PF prende pai de ex-presidente do Cruzeiro do Sul; filho foi preso ontem
A PF (Polícia Federal) cumpriu mandado de prisão domiciliar contra Luis Felipe Indio da Costa, pai de Luis Octavio Indio da Costa, em sua residência na cidade do Rio de Janeiro na manhã desta terça-feira (23).
Ex-dono do Banco Cruzeiro do Sul, liquidado pelo BC (Banco Central) no mês passado devido a um rombo contábil de R$ 3,1 bilhões, Luis Felipe está sendo mantido em prisão domiciliar por ter mais de oitenta anos de idade.
Seu filho, Luis Octavio, foi preso na noite de ontem. Eles são suspeitos de crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais, além de lavagem de dinheiro, segundo a PF. Caso sejam indiciados e condenados, os banqueiros podem pegar entre um e 12 anos de prisão.
Em sua decisão, o juiz Márcio Ferro Catapani, disse que é “concreto o risco de que os investigados ocultem, dissimulem e se desfaçam de seu patrimônio, que há de ser utilizado para ressarcir as vítimas e recompor o patrimônio da instituição financeira”.
O mandado de prisão preventiva foi expedido pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo em razão de um inquérito policial que tramita na Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros.
Segundo a PF, também foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro contra dois altos executivos do banco.
A Justiça não determinou a prisão dos administradores, mas fixou fianças de R$ 1 milhão e R$ 1,8 milhão e decidiu, como medida preventiva, proibi-los de viajar para o exterior, de exercer qualquer atividade no mercado financeiro ou dispor de bens próprios ou de terceiros.
PRISÃO DE INDIO FILHO
A prisão de Luis Octavio aconteceu em sua casa, em um condomínio na Granja Vianna, na cidade de Cotia (região metropolitana de São Paulo).
Na noite de ontem, após a divulgação da prisão de Luis Octavio, Podval disse que ainda não tinha tido acesso ao pedido de prisão de seu cliente, mas que não entendia o motivo da prisão preventiva –uma vez que entregou o passaporte do banqueiro à Polícia Federal.A Folha não conseguiu contato com o advogado Roberto Podval, que defende os dois acusados, na tarde desta terça-feira.
Antes da crise do Cruzeiro do Sul, o Luis Octavio ficou conhecido pelas festas dadas a até mil convidados em sua casa, em Cotia.
Em 2009, patrocinou um show com cantor americano Tony Bennett em comemoração dos 15 anos do banco e um concerto com o britânico Elton John na Sala São Paulo. Também namorou a apresentadora Daniela Cicarelli.
FRAUDE NO CRUZEIRO DO SUL
O inquérito foi instaurado pela PF em junho deste ano, após o Banco Central constatar fraudes contábeis e indícios de operações de crédito fictícias no Banco Cruzeiro do Sul. Segundo a polícia, ao longo da investigação foram detectados outras condutas criminosas em fundos de investimento, que deixaram como vítimas dezenas de investidores.
Antes de liquidar o Cruzeiro do Sul, o Banco Central nomeou como interventor o FGC (Fundo Garantidor de Créditos), com a missão de encontrar um comprador e de negociar com os credores. O fundo chegou a propor um “perdão” de 49% para os credores, mas a operação não foi adiante pela falta de um comprador para o banco.
A venda do banco foi inviabilizada por uma série de questões legais e comerciais. O negócio de crédito consignado já não atraia mais os grandes bancos, que podem fazer esses empréstimos com menor custo nas agências.
O comprador teria ainda de trazer pelo menos R$ 700 milhões ao Cruzeiro do Sul. O que mais interessava era um crédito tributário que poderia chegar a R$ 1 bilhão, mas esse crédito foi calculado com base em empréstimos que são contestados.
COBERTURA do FGC
Segundo o BC, cerca de 35% dos depósitos do banco contavam com garantia do FGC. O fundo cobre CDBs em até R$ 70 mil por CPF e até R$ 20 milhões para as aplicações que contavam com seguro especial (o DPGE).
Com a liquidação, o banco deixou de funcionar operacionalmente. As unidades do Cruzeiro do Sul foram fechadas, e a maioria dos funcionários, dispensada. As ações perderam todo o valor e deixaram de ser negociadas na Bovespa.
O trabalho em curso do FGC é fazer um inventário de tudo o que pode ser vendido e convertido em dinheiro para pagar os credores. Os primeiros a receber serão os funcionários.
Fonte: Folha de S.Paulo