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Finanças pessoais: Conta conjunta, boa para o bolso, ruim para o casamento

Dividir o espaço, a pasta de dente, as contas a pagar, são opções feitas por duas pessoas ao decidir pelo casamento. Apesar de pouco discutida, outra escolha – a de compartilhar ou não a conta bancária – pode criar um barril de pólvora em um relacionamento. Do ponto de vista racional, as vantagens são evidentes. “A maior delas é o custo, que passa a ser um só, além da segurança de poder movimentar a conta em caso de morte ou acidente com o cônjuge”, diz Keyler Rocha, professor do Laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Para duas pessoas que já tinham contas separadas, transformar uma delas em conjunta e encerrar a outra é uma oportunidade para passar a pagar uma única tarifa. No caso em que os bancos são diferentes, há ainda a vantagem de evitar custos com transferências de recursos.

A maior dificuldade em caso de contas separadas pode vir a tona justamente em momentos extremos e dolorosos, como os casos de uma morte ou doença. Se um dos dois falecer, o outro fica incapacitado de movimentar seus recursos até que seja feito o inventário, que vai detalhar a transferência de bens e direitos aos herdeiros.

Rocha lembra que, no caso de falecimento, não adianta ter um documento que autoriza o parceiro a movimentar a conta se esta for individual. “A procuração perde imediatamente o valor em caso de morte e seu uso pode figurar crime de falsidade ideológica”, diz.

Do ponto de vista jurídico, há um caso em que ter a conta conjunta pode ser um problema – quando um dos cônjuges tem a conta penhorada por algum problema judicial. Roberto Justo, sócio do escritório Choaib, Paiva e Justo Advogados, lembra que, ainda que seja possível diferenciar os recursos de um e outro, o cônjuge pode ter que aguardar o processo judicial para movimentar a conta corrente.

Pensar, entretanto, que contas separadas protegem o patrimônio individual em caso de divórcio é um equívoco. “Achar que porque a conta está no meu nome ele não vai ter direito a nada é bobagem. Tudo vai depender do regime conjugal”, diz Maria Paula Boyadjian, professora da Contmatic Phoenix. Se a opção não for pela separação total de bens, recursos da conta do parceiro podem entrar na partilha.

Do ponto de vista racional, portanto, a maioria dos caminhos leva à conta conjunta. Já quando aspectos emocionais entram na análise, o debate se acirra. “Na relação amorosa, nem sempre o mais barato é o melhor. Pode ser que o barato saia caro”, diz a terapeuta Cleide Bartholi Guimarães, autora do livro “Até que o dinheiro nos separe”. A obra teve como base sua dissertação de mestrado, defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Em uma pesquisa com casais jovens, em que os cônjuges tinham entre 25 e 35 anos, Cleide concluiu que as contas individuais trazem um senso de autonomia que faz bem à relação afetiva. “Se fosse sugerir algo que pudesse trazer equilíbrio seria uma conta conjunta e duas contas individuais, mesmo que sejam pagas as benditas tarifas extras”, diz a terapeuta.

A proposta de Cleide, com base no estudo, é que a conta conjunta seja usada para pagar as despesas comuns. A entrada de recursos deve usar o princípio da equidade, em que a participação no pagamento de contas é proporcional aos rendimentos de cada um. O resto do dinheiro fica nas contas individuais, para ser usado de acordo com desejos particulares.

O problema de só ter uma conta conjunta, segundo Cleide, é que o dinheiro não perde a diferenciação de origem somente porque está misturado. “Há de certa maneira uma etiqueta psicológica de identificação. Cada um sabe o que é seu. O que acha que vai pensar aquele que depositou mais?”, questiona a terapeuta. Provavelmente vai pensar que pode gastar mais.

Uma conta conjunta que concentra todas as receitas e despesas do casal pode dar certo quando homem e mulher conversam sobre dinheiro e têm formas semelhantes de lidar com ele, diz Cleide. Isso com frequência não é verdade, já que cada um carrega um histórico diferente, muito influenciado pela forma como os próprios pais administravam as finanças, diz ela.

“Imagine uma conta conjunta em uma relação em que um dos dois é comprador compulsivo e leva o outro a perder o direito ao uso de cheques ou ao cartão de crédito”. Essa relação explosiva é tema da tese de doutorado da terapeuta, que está em produção no momento. O estudo também deve virar um livro, ainda sem previsão para ser lançado.

A histórica relação de poder em que a falta de recursos próprios submete as mulheres aos homens perde força com a entrada delas no mercado de trabalho. Com essa mudança, o debate sobre contas conjuntas também ganha novos contornos. “Agora são as mulheres que estão em ascendência em sua carreira que querem autonomia total para suas contas”, diz Cleide.

A terapeuta relata que já há casos em que as novas executivas decidem criar uma conta conjunta e entregar a administração dela ao marido para dar a ele um senso de poder. Isso para evitar que o peso da cultura de homem provedor prejudique a relação, conta Cleide. “Novo e velho convivem. É preciso ter cuidado para não criar a mesma relação de quando eles eram donos do dinheiro e ninguém punha a mão”.

Fonte: Luciana Seabra, Valor Economico

marcos

Professor, Embaixador e Comendador MSc. Marcos Assi, CCO, CRISC, ISFS – Sócio-Diretor da MASSI Consultoria e Treinamento Ltda – especializada em Governança Corporativa, Compliance, Gestão de Riscos, Controles Internos, Mapeamento de processos, Segurança da Informação e Auditoria Interna. Empresa especializada no atendimento de Cooperativas de Crédito e habilitado pelo SESCOOP no Brasil todo para consultoria e Treinamento. Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC-SP, Bacharel em Ciências Contábeis pela FMU, com Pós-Graduação em Auditoria Interna e Perícia pela FECAP, Certified Compliance Officer – CCO pelo GAFM, Certified in Risk and Information Systems Control – CRISC pelo ISACA e Information Security Foundation – ISFS pelo EXIN.