Fitch diz que é impossível medir efeitos da Lava-Jato sobre o sistema financeiro

A agência internacional de classificação de risco Fitch, que recentemente colocou em perspectiva negativa as notas de crédito do sistema bancário brasileiro, avalia que ainda é impossível medir o efeito sobre o sistema financeiro da investigação da Operação Lava-Jato, que apura corrupção na Petrobras.

Com a prisão do ex-presidente do banco BTG Pactual, André Esteves, como parte da operação, a agência disse monitorar diariamente se o impacto foi pontual ou se há riscos de contaminar o resto do sistema. “Não temos indícios sobre o fim da investigação. Um ponto que monitoramos é se ela toma outro rumo ao entrar no setor bancário ou se foi pontual”, disse o diretor responsável pela equipe de Instituições Financeiras no Brasil, Claudio Gallina, em teleconferência realizada nesta quarta-feira (2). “Mensurar o impacto nos bancos [da Lava-Jato] não é simples porque implica assumir premissas que podem fugir muito da realidade”, prosseguiu.

Mesmo afirmando não ter uma dimensão completa da implicação da operação conduzida pela Polícia Federal no sistema financeiro, Gallina informou que a realização da operação também influenciou na manutenção da perspectiva negativa dos bancos, anunciada ontem (1). Essa já é a terceira manutenção da perspectiva, presente desde dezembro de 2013. Segundo o executivo, a Lava-Jato, somada às incertezas presentes na condução da economia brasileira, influenciaram a manutenção da classificação.

BTG Pactual

Sobre a situação do BTG Pactual, Gallina destacou que a agência monitora diariamente a liquidez do banco e se há uma evolução nos saques. “Estamos monitorando se tem saída de recursos muito forte em pouco tempo e se a saída é compensada por outros planos de contingenciamento”, afirmou. Entre esses planos de contingenciamento, está a venda de ativos, como a Rede D’Or São Luiz, cuja venda para o fundo soberano da Cingapura por R$ 2,38 bilhões foi anunciada nesta quarta-feira.

Gallina ponderou, no entanto, que o perfil de crédito do banco ajuda a atual situação, já que a instituição não tem foco no crédito de varejo e sim em empresas. “O BTG é um banco que tem o funding no atacado e temos monitorado como os depositantes tem percebido essa movimentação no banco e se vai ter de fato retirada de dinheiro”, avaliou. “Por ser de atacado, tem muitas empresas que tem análise de crédito, de governança e análise interna e pode não ser um efeito tão imediato”, completou.

De acordo com Gallina, a Fitch está analisando ainda como o banco será no futuro e que saída ele dará para os movimentos mais recentes.

Em novembro, a Fitch colocou o banco em observação negativa por causa da prisão de André Esteves. Essa classificação significa que a agência pode revisar em até seis meses o rating de crédito do banco. “Essa decisão pode ser tomada em uma semana ou em cinco meses, não há um prazo e também não há impedimento para que a gente renove a observação negativa”, afirmou.

Nesta quarta-feira, o BTG informou ao mercado que Esteves já não tem mais o controle da instituição. Segundo o comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o ex-presidente fez uma permuta de ações para o grupo de sete sócios e administradores do banco, que assumem agora o comando do BTG Pactual.

Fonte: Fato Online