Para Cielo, Copa vai tirar R$ 1 bi do setor de cartões
A credenciadora de cartões Cielo estima que a Copa do Mundo trará uma perda de R$ 1 bilhão em volume financeiro de compras em cartões que deixarão de ser capturadas pela companhia. A pesquisa, apresentada na teleconferência de resultados do primeiro trimestre, contradiz uma análise divulgada pelo banco Credit Suisse em janeiro, que estimou que, na indústria de cartões como um todo, o campeonato traria um efeito positivo de R$ 5,9 bilhões em transações a mais feitas com pagamentos eletrônicos no Brasil.
As conclusões da Cielo se baseiam na queda no movimento do comércio, graças aos feriados decretados nas cidades-sede. Até agora, quatro cidades-sede decretaram folga nos dias de jogos. “A Copa tem um impacto positivo, que são os gastos de turistas estrangeiros. Só que os feriados compensam esse efeito e, líquido, ele acaba sendo negativo”, afirmou Rômulo de Mello Dias, presidente da credenciadora.
As premissas da companhia envolvem um aumento de 23% nos gastos de turistas no país (o mesmo da Copa da África do Sul), e o Brasil chegando à final da competição – o que aumenta o número de feriados.
O “efeito Copa”, porém, precisa ser relativizado. “Isso não representa nem 1% de todo o volume que vamos capturar no ano”, disse Dias. “O objetivo era desmistificar a tese de que a Copa poderia ser positiva para indústria”, diz. No ano passado, a Cielo capturou R$ 450 bilhões em compras com cartão em suas máquinas.
É justamente essa a tese defendida pelos analistas do Credit Suisse em janeiro. Pelo estudo, turistas domésticos e estrangeiros trariam um incremento, ao todo, de R$ 11,2 bilhões em gastos na Copa, mais do que a metade do que espera o governo (R$ 25,2 bilhões). Desse total, R$ 5,9 bilhões seriam pagos com cartões.
“Para a indústria de cartões, o aumento nos gastos [de turismo] deve ser mais que o suficiente para compensar a desaceleração ou o adiamento de consumo que deve ocorrer em outros setores”, escreveram os analistas do Credit.
Quem acompanha o consumo como um todo afirma que o impacto da Copa tende a ser neutro ou marginalmente positivo. É essa a conclusão a que chegou a Tendências Consultoria Integrada, depois de analisar uma série de estudos internacionais que observavam os impactos de grandes eventos esportivos na economia. “O impacto real dos eventos na economia tende a ser menor do que o estimado. No caso da Copa, deve ser praticamente neutro”, afirma a economista Mariana Oliveira.
“Setores que se beneficiam com evento, como o de televisores, são compensados por outros segmentos em que o consumo é menor. Aí o efeito no todo é pequeno”, diz.
Independentemente do Mundial, a Cielo começou os três primeiros meses do ano com um resultado que encheu os olhos de analistas e ficou acima das projeções do mercado. A credenciadora obteve lucro líquido de R$ 802,7 milhões no primeiro trimestre, crescimento de 27,4% ante igual período de 2013. O volume financeiro capturado foi de R$ 119,6 bilhões, com avanço de 22,5%.
Em teleconferência sobre os resultados da companhia, Dias afirmou que o crescimento dos volumes capturados tende a desacelerar nos próximos trimestres, movimento semelhante ao ocorrido em 2012. “A segunda metade do ano passado foi mais forte, o que prejudica a base de comparação.”
A companhia também aumentou a previsão de gastos em 2014, para entre R$ 0,75 e R$ 0,78 por transação (ante projeção anterior de R$ 0,72 a R$ 0,75). As despesas devem ser destinadas, em parte, para a construção da nova plataforma tecnológica da Cielo, que vem sendo estruturada desde a aquisição da empresa americana de pagamentos, Merchant e-Solutions, em julho de 2012. Segundo Clovis Poggetti, vice-presidente de finanças, a plataforma deve ficar pronta entre 2015 e 2016.
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