FGC conclui que rombo do Cruzeiro do Sul é de R$ 3,1 bi
O presidente do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), Celso Antunes, disse que o rombo no Banco Cruzeiro do Sul chegou a R$ 3,1 bilhões. O patrimônio líquido, após ajustes, ficou negativo em R$ 2,23 bilhões.
Em coletiva à imprensa realizada em São Paulo na noite desta terça-feira, o presidente do FGC informou que essa diferença será “socializada” entre credores locais e externos e o FGC. Segundo Antunes, o FGC fará proposta aos credores locais e externos para recompra desses títulos com um deságio médio de 49,3%. Os credores externos têm R$ 3,3 bilhões em papéis do banco, enquanto os credores locais, R$ 430 milhões. O FGC cobrirá o passivo relativo a linha DPGE e depósitos de até R$ 70 mil.
Em 4 de junho, o Banco Central decretou regime de administração especial temporária para o Cruzeiro do Sul.
A proposta de compra título do Cruzeiro do Sul pelo FGC, com a aplicação de deságio médio de 49,3%, considera o prazo de maturação de cada uma das séries das emissões, sua participação relativa no passivo do Cruzeiro do Sul e sua senioridade.
O FGC contratou os Bancos HSBC e Bank of America Merrill Lynch como coordenadores da operação. Para a finalização da oferta existem duas condições cumulativas: a adesão de no mínimo 90% dos valores dos papéis objeto das ofertas e a obtenção de proposta firme de compra do controle da instituição por parte de outra instituição já autorizada a funcionar no mercado pelo Banco Central. Caso qualquer das condições não seja cumprida, a operação será automaticamente cancelada, situação na qual o FGC recomendará ao Banco Central a imediata liquidação extrajudicial da instituição.
A oferta tem prazo de encerramento previsto para o dia 12 de setembro. O FGC está ofertando também a possibilidade de aquisição do controle acionário do banco às instituições ou conglomerados financeiros já em funcionamento no pais e que preencham determinados requisitos.
Dessa forma, a soma dos deságios aplicados a todos os credores, caso se obtenha sucesso nas operações, será de valor equivalente ao patrimônio líquido negativo apurado no balanço especial de abertura, ou seja, R$ 2,236 bilhões, a ser acrescido dos custos incorridos na operação.
Assim, diz o FGC, o ônus pela eliminação do patrimônio liquido negativo será equitativamente distribuído entre credores externos, credores internos não garantidos ou garantidos parcialmente e o fundo.
Fonte: Cynthia Decloedt, da Agência Estado
Sob intervenção, Cruzeiro do Sul vai leiloar seus helicópteros
Banco Cruzeiro do Sul, sob intervenção do Banco Central (BC) desde o início de junho, não tinha apenas fraudes e problemas patrimoniais. Tinha também três helicópteros, que irão a leilão na tarde desta quinta-feira, em São Paulo, com lance mínimo inicial total de R$ 35,45 milhões.
Se as aeronaves forem mesmo vendidas, o dinheiro será usado para abater um pedaço do rombo da instituição, da ordem de R$ 2,5 bilhões. Os helicópteros eram usados pelo Índio da Costa, que controlavam o banco, mas estavam em nome do Cruzeiro do Sul.
São dois Eurocopter EC 145, com capacidade para oito passageiros e dois tripulantes. Um deles foi fabricado em 2009 e tem 650 horas de voo e o outro, de 2010, tem 301 horas. Para cada um deles, o lance mínimo inicial é o mesmo: R$ 16,1 milhões.
A outra aeronave é um Esquilo B2, também da Eurocopter, fabricado em 1998, com 2287 horas de voo e seis lugares. O valor inicial é R$ 3,25 milhões.
O leilão já está aberto para lances via internet e, segundo funcionários do leiloeiro Mauro Zukerman, passará à fase presencial às 15 horas de amanhã. Se os helicópteros forem arrematados, os pagamentos terão de ser feitos à vista.
O leiloeiro receberá comissão de 5% sobre o valor total e os lances terão de ser feitos de R$ 10 mil em R$ 10 mil. Até ontem, nenhum lance havia sido registrado no site da casa de leilão.
Luís Octávio Índio da Costa, que comandava o banco ao lado do pai, Luís Felippe, era conhecido por uma vida social intensa. Gostava de badalação, namorou modelos conhecidas, como Daniela Cicarelli, e aplicou o mesmo estilo no marketing do banco. Quando o Cruzeiro do Sul completou 15 anos sob administração da família, trouxe os cantores Tony Bennett e Elton John para se apresentar para amigos e clientes em shows realizados na capital paulista.
O banco está sob Regime de Administração Especial Temporária (Raet), decretado pelo BC, desde 4 de junho. Os bens dos controladores ficaram indisponíveis e a instituição passou a ser administrada pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) – entidade criada em 1995 pelos bancos para proteger os depósitos dos correntistas caso algum dos associados venha a quebrar.
Procurado pela reportagem, Luís Octavio Índio da Costa não quis se pronunciar. A atual administração do banco também preferiu não comentar as informações do leilão.
Balanço
Quando o BC decretou a intervenção, seus auditores estimaram um rombo de R$ 1,3 bilhão nas contas do Cruzeiro do Sul. Avaliações mais completas realizadas na sequência já mostraram que o buraco vai chegar à casa dos R$ 2,5 bilhões, como antecipou o Estado há três semanas. A maior parte do problema é explicada por fraudes contábeis que teriam sido cometidas pelos antigos controladores.
O FGC está terminando a auditoria no banco e deve divulgar os números finais na próxima terça-feira, depois do fechamento do mercado financeiro. O banco tem ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e títulos de renda fixa negociados no exterior.
A ideia, por enquanto, é que, a partir desse momento, sejam contatados eventuais interessados no banco. Mas, em razão do tamanho do rombo, ainda não está descartada a liquidação pelo BC. Pessoas a par do assunto afirmam que o valor de R$ 2,5 bilhões supera as próprias obrigações do FGC em caso de liquidação (que seriam de R$ 2,2 bilhões) e também está acima da avaliação patrimonial do Cruzeiro do Sul.
Até a intervenção, havia pelo menos um interessado, o BTG Pactual, de André Esteves. Ele chegou a fazer uma oferta pelo Cruzeiro do Sul, que não foi aceita pelo conselho do FGC, formado por representantes dos maiores bancos do País.
Fonte: David Friedlander e Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo