Fato da Semana: E o Itaú ri por último
Na primeira semana de julho, o banqueiro Flávio Pentagna Guimarães estava muito perto de vender seu banco, o BMG. Embora houvesse outro pretendente conhecido, o BTG Pactual, a negociação estava bem avançada com o Bradesco. Mas o controlador do banco mineiro ainda tinha dúvidas sobre o preço final da transação. Também temia ter de esperar por muito tempo para receber o valor total. Como em outras aquisições de bancos médios fechadas pelas grandes instituições, a última parcela do pagamento seria vinculada ao desempenho futuro do BMG, já sob novo controle acionário. “Doutor Flávio”, como é mais conhecido, atualmente com mais de 80 anos, já havia rejeitado uma oferta do BTG Pactual porque considerou o preço baixo demais.
A indefinição de Pentagna Guimarães acabou produzindo um desfecho inesperado para a trajetória do banco fundado por seu pai, Antonio, na década de 1930. Trabalhando em silêncio, o Itaú Unibanco, atacou, aos 46 minutos do segundo tempo de jogo. Mais uma vez, foi a ousadia do banqueiro Roberto Setubal, que ao perceber que a negociação do BMG estava na reta final, o levou a ligar pessoalmente para Pentagna Guimarães, com uma sugestão que soou como música aos ouvidos do patriarca da tradicional família mineira: ele não precisaria abrir mão inteiramente do banco. O Itaú assumiria apenas as operações daqui para a frente. Segundo uma fonte próxima à família, Setubal convidou Flávio e o filho Ricardo, que preside o BMG, para viajar a São Paulo, no sábado 7, e negociar.
No fim de semana, as linhas gerais do acordo foram delineadas: seria constituída uma joint venture, na qual o Itaú deteria 70% do capital, ficando os outros 30% para os Pentagna Guimarães. A estrutura do BMG repassaria à instituição 70% dos novos empréstimos gerados. O banco paulista indicaria os principais executivos na nova empresa, mas o BMG continuaria existindo separadamente. Os Pentagna Guimarães fecharam o acordo rapidamente — o contrato foi redigido e assinado na segunda-feira 9, feriado estadual em São Paulo. No dia seguinte, ao anunciar o acordo, na presença de Ricardo, o CEO do BMG, Setubal disse que o modelo escolhido facilitou as negociações. “O formato é muito simples, não exige due diligence, discussões sobre o preço ou garantias”, afirmou.
O banco BMG Itaú, que deve começar a operar até o fim do ano, nasce com patrimônio de R$ 1 bilhão e expectativa de atingir uma carteira de R$ 12 bilhões em empréstimos consignados, até 2015. O Itaú fornecerá R$ 300 milhões mensais ao BMG pelo prazo de cinco anos. A flexibilidade de Setubal como negociador já lhe rendera frutos anteriormente — o mais notável, a fusão com o cobiçadíssimo Unibanco, foi fechado numa negociação direta entre ele e o banqueiro Pedro Moreira Salles, em 2008, levou o Itaú ao primeiro lugar no ranking dos bancos privados. Há, ainda, vários outros exemplos, como a associação com Fernão Bracher, que controlava o antigo BBA, para criar o que hoje é o banco de investimentos do conglomerado, e com a seguradora Porto Seguro, do empresário Jayme Garfinkel.
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