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‘Grande demais para quebrar’ tornou-se um conceito vago

Dois anos atrás, se você tivesse perguntado se a instituição comercial de crédito CIT era grande demais para falir, a resposta teria sido um enfático “não”. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos tinha recusado seu mais recente pedido de socorro financeiro. Em novembro de 2009, depois de 101 anos em operação, o CIT pediu recuperação judicial.

Se você formulasse a mesma pergunta sobre o CIT hoje, no entanto, e a melhor resposta seria: ninguém sabe.

No mês passado as autoridades reguladoras do setor bancário dos Estados Unidos aprovaram novas normas que vão agraciar todas as empresas mantenedoras de bancos com mais de US$ 50 bilhões em ativos, na qualidade de instituições financeiras sistemicamente importantes, com base na média dos ativos totais que detinham nos seus quatro últimos trimestres. Para o CIT, que saiu do regime de recuperação judicial em dezembro de 2009, esse montante equivalia a US$ 50,7 bilhões em dados de 30 de junho.

Ninguém sabe ao certo o que exatamente essa nova designação significa – só sabe que, pelo menos no papel, é mais provável agora do que era dois anos atrás que as autoridades reguladoras intervenham para estabilizar um CIT em colapso. De alguma maneira, aos olhos do governo, o CIT é mais importante para o sistema financeiro hoje do que era quando veio abaixo, embora tenha cerca de US$ 20 bilhões menos em ativos.

A recém-descoberta incerteza também tem uma contrapartida. Não muito tempo atrás teria sido bastante impensável afirmar que o American International Group (AIG) e o Ally Financial não contam com apoio integral do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. (O Ally é o banco conhecido anteriormente como GMAC, que no passado era o braço financeiro da General Motors.) O governo socorreu-as várias vezes e continua sendo o controlador majoritário de ambas as empresas. Mas ultimamente o preço de seus bônus despencou.

Os US$ 800 milhões de notas da AIG a 4,875% com vencimento em setembro de 2016 estavam sendo negociadas nesta semana por cerca de US$ 0,92 por dólar de valor de face, valor inferior ao US$ 0,99 com que trocaram de mãos quando a AIG emitiu bônus, no mês passado. Se os investidores estivessem plenamente confiantes de que o governo bancaria a dívida da AIG, não exigiriam um rendimento anual de 6,7%, comparativamente ao de 0,9% pago pelos bônus do Tesouro dos Estados Unidos por empréstimo da mesma duração. Os US$ 2 bilhões do Ally em bônus de 8% com vencimento em novembro de 2031 alcançaram US$ 0,85 por dólar de valor de face, por um rendimento de 9,7%, em relação aos 110 centavos de dólar obtidos em julho.

O que está havendo? Uma possível explicação é que o governo continua enviando sinais confusos sobre suas intenções, principalmente porque não tem a menor ideia de quais sejam elas. A Lei Federal Dodd-Frank aprovada pelo Congresso no ano passado proíbe injeções de capital do tipo das que vimos durante a implementação do Programa de Ajuda a Ativos Problemáticos (Tarp, pelas iniciais em inglês), de US$ 700 bilhões. Mas não põe fim às operações de salvamento financeiro sustentadas pelo contribuinte.

Pense no plano de liquidação delineado na lei Dodd-Frank para desarticular um banco sistemicamente importante. A lei permitiria que a Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, pelas iniciais em inglês), o órgão garantidor dos depósitos bancários dos EUA, tomasse empréstimos do Tesouro para financiar as operações de uma empresa por até cinco anos, protegendo os detentores de bônus e as contrapartes dos prejuízos imediatos, como uma maneira de promover a tranquilidade e evitar corridas aos bancos. Pôr o CIT na lista dos importantes transmitiria aos credores a ideia de que eles poderiam se defrontar com a indisponibilidade de proteções especiais no caso da maioria das outras empresas.

Ao mesmo tempo, a reação da opinião pública contra qualquer tipo de operação de socorro financeiro do governo pareceria torná-las menos prováveis do que três anos atrás. A probabilidade de que o Congresso aprove o Tarp II parece pequena enquanto os republicanos controlarem a Câmara dos Deputados.

Não surpreende, portanto, que os investidores foram tomados de pânico com relação às ações ordinárias das maiores empresas financeiras americanas, como o Bank of America, o Citigroup e o Morgan Stanley, que estão sendo negociadas por muito menos do que o valor de seus ativos líquidos declarado por suas demonstrações de resultados. Se a AIG não obtiver uma inabalável rede de segurança federal, talvez essas outras empresas não a obterão também. Ninguém sabe com certeza.

Por seu lado, a ideia de que o CIT poderia representar uma legítima ameaça ao sistema financeiro parece tão pouco realista quanto a ideia de que os Estados Unidos poderiam deixar o Bank of America, o Citigroup ou o Morgan Stanley falir. Idem com relação ao Ally, com seus US$ 179 bilhões em ativos, o que o torna um anão comparativamente ao Bank of America, dono de US$ 2,3 trilhões em ativos. Mas a lei Dodd-Frank nos diz que nenhum banco é à prova de falência hoje em dia, supondo que o Congresso não mude de ideia – coisa que poderia acontecer, como aconteceu em 2008.

Para a maior parte dos governos europeus, a pergunta sobre se eles salvariam os maiores bancos de seus países diante da crise da dívida da região depende, principalmente, da possibilidade de eles terem os meios para fazê-lo. Há pouca dúvida de que a França faria isso se pudesse, por exemplo. Nos Estados Unidos, a questão é mais sobre se o governo tem vontade política para isso.

Pelo desempenho mantido atualmente pelas bolsas, poderemos descobrir as respostas antes do que todos gostaríamos.

Jonathan Weil é colunista da Bloomberg News. As opiniões expressas neste artigo refletem unicamente os pontos de vista do autor.

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.