Rombo do PanAmericano: PF desiste de indiciar Deloitte em caso do PanAmericano
A Polícia Federal não encontrou provas suficientes que justificassem o indiciamento dos dois sócios da Deloitte -José Barbosa da Silva Junior e Osmar Aurélio Lujan- responsáveis pela auditoria do PanAmericano.
Para incriminá-los, a PF precisaria ter localizado indícios de que os dois participaram ou, ao menos, souberam das fraudes que levaram ao rombo de R$ 4,3 bilhões. Para a PF, é possível que os auditores tenham se omitido ou cometido falha técnica. Mas essa investigação cabe ao Banco Central. A Folha apurou que já está em curso no BC um processo que apura a atuação da Deloitte no caso.
As penas podem ser de suspensão até inabilitação dos auditores. A Deloitte pode ser responsabilizada por não ter feito ressalvas no balanço do PanAmericano quando teve dificuldades para atestar transações envolvendo carteiras de crédito do banco vendidas a outras instituições -principal foco das fraudes.
Para ter certeza de que esses negócios foram feitos, a Delloite enviou cartas aos bancos compradores das carteiras do PanAmericano, mas não teve respostas.
Os auditores implementaram, então, um teste alternativo que consistia em escolher uma amostra das carteiras para buscar informações que comprovassem as transações. Exemplos: pagamentos feitos pelos próprios clientes devedores, existência do bem alienado e CPF dos devedores.
A Folha apurou que, por esse método, a Deloitte não teria detectado irregularidades e, por isso, julgou que não precisava fazer ressalvas. Mas o BC ainda tem dúvidas e segue as investigações.
BRECHAS
Não é a primeira vez que a Deloitte está sob suspeita. A auditoria foi investigada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por não feito ressalva em relação aos derivativos cambiais da antiga Aracruz. O caso terminou em acordo, e os investigados pagaram R$ 1 milhão.
No caso do PanAmericano, a principal defesa é que os auditores foram vítimas de uma fraude orquestrada para despistar os controles externos e e a fiscalização do BC.
A partir de novembro de 2010, quando foi informada das inconsistências no banco, a Deloitte passou a vasculhar cada um dos contratos e verificou que as fraudes somaram R$ 4,3 bilhões.
Esse trabalho durou de novembro de 2010 a fevereiro deste ano e só foi possível porque o esquema da fraude já tinha sido apurado pelo BC.
Procurada, a Deloitte afirma que está impedida por questões de confidencialidade e de ética profissional a fornecer informações que envolvam qualquer empresa. A Deloitte diz ainda que se colocou à disposição das autoridades competentes para cooperar com as apurações.
Fonte: Julio Wiziack, Toni Sciarretta e Flávio Ferreira, Folha de S.Paulo