Nova regulação afeta liquidez do mercado
As oscilações de mercado, na semana passada, despertaram dúvidas sobre se as regulações bancárias implantadas após a crise financeira de 2008 exacerbaram quedas de preços ao limitar a capacidade dos bancos de Wall Street de atuarem como formadores de mercado.
Depois que as ações e alguns títulos corporativos caíram na semana passada, alguns gestores de fundos de hedge disseram que as exigências de maior capital haviam limitado a capacidade das mesas de operação de Wall Street de atenuar as quedas por meio de operações de compras de ativos – atuação conhecida como “fomentadora de liquidez”. Também culparam a “regra Volcker”, da Lei Dodd-Frank, que impõe limites aos bancos garantidos pelo governo dos EUA de especular com alguns ativos, o que inclui dívida corporativa.
Mas nem todos concordaram. Um executivo sênior de um grande banco americano disse que as queixas dos gestores de fundos a respeito da baixa liquidez não eram porque as negociações haviam parado. Em vez disso, eles estavam desapontados com os preços que os fundos receberam pelos títulos que estavam tentando vender.
“Quando ouço queixas sobre uma menor liquidez, me lembro que acontece a mesma coisa quando há muita liquidez”, disse Paul Volcker, o ex-presidente do Federal Reserve cujos pedidos para limitar a capacidade dos bancos tomadores de depósitos de apostarem com seu próprio dinheiro inspirou a regra que leva seu nome, em um e-mail. “A percepção dos operadores e dos investidores a respeito da capacidade de vender qualquer coisa instantaneamente contribuiu para a alavancagem excessiva e para a tomada de risco que levou à crise.”
Esses são quatro dos principais pontos levantados por ex-reguladores, estrategistas, acadêmicos e outros participantes do mercado a respeito do relacionamento entre as regulações bancárias e a liquidez:
1) A liquidez que existia antes da crise de 2008 era desejável?
Empresas como a American International Group e o Citigroup tomaram riscos antes da crise financeira que ajudaram a impulsionar a liquidez em títulos atrelados a hipotecas. Quando o mercado caiu, se deram conta de que haviam subestimado os riscos e o governo precisou intervir e resgatá-las. As novas regulações visam a forçar os grandes “players” do mercado a precificar os riscos de forma mais cautelosa.
“É algo muito bom que não tenhamos AIGs dispostas a oferecer uma grande liquidez e que estejam comprando essas coisas agora, de forma que não teremos que resgatá-las um dia”, disse Barney Frank, ex-congressista de Massachusetts que foi coautor da Lei Dodd-Frank.
2) Mesmo sem as novas regras, os bancos de Wall Street gostariam de oferecer o tipo de liquidez que existia antes de 2008?
Durante a crise, os seis maiores bancos dos EUA perderam mais dinheiro com as operações realizadas durante cinco trimestres do que levantaram nos 13 trimestres anteriores entre meados de 2006 e 2010, segundo cálculos de Mark Williams, ex-avaliador bancário do Fed que agora ensina gestão de risco na Universidade de Boston.
“Por que um banco interviria no meio do processo para possivelmente perder dinheiro em um momento em que os preços estão em queda?”, questiona Peter Tchir, diretor de estratégia da Brean Capital LLC em Nova York. “O mercado de bônus corporativo, especialmente o de alto rendimento, tende a congelar antes de todo o resto. Isso sempre representou um problema e acabou piorando com a postura cautelosa dos grandes bancos desde a crise.”
3) A liquidez do mercado de títulos do Tesouro dos EUA também pode desaparecer?
A regra Volcker exime os títulos do Tesouro dos EUA de suas restrições. A posse desses títulos pelos bancos se multiplicou por oito desde 2007, segundo dados da Federal Deposit Insurance Corp. Quando os formadores de mercado não vendem títulos do Tesouro dos EUA rapidamente porque os preços estão em alta, não se trata de liquidez, segundo Tchir. Tem mais a ver com o fato de os negociantes estarem tentando evitar prejuízos que eles provavelmente teriam se precisassem voltar atrás e comprar a um preço mais alto depois.
4) Em algum momento existiu realmente mais liquidez?
O estoque de títulos de dívida corporativa dos “dealers” primários recuou para US$ 38 bilhões neste mês, contra um pico de US$ 285 bilhões em 2007, segundo dados do Fed de Nova York. Essa situação é mencionada, algumas vezes, como prova da importância comercial reduzida dos bancos de Wall Street.
Contudo, mesmo quando os bancos tinham um estoque sete vezes maior, eles não conseguiam oferecer liquidez em mercados de bônus corporativos quando surgiu a crise de 2008. A falta de liquidez – medida pelo tempo que levaria para vender todos os títulos em aberto em transações diárias – chegou a um pico de 550 dias no final de 2008, segundo dados compilados pelo analista Chase Van Der Rhoer, da Bloomberg Briefs. Desde 2010, flutuou entre 300 e 425 dias. Essa é uma liquidez muito melhor do que a do auge da crise.
“A ideia de que há uma espécie de era dourada da liquidez, de liquidez não ilusória, para a qual deveríamos tentar voltar, me causou muitos problemas”, disse o vice-presidente do Banco da Inglaterra, Jon Cunliffe, em uma conferência em Washington.
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