Escolas de negócios discutem mudanças no currículo do MBA
Neste ano, algumas escolas de negócios internacionais promoveram mudanças nos currículos de seus MBAs. Em Harvard, por exemplo, para obter o diploma os estudantes precisarão desenvolver a partir de agora projetos para empresas fora de seu país de origem. A Columbia, por sua vez, acredita ser necessário preparar os alunos com uma educação mais ampla e, por essa razão, está incluindo temas como processo de decisão e ética nas aulas de todas as matérias de seu MBA.
O movimento de reestruturação desses programas não é uma simples coincidência. Empregadores, reitores e estudantes estão questionando o valor que a educação executiva agrega aos profissionais no ambiente empresarial atual, que passou por grandes mudanças nos últimos anos. As consequências da crise que assola principalmente os países desenvolvidos e a inclusão das questões socioambientais nas estratégias de negócios das grandes companhias são apenas algumas delas.
Para discutir a necessidade de mudança nos currículos, a Advance Collegiate Schools of Business (AACSB), que acredita 633 escolas de 41 países – entre elas a francesa Insead, as espanholas IESE e IE Business School, as americanas Berkeley, Yale, Harvard e Columbia, além das brasileiras FGV e Insper – organizou nesta semana, em Cingapura, o “Redesigning the MBA: A Curriculum Development Symposium” (Redesenhando o MBA: Um Simpósio de Desenvolvimento de Currículo).
O evento, realizado pela segunda vez pela AACSB, teve como objetivo ajudar as escolas de negócios a pensar em questões como propósito, posicionamento e modelo de seus programas.
A primeira edição aconteceu na Flórida, nos Estados Unidos, no começo deste ano e contou com a presença de mais de 200 representantes de escolas de negócios. Na edição de Cingapura foram mais de 100 credenciados.
John Fernandes, presidente e CEO da AACSB, conversou com o Valor sobre os motivos que estão levando as principais escolas de negócios do mundo a repensar seus MBAs. Leia trechos a seguir:
Valor: Por que é importante discutir a reestruturação dos programas de MBA neste momento?
John Fernandes: Um estudo recente dos programas de MBA, intitulado “Rethinking the MBA: Business Education at a Crossroads” (Repensando o MBA: A Educação Executiva numa Encruzilhada), mostra que as organizações administrativas das principais escolas de negócios levantaram questões sobre o valor adicionado oferecido pela educação executiva. Em grande parte, isso está centrado nos currículos dos MBAs. Os empregadores, assim como alguns membros das faculdades, reitores e estudantes, acreditam que o currículo atual dos MBAs está aquém das necessidades dos empregadores. Principalmente no que diz respeito à preparação dos estudantes para administrar as empresas em um contexto global, desenvolver competências de liderança, construir um pensamento crítico e inovador e exercer um julgamento adequado quando é preciso enfrentar dilemas éticos que surgem nas decisões empresariais. A AACSB quer ajudar as escolas de negócios a enfrentar esses desafios, oferecendo um ambiente de discussão sobre o desenvolvimento dos currículos dos MBAs.
Valor: A reestruturação dos currículos dos MBAs tem alguma relação com a atual crise econômica?
Fernandes : Acredito que a primeira motivação para reformar o currículo dos MBAs nas escolas credenciadas pela AACSB é o desejo comum de responder às mudanças de mercado com um preparo adequado dos executivos que estão sendo formados.
Valor: Quais são as principais deficiências na formação dos alunos dos MBAs hoje?
Fernandes : Os estudantes de MBA se tornam líderes de negócios. Mas a educação executiva hoje precisa formar indivíduos que saibam equilibrar seu comprometimento entre a performance financeira da empresa e a responsabilidade socioambiental da companhia – e isso está totalmente relacionado com o fato de tomar decisões éticas. Levando isso para o currículo dos MBAs, os estudantes precisam aprender a lidar com assuntos combinados mais complexos. Esse novo tipo de gestor deve saber como olhar para ambos os pontos de vista com igual importância fora da sala de aula.
Valor: Como as empresas podem preparar melhor os alunos para enfrentar o atual cenário?
Fernandes : Há uma oportunidade para as escolas de negócios oferecerem a seus alunos mais estudos de casos ou simulações que apresentem riscos reais no contexto atual de tomada de decisão. Esse tipo de experiência de aprendizado vai ajudar os estudantes a determinar a melhor ação em uma situação difícil. Dando aos estudantes a oportunidade de vivenciar como fazer o “certo”, as escolas beneficiam não só as empresas, mas a sociedade como um todo.
Fonte: Adriana Fonseca, Valor Economico