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Fraude contábil: de quem é a culpa?

Riscos 5Mais uma vez a mídia é bombardeada com notícias, artigos e entrevistas sobre os motivos da fraude. Quem errou? Como poderia ter acontecido? E agora, como fica a credibilidade dos envolvidos? A auditoria poderia ter evitado o problema?

Casos do Barings, Enron, Worldcom, Arthur Andersen, da indiana Satyam Computer Service ou do Fundo Americano Madoff, entre outras empresas, nos forneceram subsídios, através de exemplos práticos, de como não gerir uma empresa e de como a fraude pode ser praticada.

O importante deste momento, no entanto, e que não me canso de repetir, é que precisamos fazer mudanças, sejam por meio do Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Conselho Federal de Contabilidade (CFC), IBRACON, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e quem mais puder auxiliar neste momento tão triste e marcante na história financeira do país.

Será que as melhores práticas de controles contábeis e/ou internos não existem? E mais uma vez podemos afirmar que se a índole das pessoas fosse no mínimo dentro do esperado, não haveria necessidade de tantos controles, pois seriam apenas para evitar erros, pois as fraudes seriam raríssimas.

Nos últimos dias ouvi e li muito sobre o fato ocorrido no PanAmericano, e ainda me recordo de alguns meses atrás reportagens afirmando que a nova contabilidade brasileira (IFRS) evitaria fraudes, que as melhores práticas de governança corporativa fortaleceriam as empresas, que os processos de auditoria agora seriam mais robustos. Me pergunto: e agora? O que fazer com esta perda de credibilidade?

Os contadores necessitam recordar do juramento no dia da formatura, e sem contar no dia do recebimento de determinado número do Conselho Regional de Contabilidade (CRC) e dos dois livros – um sobre ética na profissão. As auditorias necessitam fortalecer seus colaboradores com conhecimento e não podem mais se esconder atrás das cartas de conforto (em inglês: Confort letters) exigidas da alta administração das empresas ao fim de um trabalho, como forma de evidenciar que só auditou aquilo que a empresa forneceu a elas. Os controladores não devem somente pensar no resultado, mas entender como ele foi formado. Os conselheiros devem buscar formas de obter mais informações de operações de grande monta, contratos, relatórios e, quando tiver uma dúvida, pedir a alguém gabaritado para explicar. A obrigação de afinar a função de fiscalização é deles.

Existe uma máxima que os profissionais que mais tempo exercem suas atividades nas empresas são os do financeiro, contabilidade e auditoria. Será que a rotatividade nestas áreas está alta? A sua empresa costuma substituir com frequência estes profissionais? Acredito que vários profissionais são dedicados, honestos, e muitos deles não compartilham com operações fraudulentas. Quantos colegas de profissão conhecemos que já foram demitidos ou dispensados por que identificou fraude ou roubo, mas como a diretoria está envolvida, o caso foi abafado e, por conta disso, ele é que foi afastado das atividades da empresa no dia seguinte.

Devemos elaborar uma taxonomia da atividade que exercermos ou revisamos, pois sem este conhecimento do negócio, da forma como funciona, o perfil dos profissionais envolvidos, das metas e objetivos dos gestores, e através de profissionais mais capacitados, poderemos minimizar as possibilidades de erros e fraudes, pois não basta somente regulamentar mercados e setores da indústria, pois as melhores práticas de controles e governança já existem – mas infelizmente a ausência de índole também.

* Marcos Assi é coordenador do MBA Gestão de Riscos e Compliance da Trevisan Escola de Negócios, professor da FIA e Saint Paul Escola de Negócios, autor do livro “Controles Internos e Cultura Organizacional – como consolidar a confiança na gestão dos negócios” (Saint Paul Editora). É também consultor de Riscos Financeiros e Compliance da DARYUS Consultoria.

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.

4 comentários sobre “Fraude contábil: de quem é a culpa?

  • Ao longo de minha vida aprendi algumas coisas:

    1) “A ocasião faz o ladrão.”. (dito popular)
    2) “Se (sic) alguém quiser te roubar, por mais que voce tente impedí-lo ele irá roubá-lo.”. (dito popular)
    3) “Só vai te trair quem você confia plenamente, pois aqueles em quem você não confia você controla.”. (este eu assumo como meu).

    IMHO:
    Caberá aos controle internos gerar segurança para desmotivar o 1o.
    Caberá a auditoria identificar o 2o.
    Caberá a todos tomar uma postura profissional exigindo veracidade de tudo e todos, como já notamos em todos estes casos, principalmente nos altos escalões.

    Parabéns pela materia, que demonstra seu pensamento, índole e ética profissional.

  • Gilberto Quintanilha Júnior

    Concordo com o comentário do colega, mas em especial, creio que a confiança pode ser um dos problemas, senão o mais grave nesse tipo de situação!!

    Parabéns mesmo pela matéria e que este artigo possa ajudar a chamar a atenção de outros colegas!

    Abraço,

    Gilberto Q. Jr.

  • Olá amigo!

    Parabéns!
    Acredito que sem confiança é muito difícil a convivência, no entanto mesmo confiando, os processos, controles, testes e avaliações de riscos jamais devem ser deixados de lado e, claro, sem esquecer da ética, que é a base de tudo.

    Abraços,

    Ednéa Queiroz

  • Fui aluno do Mestre Assi na Trevisan Escola de Negócios e devo dizer que, especialmente agora, depois de tantos escândalos deveremos fortalecer a cultura dos Controles Internos nas organizações, só assim estas se tornarão confiáveis para seus acionistas. Parabéns Assi.

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