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Morgan carrega papéis do banco Cruzeiro do Sul e dor de cabeça

O banco americano Morgan Stanley carrega uma perda, um arranhão em sua imagem e muita dor de cabeça por conta da operação que fez com ações do Banco Cruzeiro do Sul duas semanas antes da intervenção do Banco Central na instituição, em 4 de junho.

Em 18 de maio, os controladores do Cruzeiro, Luis Felippe e Luis Octavio Indio da Costa, pai e filho, venderam em leilão na bolsa quase 9 milhões de ações do banco, a um valor de R$ 115 milhões. A operação foi feita, segundo comunicado ao mercado, para que o Cruzeiro se adequasse ao percentual mínimo de 25% das ações preferenciais disponíveis para negociação no mercado (“free float”). Na ponta compradora estava o fundo Caieiras, com patrimônio de R$ 1,5 bilhão e que gere recursos da tesouraria do Morgan Stanley no Brasil, conforme o Valor revelou em reportagem em 6 de junho.

Acontece que o Morgan não tinha intenção de investir no papel. O banco americano havia fechado um contrato com os controladores que ajudaria o banco a cumprir a exigência de “free float” da bolsa. Ao mesmo tempo em que seu fundo comprou os papéis, o Morgan fez um contrato de venda a termo dos mesmos com os então controladores. Por esse contrato, os Indio da Costa se comprometiam a recomprar as ações no futuro. O risco de variação do valor dos papéis também ficava por conta deles. Para garantir a execução do contrato, a família Indio da Costa investiu num certificado de depósito bancário (CDB) do Morgan recursos provenientes da venda das ações.

O Morgan não comenta a transação. Executivos do banco têm repetido desde então que, se tivessem ideia da intervenção que estava por ocorrer, jamais teriam fechado tal contrato. O episódio expôs a reputação do banco desnecessariamente, envolvendo-o no noticiário da intervenção.

Segundo o Valor apurou, o banco liquidou a operação, ficou com os recursos aplicados no CDB e também com os quase 9 milhões de ações. Carrega um prejuízo porque o valor da garantia não cobria 100% dos R$ 115 milhões gastos na compra dos papéis.

Quanto às ações, hoje elas queimam na mão do banco. Primeiramente, o Morgan tentou convencer o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), responsável pela administração do banco sob intervenção, a recomprar os papéis. O FGC negou o pedido, argumentando que, se até os credores tinham que esperar um desfecho da intervenção, detentores de ações não tinham qualquer direito adicional. Procurado, o FGC não comentou.

A possibilidade de vender essas ações em mercado foi descartada por duas razões: primeiro, porque a liquidez diária é pequena e vender tal lote no pregão seria impossível; segundo, porque a venda das ações exporia ainda mais o banco, que ficaria sujeito a questionamentos sobre sua intenção de auferir algum lucro. Pela cotação de ontem em bolsa, os quase 9 milhões de ações do banco valiam pouco mais de um décimo do valor da transação feita em 18 de maio: R$ 15,7 milhões.

De qualquer forma, com o patrimônio do Cruzeiro negativo em R$ 2,236 bilhões, essas ações só devem ter algum valor daqui em diante na hipótese de o banco ser salvo, ou seja, os credores do Cruzeiro aceitarem a proposta de desconto em suas dívidas e o FGC encontrar um comprador para o banco. Nesse cenário, o Morgan ainda pode enfrentar disputas sobre o direito de propriedade das ações. Pessoas a par do tema consideram que tanto credores quanto os antigos controladores podem reclamar o direito sobre os papéis.

A reportagem deixou recados nas residências de Luis Octavio e Luis Felippe e também no escritório de seu advogado, mas não obteve retorno.

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marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.