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Investigação expõe manipulação da Libor por bancos

Quando surgiu em março de 2011 a notícia de que grandes bancos dos Estados Unidos e Europa estavam sendo investigados por suspeitas de manipulação de uma taxa global de empréstimo fundamental, as autoridades reguladoras pareciam estar se concentrando em um dos mais persistentes rumores da crise financeira.

Durante anos, analistas, acadêmicos e banqueiros acreditaram que, com a possibilidade iminente de um colapso bancário no fim de 2007 e 2008, algumas das instituições mais fracas tentaram ocultar o fato de que estavam tendo que pagar mais para tomar dinheiro emprestado de outros bancos.

Autoridades reguladoras e promotores dos Estados Unidos queriam saber se os bancos estavam subestimando suas propostas diárias aos quadros que estabelecem a taxa referencial de juro que os bancos cobram para emprestar dinheiro uns aos outros, conhecida como Taxa Interbancária de Londres, a Libor. O processo de definição da Libor é público e atentamente observado, de modo que um banco que interpõe uma estimativa de taxa relativamente alta pode deixar os investidores preocupados com sua solidez.

Há muito os críticos alegam que o processo de fixação da taxa carece de transparência e está sujeito a abusos se bancos tentarem coordenar suas submissões.

Autoridades reguladoras do Reino Unido, Japão e União Europeia logo se juntaram à investigação para descobrir se os bancos haviam atuado em conluio na apresentação de suas propostas. O que elas começaram a descobrir incluiu um padrão de comportamento separado e igualmente problemático, segundo mais de uma dezena de autoridades, advogados e banqueiros graduados a par da investigação.

Informações encaminhadas a autoridades reguladoras nacionais sugerem que, de Tóquio a Londres, certos operadores de diferentes bancos pareciam estar tentando influenciar a movimentação da Libor e taxas referenciais parecidas, com o objetivo de lucrar com os derivativos conectados às taxas.

“Este é mais um exemplo da corrupção que vem se infiltrando lentamente no setor”, diz um profissional experiente. “Quanto tempo mais ele poderá aguentar?”

No caso de vários bancos, como o Barclays, o UBS e o Citigroup, eles chegaram por conta própria às autoridades com informações sobre potenciais abusos no processo de fixação da taxa, após descobrirem evidências em trocas de e-mails no curso de suas investigações internas, segundo informam pessoas familiarizadas com o caso.

Mais de uma dezena de funcionários já foi demitida ou suspensa em bancos como o Citigroup, UBS, Royal Bank of Scotland  (RBS), J.P. Morgan Chase e Deutsche Bank, na medida em que a investigação ganha força.

No Reino Unido, a Financial Services Authority (FSA) já mobilizou oito equipes de investigadores e está se concentrando e um grupo de bancos que lhe despertaram a atenção ou tiveram problemas de enquadramento no passado. Essas equipes estão usando personagens do cinema para dar nome aos projetos. Os Três Patetas é um deles.

Nos últimos meses, funcionários responsáveis pela aplicação das leis nos EUA, Reino Unido e Europa ampliaram suas investigações para os fundos de hedge que fizeram grandes apostas na movimentação da Libor e outras taxas referenciais, e para as corretoras interdealer que atuaram como intermediárias entre os bancos.

A Icap, a maior corretora interdealer do mundo, suspendeu um funcionário e colocou outros dois sob licença nas últimas seis semanas. A Icap, comandada por Michael Spencer, um dos principais captadores de fundos para o Partido Conservador do Reino Unido, disse apenas que está “cooperando totalmente” com as autoridades. Os investigadores também solicitaram informações a outras duas corretoras interdealers, a Tullett Prebon e a RP Martin.

As autoridades estão agora seguindo três linhas de investigação em um processo que está se espalhando cada vez mais: se as propostas de taxa foram subestimadas durante a crise; se os operadores dos bancos e os fundos de hedge tentaram influenciar as pessoas que estabelecem as taxas para ganhar dinheiro com derivativos de juros; e se operadoras podem ter tomado conhecimento antecipadamente sobre as direções que as taxas iriam seguir.

Alguns dos problemas mais graves descobertos no UBS e Citigroup, que receberam sanções civis em dezembro das autoridades reguladoras japonesas, por causa de tentativas de ex-funcionários de influenciar taxas referenciais como a de Tóquio, conhecida como Tibor, e a taxa de Londres para o iene, para melhorar os resultados de suas transações.

As autoridades japonesas não revelaram os nomes dos indivíduos envolvidos nessas sanções. Mas fontes familiarizadas com o caso identificaram Thomas Hayes, um ex-operador de produtos relacionados ao iene nos dois bancos em Tóquio, e Christopher Cecere, seu ex-gerente no Citigroup, como os funcionários identificados na ação fiscalizadora japonesa.

Funcionários graduados do Citigroup disseram que suas tentativas de influenciar o estabelecimento das taxas referenciais foram descobertas quando outro funcionário do banco “denunciou” o caso internamente. Na sexta-feira, o Citi foi forçado a fazer uma amortização de US$ 50 milhões por conta do episódio. Hayes e Cecere foram acusados de fazer repetidos pedidos de mudança nas cotações que o Citi ou outros bancos estavam submetendo.

Pessoas a par do caso afirmam que o Citi, que nos últimos anos foi penalizado várias vezes por causa de outros problemas no Japão, ficou atordoado com a investigação. Hayes foi trazido do UBS como um “astro” que iria ajudar a revitalizar os negócios de operações com títulos em Tóquio, afirmam as fontes.

“Esse cara deveria ter uma poção mágica”, diz um executivo do Citi. Depois que Hayes e Cecere deixaram o banco, porém, o Citi desfez sua carteira de negócios com títulos com uma perda, segundo várias fontes familiarizadas com a investigação. Cecere, que hoje trabalha em Genebra para o fundo de hedge Brevan Howard, um dos maiores do mundo em ativos sob administração, não quis falar sobre o caso. Hayes não foi encontrado para comentar.

Mas várias instituições estão enfrentando alegações de que ex e atuais operadores teriam tentado manipular as taxas referenciais com a finalidade de obter lucro.

O UBS, à parte a sanção japonesa, já conseguiu uma imunidade parcial das autoridades reguladoras da competição nos EUA e na Suíça, em relação as apresentações de propostas para algumas taxas de juros referenciais, após revelar informações que descobriu no curso de uma investigação interna.

Segundo fontes a par das investigações, o britânico Barclays também encaminhou informações para autoridades reguladoras europeias após descobrir que um de seus ex-operadores esteve envolvido em tentativas de influenciar a definição da Euribor, a taxa pela qual os bancos emprestam euros uns aos outros, entre os definidores da taxa de outros bancos.

O RBS está sendo processado por um ex-funcionário de Cingapura que ele demitiu no ano passado por suposta tentativa de influenciar as taxas da Libor. De um modo mais explosivo, Tan Chi Min, que o RBS demitiu por “má-conduta repulsiva”, vem alegando em documentos encaminhados à justiça que era prática comum no banco os clientes submeterem reivindicações para certas propostas de taxa para a Libor, para tentar maximizar seus próprios lucros.

O RBS, que também demitiu ou suspendeu outros funcionários por suas ligações com a investigação, nega as afirmações de Tan e contesta o caso em Cingapura.

Até agora, as autoridades japonesas foram as únicas que adotaram sanções de fiscalização. Mas poucos acreditam que elas serão as últimas. (Tradução de Mario Zamarian)

Fonte: Megan Murphy, Brooke Masters e Caroline Binham | Financial Times, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.