FGC escapa de deságio do Cruzeiro do Sul
Dono de R$ 793 milhões em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) do Cruzeiro do Sul, o Fundo Garantidor de Créditos vai escapar do deságio que os investidores do banco podem sofrer em seus títulos se aceitarem o plano de reestruturação do banco. O Cruzeiro do Sul está sob intervenção desde 4 de junho, quando passou a ser gerido pelo FGC.
Isso vai acontecer porque, para se proteger de eventuais problemas com o banco, o FGC só aceitou dar “funding” para o banco mediante a entrega de garantias. Por isso esses papéis detidos pelo FGC estão assegurados por carteiras de crédito. Ainda em 2008, o fundo fechou as primeiras operações de liquidez com diversos bancos – entre eles o Cruzeiro – por meio da aquisição de carteiras de crédito e de CDBs garantidos.
Como forma de encontrar uma saída para o banco, o fundo propôs aos credores do Cruzeiro comprar CDBs e bônus no exterior detidos por eles com um desconto de 49,3% no valor de face.
Por isso alguns investidores têm questionado o FGC em relação a essa condição “privilegiada” que o fundo impôs a ele mesmo. Segundo o Valor apurou, a explicação que o FGC tem dado aos aplicadores é justamente o fato de seus papéis possuírem garantia. Dentro do plano de reestruturação, o FGC não impôs perdas a investidores que tivessem papéis garantidos, já que em caso de quebra do banco, esses aplicadores podem receber de volta até 100% do dinheiro. Seguindo essa lógica, o fundo também se excluiu do deságio.
Em diversos momentos, o FGC atuou como fonte de liquidez para o banco Cruzeiro do Sul. A mais recente transação ocorreu no fim do ano passado, quando o FGC montou um fundo de recebíveis que poderia comprar até R$ 3 bilhões em operações de crédito do Cruzeiro até 2013. Porém, por causa da intervenção decretada pelo Banco Central, o FGC adquiriu R$ 651 milhões.
Já os CDBs garantidos que vão ficar de fora do plano de reestruturação do banco são operações mais antigas, que tiveram início em 2008. Outros bancos também fecharam operações semelhantes naquele momento.
Desde a intervenção, porém, a exposição do FGC ao Cruzeiro do Sul por meio de CDBs cresceu. Isso porque para continuar em operação, concedendo crédito, o banco precisa de “funding”, que vem sendo provido pelo FGC.
No prospecto da oferta de compra dos bônus no exterior do Cruzeiro do Sul, o FGC diz que em 4 de junho, data da intervenção, possuía R$ 567,6 milhões. Até setembro, esse montante vai aumentar para R$ 793,3 milhões. O Valor apurou que esse crescimento se deve ao funding que o FGC deu ao banco no período, mais a atualização dos papéis com juros.
Mesmo escapando do deságio que os demais credores vão sofrer, o FGC vai arcar com parte da conta dos problemas enfrentados pelo Cruzeiro do Sul com a descoberta de supostos créditos falsos em sua carteira. O fundo vai cobrir 100% dos Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs), o que dá R$ 1,95 bilhão. Até o limite de R$ 20 milhões por aplicador, esses títulos são garantidos pelo FGC. Além disso, o fundo vai ter de desembolsar R$ 1,5 bilhão para comprar os papéis dos demais credores. Se o banco for comprado, o FGC receberá ao longo dos próximos anos o valor aplicado.
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