanAmericano. Catorze ex-diretores e três ex-funcionários da instituição respondem ao processo, entre os quais o ex-presidente do conselho de administração do banco, Luiz Sebastião Sandoval, e o ex-diretor superintendente, Rafael Palladino.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) à Justiça em agosto de 2012, entre abril de 2007 e novembro de 2010 – período a que a investigação foi restrita – Sandoval, Palladino, Wilson Roberto Aro, diretor financeiro, Adalberto Savioli, diretor de crédito, Antônio Carlos Quintas Carletto, diretor de cartões e outras 12 pessoas processadas teriam desviado e se apropriado de R$ 88.387.999,88, por meio da distribuição fraudulenta de “bônus”.
Além dos crimes descritos no relatório final da Polícia Federal, concluído em fevereiro de 2012, a análise do MPF identificou outros indícios de irregularidades na gestão do PanAmericano, como o pagamento de propina a agentes públicos, doações feitas a partidos políticos com ocultação do real doador, remuneração a escritório de advocacia em valores aparentemente incompatíveis com os serviços prestados e fornecimento de informações ilegítimas ao Banco Central.
A ação narra que lançamentos manuais na contabilidade do PanAmericano teriam viabilizado fraude de R$ 1,6 bilhão nas carteiras cedidas a outros bancos e de R$ 1,7 bilhão nas liquidações antecipadas de contratos. O valor que deveria ser indevidamente contabilizado era previamente estabelecido em reuniões mensais, com a participação de vários dos denunciados, segundo o MPF.
A fase final do processo, com os interrogatórios, só deve ocorrer no ano que vem.
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Um octogenário tem a saída do esquecimento. Se pensarmos bem, no caso do Panamericano, aos investidores não restou nenhum dano. Já os octogenários dos bancos quebrados, ao aludirem ao esquecimento, provocarão um tratamento compatível com suas práticas, pois a falta de lembrança destes vem com a roupagem que cheira à chacota ante o prejuízo dos credores. Em seu depoimento, Senor Abravanel, ao referir-se à supremacia da Memória sobre os homens, conseguiu ser contemplado com certa tolerância. Diferentemente, ao invocarem a Memória, os octogenários falidos apenas lograrão aumentar o asco que lhes envolve.