Merrill Lynch fecha private banking no Brasil

Durou apenas um ano. As apostas da Merrill Lynch de ter uma operação forte de private banking no Brasil se encerraram ontem. O negócio entrou em operação em novembro do ano passado e já vai fechar as portas.

Segundo o Valor apurou, os cerca de 40 funcionários do escritório de grandes fortunas no Brasil foram comunicados ontem do fim das operações. O segundo passo será o de comunicar os clientes, o que até ontem ainda não havia ocorrido.

À frente do negócio estava Antonio Costa, experiente executivo da área de gestão de recursos e de fortunas, com passagens pelo extinto Banco Garantia, pelo Credit Suisse e pela gestora independente JGP. Costa também deve se desligar do banco americano, junto com os funcionários.

O escritório ainda deve funcionar por mais algum tempo, até todos os negócios e as contas dos clientes serem desativadas ou transferidas para o segmento private de outras instituições financeiras. Esse processo, no entanto, deve ser rápido.

Além do pouco tempo em operação, chama a atenção que, no fim de agosto, ou seja, há três meses, em entrevista ao Valor, a Merrill Lynch reafirmou categoricamente o seu compromisso em manter e expandir a operação de private banking no Brasil.

“Nossa volta ao Brasil é estratégica, queremos estar entre os três principais relacionamentos dos clientes”, disse na época Sonia Dula, responsável pelo segmento de private banking da Merrill Lynch na América Latina. “Apostamos no Brasil, por isso queremos ter uma estrutura local adaptada aos padrões regulatórios do país”, afirmou Sonia.

A decisão do banco de fechar o escritório deixou o segmento de private banking bastante surpreso exatamente pelo ânimo que a Merrill Lynch demonstrava recentemente. O Bank of America, que comprou a Merrill Lynch durante a crise de 2008, já se instalou no Brasil em dois momentos diferentes, em ambos os casos com atuação no segmento de private banking.

Apesar de o braço de private do banco ter entrado em operação em novembro do ano passado, ele começou a ser montado há dois anos. Embora estivesse em crescimento, o negócio não tinha volume suficiente para tornar a atividade lucrativa.

A competição nessa área de grandes fortunas é feroz, com taxas de administração pequenas. As operações dos bancos estrangeiros também competem com as instituições financeiras nacionais, que têm uma atuação muito forte na área de concessão de crédito a empresas, o que traz uma vantagem competitiva na captação de novos clientes para o segmento private. Em muitos bancos, inclusive, as áreas de private e corporate atuam em parceria, dada a complementariedade das operações.

Para ter escala, uma opção dos bancos estrangeiros é comprar alguma instituição que seja grande na área de private, como foi o caso do Credit Suisse com a gestora Hedging-Griffo.

A continuidade da operação da Merrill Lynch seria uma aposta de longo prazo do banco americano e, no atual cenário de crise, em que os bancos têm sido duramente afetados, a regra é ser lucrativo e focar na atividade principal.

Procurado, o banco confirmou a desativação do negócio e informou que “após estudos, foi tomada a decisão de concentrar a atuação nas linhas de negócios em que o banco é competitivo no mercado local, como banco de investimento e banco de atacado”.

Fonte: Daniele Camba e Vanessa Adachi | Valor Economico