Em escândalo moderno, um e-mail é para sempre
Quando Bob Diamond, o presidente-executivo demitido do Barclays Bank, disse ter se sentido “fisicamente doente” ao ler e-mails de seus operadores se vangloriando sobre suas manipulações da taxa de juros, é quase certo que estivesse dizendo a verdade.
O veterano executivo diz que foi só então que descobriu que seus subordinados haviam operado para inflar artificialmente a taxa interbancária londrina, ou Libor. Qualquer que seja a verdade, ele deve ter compreendido que as mensagens gravadas –nas quais os funcionários se gabavam de suas atividades e prometiam celebrar com champanhe– só agravariam o estrago.
Empresas, governos, indivíduos e instituições de todo o mundo estão despertando lentamente para essa mesma compreensão. No século 21, qualquer coisa escrita eletronicamente, mesmo que transmitida de maneira confidencial, pode ser roubada ou revelada sob intimação e prejudicar o autor da mensagem –e outras pessoas–, mesmo que anos mais tarde.
O escândalo do Barclays, que custou a Diamond o seu posto, parece ser apenas a ponta do iceberg.
“O e-mail, o Twitter, as mensagens de texto e todas essas coisas nos parecem, intuitivamente, comunicações efêmeras, de curto prazo –uma palavrinha de passagem, pode-se dizer”, diz John Bassett, antigo dirigente do GCHQ, o serviço britânico de interceptação de comunicações e hoje pesquisador-sênior no Royal United Services Institute, em Londres.
“Mas, tão logo apertamos o botão de envio, essas comunicações se tornam duradouras e permanentes, o que significa que jamais desaparecem de todo”, acrescentou.
Como descobriu o governo norte-americano com as ações do WikiLeaks, grande volume de informações pode ser roubado de uma vez por um usuário de computador capacitado e decidido. Algoritmos e programas de busca sofisticados podem vasculhar milhões de mensagens em segundos, em lugar das semanas que uma equipe de especialistas humanos requereria.
Ou o banco de dados inteiro pode ser divulgado na web ou entregue a jornais e outros veículos de mídia, como fez o WikiLeaks nesta semana com milhares de e-mails do governo sírio, entre os quais mensagens que tratavam de negociações de armas com empresas ocidentais.
O perigo não vem só de hackers ou criminosos. Muitas empresas já tiveram de entregar à Justiça grande volume de documentos eletrônicos.
“Trabalhamos cientes a cada dia de que arquivos de e-mail podem ser solicitados pela Justiça”, diz Kevin Craig, diretor executivo da PLMR (Political Lobbying and Media Relations), de Londres. “Avisamos os clientes de que e-mails são incrivelmente vulneráveis. Se a comunicação não está protegida pela lei (como qualquer troca de informações entre cliente e advogado, por exemplo), é melhor pensar duas vezes antes de se comunicar por escrito.”
Fonte: PETER APPS, Reuters, Folha de S.Paulo