PanAmericano deu quase R$ 1 mi para receber dívida de AL
O PanAmericano repassou R$ 954 mil a fornecedores da campanha da coligação que reelegeu o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), em troca do recebimento de uma dívida de R$ 3,3 milhões do Estado.
A dívida era referente a créditos consignados que o governo descontou de seus servidores em 2006 e não transferiu ao banco.
Em agosto de 2010, a cúpula do PanAmericano formalizou um contrato com o governo para receber o dinheiro.
Porém, nos bastidores, ex-dirigentes do banco e integrantes do governo acertaram que haveria uma contrapartida para a quitação o PanAmericano pagaria ao governo uma “taxa de retorno” de 25% do valor da dívida mais a correção monetária do período. Total: R$ 1,2 milhão.
E-mails obtidos pela Polícia Federal mostraram que o acerto da “intermediação” foi feito com o então secretário de Desenvolvimento Luiz Otávio Gomes e a realização do pagamento seria a “única forma de liquidarem o débito”.
As mensagens também revelaram que o repasse seria “a título de doação para campanha do PSDB mediante recibo ou emissão de nota fiscal por empresa indicada pelo secretário”.
A auditoria interna do banco confirmou o pagamento a duas empresas que, segundo a Justiça Eleitoral, foram fornecedoras de campanhas.
No relatório, a que a Folha teve acesso, os peritos identificaram que a produtora de vídeo VTK recebeu R$ 200 mil. A gráfica Soroimpress ficou com R$ 754 mil.
A diferença (R$ 318,8mil) não foi localizada pelos auditores do PanAmericano.
A VTK é uma empresa de Alagoas que atua há 15 anos na produção de vídeos para campanhas políticas.
Um de seus sócios, Kleyner Gomes, disse que o pagamento do PanAmericano foi usado para quitar a produção de vídeos de deputados da coligação tucana em Alagoas.
A Soroimpress já é alvo de outra investigação da PF por supostamente ser uma empresa de fachada envolvida em campanhas eleitorais.
Governo nega ter feito ‘acerto’ para campanhas
O governo de Alagoas confirmou o contrato com o PanAmericano e negou o recebimento da “taxa de retorno”. “Não há relação entre o contrato pelo qual o governo quitou sua dívida com as nossas despesas de campanha”, diz Rui França, secretário de Comunicação de Alagoas.
O secretário Luiz Otávio Gomes também negou ter feito “acertos” com o banco.
Kleyner Gomes, sócio da VTK, disse que foi contratado por uma empresa ligada ao PanAmericano. “Por isso não estranhei o pagamento [em nome do banco]. Só passei a suspeitar que a empresa estivesse sendo usada para uma doação disfarçada após matérias da Folha.”
A reportagem foi ao endereço da Soroimpress, em São Paulo. No local, porém, funciona o tradicional clube de bailes Piratininga.
José Luís Oliveira, advogado de Wilson de Aro, não comentou, devido ao sigilo. Maria Elizabeth Queijo, advogada de Rafael Palladino, não ligou de volta.
Fonte: Flávio Ferreira, Julio Wiziack e Toni Sciarretta, Valor Economico